Se você é uma pessoa digital e vive nas redes sociais, é praticamente impossível que ainda não tenha visto alguém reclamando do tempo desde o último lançamento de Rihanna. Neste mês, o último álbum da cantora, o “ANTI“, completa 2 mil dias de lançamento. Isso significa que o afastamento da artista dura mais de 5 anos e, para os fãs, isso parece ser uma eternidade. Um bom indicador dessa saudade que o público sente de novos conteúdos da artista são as inúmeras respostas pedindo por algum lançamento de Rihanna em uma enquete publicada, nesta semana, no Twitter oficial do Tracklist.
Ultimamente, Rihanna tem se destacado por ser a dona de negócios de sucesso em todo o planeta, como uma marca de roupas e maquiagem que tem “recheado” o bolso da artista mesmo sem produzir música.
A Fenty Beauty, marca de cosméticos, é um sucesso. Em 2018, a estimativa da receita da empresa somava mais de 570 milhões de dólares. E essa soberania do trabalho da cantora vai além do lucro e fez parte ativa de uma revolução inclusiva no mercado de beleza. Quando foi lançada, em 2017, a Fenty Beauty contava com mais de 40 cores de base para a pele – abrindo os olhos do mercado para a necessidade de atender todas as pessoas e de todos os tons de pele.
Mesmo em meio a todo esse sucesso e trabalho incansável, Rihanna segue sendo alvo de muita (sério, muita mesmo) pressão e cobrança por algum lançamento. Não é raro encontrar nas redes sociais algum fã de música pop referenciando a dona dos hits “Umbrella” e “Love On The Brain” como “ex-cantora”.
Considerando isso, a reflexão da semana gira em torno de um tópico um tanto quanto polêmico: é legal cobrarmos um artista para acelerar o processo criativo de sua arte?
Quando mergulhamos de cabeça no trabalho de um músico, por exemplo, além de toda a batida e ritmos que nos envolvem e fazem apaixonar, também somos impactados pela alma e coração de uma pessoa que transformou sentimentos – felizes ou tristes – em música. E já parou para pensar que quanto mais o artista se entrega e se joga de cabeça na produção do disco, mais a gente se identifica com o trabalho e ele faz sentido para nós?
A explicação para isso é simples: um bom álbum é aquele que imprime a alma do artista em notas musicais. Imagina a pressão que é você estar na vitrine com milhões de pessoas cobrando sua produtividade e criatividade o tempo todo?
Cobrança por lançamento de Rihanna destaca era da produtividade
Essa cobrança, no entanto, não é exclusividade de Rihanna. Quer um exemplo? Entre 2016 e 2017, a cantora Katy Perry também foi alvo desses questionamentos por todos os lados. Não era difícil encontrar um fã perguntando sobre o ‘KP4’ e apressando o lançamento da cantora, que passou a se divertir com a situação e até foi vista por aí com pastas “super secretas” do próximo álbum. Na época, Perry chegou a brincar com a situação e disse que sabia que no dia seguinte ao lançamento do KP4, os fãs estariam perguntando a data do KP5.
Essa realidade também vai além da bolha das divas pop. A cantora Aiace, artista independente da Bahia, também sente na pele o peso da pressão por conteúdo novo a todo tempo. “Vivemos na era da produtividade, onde temos que ser muito produtivos o tempo inteiro. Isso é muito cansativo e cruel, nos tira do mundo real, além de matar a nossa criatividade e espontaneidade”, disse em entrevista à coluna. Segundo ela, o segredo para conseguir lidar com essa situação é entender que o artista é artista, e não máquina de fazer música. “Quando consegui compreender que eu tenho o meu próprio tempo para concretizar esses lançamentos, fiquei muito mais leve”, concluiu.
Por conta do grande volume de comentários, podemos concluir que a cantora sabe de como os fãs se sentem sobre essa demora toda, né? Mas, apesar dessa mentalidade, Rihanna não é de pedra e, em alguns momentos, acaba respondendo os pedidos incansáveis na internet. Um desses episódios aconteceu, no Instagram, em uma foto publicada pela cantora, que respondeu a um dos pedidos aconselhando que o fã cresça e ainda disse que o comentário era “muito 2019”. A interação, como não poderia ser diferente, rendeu muitas reações nas redes sociais.
E aí, será que Rihannaleva a sério essa pressão toda? Será que a artista está correndo com a produção de novas músicas agora que a pressão está mais forte do que nunca?
A pressa é inimiga da perfeição?
Dizem por aí que quanto mais longo é o processo de produção do vinho, mais saborosa fica a bebida. Será que esse pensamento também pode ser usado para fazer referência ao processo de “nascimento” de música? Um álbum, por exemplo, pode ser planejado e ter a data definida antes mesmo do processo criativo iniciar?
Alguns dos álbuns favoritos de muita gente por aí, assim como o próximo lançamento da Rihanna, não nasceram da noite para o dia. Um bom exemplo disso é a discografia de Adele – um dos nomes mais influentes da música mundial -, que já rendeu 15 estatuetas do Grammy Awards. Para ter essa conquista, a cantora não parou de trabalhar e deixou que o processo seguisse naturalmente: em geral, o intervalo entre um lançamento e outro dura 4 anos na discografia de Adele. E parece que a discografia de Adele está para crescer. Entenda aqui.
Nomes como Frank Ocean, Robyn, Taylor Swift, Katy Perry, Justin Bieber e Bruno Mars também são conhecidos por demorarem para liberar novos álbuns para o público. Mars, por exemplo, lançou o último trabalho, intitulado “24K Magic“, em 2016, assim como Rihanna. No fim das contas, o jeito mais respeitoso de lidar com essas demoras, que sim podem parecer eternas, é acreditar no processo e valorizar a arte. Música está aí para ser ouvida e a arte precisa ser apreciada.
Como ninguém é de ferro, que tal matar a sede de Rihanna mergulhando na playlist oficial da cantora no Spotify? Ouça!