Cerca de 30 mil pessoas compareceram ao Maracanã neste domingo (25) para presenciar apresentações de duas das bandas de rock mais presentes da atualidade. Foo Fighters e Queens Of The Stone Age – que tiveram abertura da banda brasileira Ego Kill Talent – lançaram novos álbuns no ano passado, que, mesmo que não tenham alcançado o mesmo peso de seus trabalhos de prestígio, mostram que estão na ativa com a seguinte premissa: o rock não morreu. E não vai.
Vamos começar com o grande protagonista da noite: Dave Grohl, que dividiu não só sorrisos, piadas e (longas) trocas de palavras com o público – mas também dividiu sua atenção ao restante da banda – Taylor Hawkins (bateria), Nate Mendel (baixo), Pat Smears (guitarra), Chris Shiflett (guitarra) e Rami Jaffee (teclados) -, o que mostra que o Foo Fighters é uma daquelas bandas que claramente se une e se diverte em cima e fora dos palcos.
Pontualmente às 21h30, o Foo Fighters entrou tocando “Run”, do último disco “Concrete and Gold”, de 2017. Em seguida, as famosas “All My Life” e “Learn to Fly” deram voz ao Maracanã, que mal teve tempo para respirar com uma extensão de “The Pretender” e “The Sky Is a Neighborhood” logo depois. Correndo de um lado pro outro, Dave mostrou empolgação e energia de sobra, especialmente nas versões estendidas. Era o tempo que ele aproveitava para interagir com os colegas, para delírio dos fãs. A brincadeira continuou em “Rope” e “Sunday Rain”, que contou até com um super solo de bateria vindo de Taylor.
Na oitava música, Dave entrou em contato diretamente com os fãs de forma intimista, e pediu desculpas pela demora. Acompanhado apenas de sua guitarra, o músico entoou os primeiros acordes da emblemática “My Hero” enquanto conversava com o público. “Vamos tocar músicas de todos os nossos discos. Quem gosta do primeiro disco? E do segundo? E do terceiro?”, perguntou, sendo ovacionado pela plateia – e perguntando o que eles achavam dos demais. Logo em seguida, Dave perguntou quantos ali eram fãs antigos do Foo Fighters, e observou uma multidão de braços sendo estendidos. “Eu também sou”, brincou, até começar a cantar os primeiros versos da canção de 1997, do álbum “The Colour and the Shape” – a primeira metade, acústica, e a segunda acompanhado da banda.
A noite seguiu com “These Days” e “Walk”, do álbum “Wasting Light”, de 2011, e “Breakout”, de “There Is Nothing Left to Lose”, de 1999. A faixa terminou com as luzes do Maracanã apagadas, a pedido de Dave, e com as lanternas dos celulares ligadas (e isqueiros, como em um bom show de rock). Depois de “Make It Right”, um momento dedicado apenas à apresentação dos membros da banda, no qual cada um fez um pequeno solo, e foram entoados alguns covers – destaque ao guitarrista Chris Shiflett, que cantou um cover de “Under My Wheels”, do Alice Cooper; e a Taylor Hawkins, que cantou “Love of My Life”, do Queen, à capela, e dominou os vocais em “Under Pressure”, também do Queen, com Dave agora na bateria.
“Monkey Wrench” e as famosíssimas “Times Like These” e “Best Of You” terminaram a primeira parte do show, que voltou 10 minutos depois para um encore com três músicas – destaque, aqui, para os pedidos do público a Dave Grohl, que, mesmo fora do palco, entrou em contato com a multidão via os telões do estádio. A noite terminou com uma grande energia depositada em “This Is a Call”, um cover de AC/DC, “Let There Be Rock”, e a simbólica “Everlong”, clássico encerramento dos shows do Foo Fighters.
Foram duas horas e meia de (troca de) energia por ambas as partes. Não foram poucas as vezes em que Dave se dirigiu à plateia. Foram perguntas, como “quem já tinha assistido a um show da banda” e “quem estava assistindo pela primeira vez”, até algumas tiradas bem-humoradas: “Obrigado por me lembrarem a letra, às vezes eu esqueço”, brincou após ver vários cartazes levantados com os dizeres “Oh, oh”, durante a performance de “Best Of You”. Ao mesmo tempo, os fãs retribuíram o espetáculo com coros, mãos levantadas e com o que ia desde passos de dança até pulos desenfreados, do início ao fim.
Com muito carinho pelo público brasileiro, Dave agradeceu e disse que a banda irá voltar – não sabem quando, mas sabem que irão. E não pareceu ser um mero clichê: um detalhe interessante é que, após um cover de “Blitzkrieg bop”, dos Ramones, Dave e Taylor se referiram à esta noite no Rio de Janeiro como se fosse o próprio Rock in Rio. Sem dúvida, esta é a melhor definição para uma plateia encantada após uma noite inteiramente dedicada ao gênero, que continua mais vivo do que nunca.
Queens Of The Stone Age
A banda norte-americana liderada por Josh Homme começou o show pontualmente às 19h30, com um início um pouco morno. Mas eis que está a graça dos shows que começam “mais ou menos”: você pode observar – quanto acontece – a evolução da apresentação. E foi exatamente o que aconteceu com o Queens Of The Stone Age, que começaram com uma séria performance de “If I Had a Tail”, do álbum “Like a Clockwork”, de 2013, até terminarem o espetáculo promovendo uma experiência catártica em “A Song for the Dead”, de “Songs for the Deaf”, de 2002.
A banda se soltou aos poucos, e a apresentação seguiu com canções famosas como “Smooth Sailing” e “My God Is the Sun”. Hits se intercalaram com faixas do novo disco da banda, “Villains”, do ano passado, como “Feet Don’t Fail Me”, bem recebidas pelo público. Mas “No One Knows” foi o ponto alto da noite, junto com faixas famosas como “Make It Wit Chu” – que teve participação a capela do público, “Go With the Flow”, e, como disse acima, “A Song for the Dead”, que eu particularmente considero como um momento de puro descontrole do corpo. Durante a noite, rodinhas de punk se formaram em diferentes pontos do Maracanã, em sinal de como o público precisava extravasar a energia que vinha do QOTSA.
Ao contrário da última apresentação da banda por aqui, no Rock in Rio 2015, Josh Homme se mostrou mais à vontade e mais receptivo e interativo com o público. Brincou, conversou com a multidão e, apesar da última polêmica o envolvendo – na qual ele chutou uma fotógrafa em um show em Los Angeles, em dezembro -, soube trazer a plateia para si (e não chutou nenhum fotógrafo, que foram alertados a se posicionarem nas laterais do palco). Antes da performance de “Domesticated Animals”, bravou um discurso motivacional com um quê de rock ‘n’ roll, que foi mais ou menos assim: “isso é pra ninguém dizer pra vocês que p*rra fazer. Vocês tem que fazer a p*rra que quiserem”, e foi ovacionado.
Mesmo não sendo a banda principal da noite, o QOTSA se mostrou animado e motivado em fazer um show à altura de sua consolidada carreira. Quem aprovou foi o público, que correspondeu muito bem às expectativas e aprovou a dobradinha.
Ego Kill Talent
A banda brasileira abriu a noite às 18h30. Muito empolgados, agradeceram pela oportunidade e, mesmo em um show com um público que não era propriamente deles, souberam cativar e animar quem já aguardava pelas atrações internacionais. Com uma apresentação de 30 minutos, a banda paulistana – que tocou na edição passada do Rock in Rio – tocou faixas de seu álbum auto-intitulado, do ano passado, que apareceu na nossa lista de 10 melhores álbuns nacionais de 2017.