in

Entrevista: Roberta Medina conversa sobre os 40 anos de Rock in Rio e o futuro do festival

Em entrevista ao Tracklist, a executiva conversou sobre como o festival tem se adaptado às novas tecnologias

Foto: Divulgação/@annekarr007

Por Fernando Marques e Gabriel Haguiô – No último dia 11, o Rock in Rio celebrou seu aniversário oficial de 40 anos, depois de comemorá-lo antecipadamente na edição do ano passado. Porém, após décadas ditando as tendências do mercado nacional de shows, qual seria o melhor caminho para seguir? Para Roberta Medina, vice-presidente da Rock World, o foco não está apenas em comemorar o legado histórico do festival, mas também em apostar em novas tendências para o seu futuro.

Em entrevista exclusiva ao Tracklist, a empresária e executiva conversou sobre as inovações tecnológicas do Rock in Rio para as futuras edições. De acordo com Roberta Medina, apostar na modernização da Cidade do Rock está entre os principais objetivos da organização para os próximos anos, de olho em proporcionar em experiências inéditas para o público.

“O festival ouviu muitos ‘não’, porque o problema era o pacote que vinha com o show no Brasil: medo de terem os equipamentos roubados, falta de estrutura… Construímos com seriedade, mantendo a credibilidade com a indústria, entregando sempre as melhores condições humanas e tecnológicas a cada edição”, conta.

No papo, Medina também relembra apresentações inesquecíveis do festival e comenta as expectativas para 2026. Confira!

Leia a entrevista com Roberta Medina na íntegra

Tracklist: Quais foram os principais desafios que você enfrentou ao longo das décadas para manter o festival relevante em um cenário musical e tecnológico em constante mudança?
Roberta Medina: Com um time potente e com foco absoluto na experiência de todos os nossos clientes, do público, às marcas, aos artistas, equipe, fornecedores e parceiros em geral. Agora, com 40 anos de história, é fácil perceber o quanto o Rock in Rio contribuiu para transformar o cenário musical brasileiro. O festival foi relevante desde a primeira edição, mas, durante os preparativos de 1985, a maior dificuldade que o Roberto encontrou era convencer os artistas do tamanho do impacto que suas apresentações no evento teriam. O festival ouviu muitos ‘não’, porque o problema era o pacote que vinha com o show no Brasil: medo de terem os equipamentos roubados, falta de estrutura… Construímos com seriedade, mantendo a credibilidade com a indústria entregando sempre as melhores condições humanas e tecnológicas a cada edição.

Pode não ser óbvio para muita gente, mas toda a tecnologia que usamos na construção da primeira Cidade do Rock, e as inovações que trouxemos com o que tínhamos disponível, fizeram diferença — como, por exemplo, a iluminação da plateia. Ao longo das edições, trocando também conhecimento com os mercados por onde passamos com o festival, fomos acompanhando a criação de novas tecnologias para proporcionar a melhor experiência possível para o público e para artistas e equipes que fazem dele uma realidade. Em 2024, tivemos um videomapping por toda a extensão do Palco Mundo que foi de tirar o fôlego. Esse é só um exemplo de ações que realizamos em toda a nossa história, que também já contou com show de drones, pulseiras de LED, ingresso digital, agendamento de brinquedo e compra de alimentos e bebidas no aplicativo, entre diversas outras.

O uso de tecnologias como realidade aumentada, transmissões ao vivo e redes sociais mudou a forma como o público interage com o festival. Como você imagina o Rock in Rio do futuro nesse aspecto?
Uma coisa não vai mudar: é sobre olho no olho. Estarmos juntos, emoções, sermos humanos e coletivos. Fora isso, poderemos, com as tecnologias, proporcionar experiências coletivas e individuais diferenciadores e fazer com que o público esteja cada vez mais próximo do festival — não apenas nos dias do evento, mas também entre as edições. As redes sociais têm o poder de unir as pessoas e de propagar a magia do evento.

Para se ter uma noção, na edição de 2024, cerca de 200 milhões de brasileiros foram impactos pela comunicação do festival ao longo de um ano inteiro — um número que chega a 98% da população nacional, de acordo com o Censo Demográfico de 2022. O engajamento dos fãs a cada edição demonstra essa conexão crescente e o poder mobilizador do festival. Já no presente e olhando para o futuro, vejo o Rock in Rio como um agente de transformação, unindo-se ao público na missão de construir um mundo melhor, usando sua força para promover mudanças significativas.

Existe alguma inovação tecnológica específica que você gostaria de trazer para as próximas edições do Rock in Rio?
Bom, o Roberto não para de falar do carro voador! Em paralelo, temos a equipe constantemente focada em trazer não só novidades para a experiência do público, mas sobretudo para a operação do evento, para que possamos prestar cada vez melhores serviços e elevar a experiência nas Cidades do Rock e não só. Além do que se pode ver, somos uma referência em smart city, com muita tecnologia aplicada em conforto, segurança, eficiência, vamos cada vez dar mais visibilidade para isso. Em 1985 não tinha nem telefone direito, era necessário viajar para fechar contratos. Com o passar dos anos, o avanço tecnológico não apenas facilitou nossas operações, mas também nos deu a oportunidade de sonhar mais alto.

Em 2024, o videomapping emocionou todos na Cidade do Rock, oferecendo um espetáculo inovador. Já realizamos shows de drones e, no futuro, esperamos continuar contribuindo para melhorar a experiência do público com o apoio das novidades tecnológicas. Ainda não temos ações definidas para 2026, mas seguiremos utilizando a tecnologia como aliada, sempre prontos para oferecer experiências inesquecíveis em nossos festivais.

Ao longo desses 40 anos, existe algum momento que mais te marcou como idealizador do Rock in Rio? Algum show ou situação específica que você nunca esqueceu?
Pessoalmente o único show que o Roberto viu em 1985 foi o do James Taylor e diz que foi o melhor emocionalmente para ele. Infelizmente eu não lembro quase nada da primeira edição.

É muito difícil escolher apenas um, são 40 anos de uma trajetória incrível de shows no Rock in Rio, que hoje é tido como o Super Bowl da música onde os artistas dão tudo para mostrar espetáculos únicos para o mundo. Agora, é claro – e eu não vi! – que o show do Queen, em 85, com a plateia inteira cantando “Love Of My Life”, é algo que está enraizado na nossa história.

Em 2022, o Coldplay foi outro grande destaque, foi uma experiência mágica quando a banda iluminou toda a Cidade do Rock, impossível não se encantar com aquele instante que, sem dúvida, entrou para a história. Na mesma edição, o show do Green Day também foi um dos meus favoritos, e estou muito animada para rever a banda no The Town, no dia 7 de setembro.

Você já pode adiantar alguma novidade sobre a edição de 2026?
O foco agora está no Lollapalooza e no The Town, que acontecem em São Paulo, em março e setembro respectivamente. Neste momento, estamos trabalhando nos anúncios e planejando diversas novidades para os fãs que estarão com a gente este ano.

Mas, claro, o Rock in Rio nunca dorme, e, para a próxima edição, vamos continuar criando experiências e momentos inesquecíveis. E em Portugal estamos começando, pela primeira vez, uma jornada de comunicação para mobilizar o público europeu para se juntar em Lisboa na próxima edição.

O Rock in Rio tem se preocupado cada vez mais com a sustentabilidade. Que novos projetos ou iniciativas sustentáveis podemos esperar para a próxima edição?
Em 2026, seguiremos ampliando as iniciativas do nosso pilar de Por Um Mundo Melhor. Nas edições passadas de Rock in Rio e The Town, reforçamos as ações de ESG com iniciativas ainda mais robustas. Um dos grandes destaques foi a parceria dos festivais com a ONG Gerando Falcões, Gerdau, e a Fundação Grupo Volkswagen no Favela 3D.

Em 2023, quando teve a primeira edição do The Town, o projeto beneficiou quase 300 famílias, na Favela do Haiti (SP), e ajudou na conquista da marca de pleno emprego entre os moradores participantes. Tivemos resultados tão impactantes em São Paulo que também trouxemos este projeto para o Rock in Rio, em 2024. No Rio de Janeiro, ele segue ativo e visa transformar a vida de 250 famílias que moram nas Regiões do Buraco, Sessenta e Ladeira do Faria, situadas no centenário Morro da Providência – a favela mais antiga do Brasil, no bairro da Gamboa, no Rio de Janeiro, e vamos continuar a trabalhar com eles no futuro. Ao longo de nossa história também realizamos diversas parcerias com ONG Ação da Cidadania. Somente no ano passado doamos 1,5 milhões de pratos de comida para as vítimas das enchentes do Rio Grande do Sul.

De novidade para 2025, pensando em sustentabilidade, temos o Amazônia Para Sempre, que é fruto da união entre o Rock in Rio e o The Town, e que já está transferindo dois milhões de reais para diferentes organizações. Foram selecionadas seis iniciativas na Grande Belém (PA) que receberam aporte para promoção de projetos de preservação da Floresta Amazônica e dos povos que a protegem. São ações que promovem, por exemplo, o turismo de base comunitária na Ilha do Combú, do AmazonCred, e o empreendedorismo feminino de mulheres apicultoras do Instituto Peabiru, que – além de gerar renda para elas – cria um cinturão verde de abelhas, fundamental para o combate de queimadas. O objetivo do projeto é atrair ao máximo a atenção para Belém, que será sede da COP 30, e começar a aquecer as conversas sobre temas importantes para o mundo que vão ser debatidos ali.