O Papo de Música é um canal no YouTube para falar, obviamente, sobre música, mas não somente com cantores ou cantoras. Apresentado por Fabiane Pereira, a jornalista conta para nós, do Tracklist, mais detalhes sobre seu novo quadro, chamado “O Que Tem Na Minha Sacola?”, que estreia na próxima quinta-feira, dia 16 de junho, ao meio-dia. Saiba mais na entrevista a seguir!
Entrevista com Fabiane Pereira, do Papo de Música
O Papo de Música existe há quatro anos. Desde sua idealização, Fabiane Pereira imaginava que seria um canal de entretenimento, entrevistando pessoas de quaisquer áreas. Porém, por ser uma jornalista musical há tantos anos, seus contatos foram mais voltados a cantores e cantoras.
“A ideia era falar sobre música com todo mundo, porque a música é, dos segmentos artísticos, aquela arte que mais conecta as pessoas”, conta. Sendo assim, por três anos, o canal foi voltado a entrevistas apenas com profissionais dessa área.
“Eu queria expandir. Só que, como um canal independente, para você fazer qualquer mudança, é complicado. Você perde engajamento, as pessoas começam a não entender seu foco”, lamenta, falando que ela não faz a edição dos seus vídeos para concretizar essa mudança. “A edição do canal é muito pensada para que ela realmente ajude no roteiro das entrevistas”, explica ela.
Ao pensar em como poderia expandir seu canal – uma ideia que está sendo formulada há quase um ano e meio –, sem gerar estranheza nos seus seguidores, Pereira chegou ao “O Que Tem Na Minha Sacola?”. “Um projeto em que eu entrevisto as personalidades da música, e que tudo girasse em torno da música. A gravação é em uma loja de discos e a conversa não tem roteiro: ela caminha de acordo com o disco do entrevistado”, detalha.
“Eu trabalho com isso há 20 anos, sempre ligada a música, mas eu nunca tinha feito uma entrevista sem roteiro na vida. Esse quadro, para mim, como profissional, está sendo muito legal, porque eu consigo me testar o tempo inteiro, pensar rápido. As escolhas são feitas a partir dos discos, dos livros e dos CDs que as personalidades pegam na hora.”
Não serão apenas artistas entrevistados no “O Que Tem Na Minha Sacola?”. A jogadora de vôlei, Carol Solberg, é um exemplo de personalidade que estará no novo quadro do Papo de Música, assim como os atores Lúcio Mauro Filho, Alexandre Nero, a atriz Samantha Schmütz e a escritora Thalita Rebouças.
Perguntada sobre como a ideia surgiu, Fabiane revela um canal de música norte-americano, chamado Amoeba Music, em que ela acabou assistindo por ter sido sugerido pelo YouTube. Nele, entrevistados traziam de casa discos icônicos de suas vidas e conversavam dentro de uma loja de discos.
“A ideia surgiu disso. Aí, eu fiquei pensando, pesquisa aqui, pesquisa ali… falei: ‘vou fazer uma sacola’. E é literalmente isso: o entrevistado ganha uma sacola e a leva para casa, porque a loja deu um voucher. Então, o entrevistado fica com alguma das coisas que ele pegou”, conta, reforçando que é tudo autêntico.
“Eu mandei fazer uma sacola, com uma costureira de Volta Redonda, em que printou Papo de Música, então é uma sacola personalizada”, comenta Pereira. A loja parceira é a Tracks Gávea, no Rio de Janeiro/RJ e o dono, coincidentemente, já conhecia o canal Papo de Música.
Sobre os entrevistados, Fabiane revela que todos os seis primeiros convidados que ela chamou aceitaram participar do quadro. Apenas um sétimo convidado acabou recusando, mas por conflitos de agenda, que foi o Paulo Vieira. De acordo com ela, Vieira já está confirmado para a segunda temporada do OQTNMS.
“Eu realmente não imaginava que teria essa facilidade. Eu achava que seria difícil, pois as pessoas do mundo artístico não me conhecem que não sejam da música. E acabou que foi tranquilo. A gente não tem produção nem nada. Então eu mesma mando o e-mail, mando inbox, eu dou um jeito de conseguir o e-mail da galera, explico meu canal…”, detalha.
“Mas, basicamente foi essa a origem da ideia: eu, pegando um vídeo da internet, que tem uma loja de discos em que eles conversam com personalidades de lá do circuito indie sobre o disco. É um canal que fala muito, nesse quadro, sobre ficha técnica, um assunto que eu não posso entrar porque eu não conheço as pessoas que gravaram, tirando os antológicos”.
“Então, eu tinha que ir por outro caminho, não dava para eu falar de ficha técnica. Aí, eu comecei a pensar no que eu acho que domino mais, que é falar sobre gente. Sobre memórias que fazem com que as pessoas sejam humanas. Eu acho que esse é o meu objetivo como jornalista, sabe? E foi assim que eu cheguei nesse formato”.
Com a pandemia, Fabiane explica que o canal até cresceu, pois com as pessoas dentro de casa, elas consumiam mais conteúdo digital. Além disso, conseguiu entrevista com artistas que dificilmente falaria pessoalmente. “Marisa Monte é um nome mais difícil. Ela não dá entrevistas. Ela deu apenas três para jornalistas com esse disco novo [“Portas” (2022)], e uma delas foi para mim”, comenta.
“Mas, ao mesmo tempo, eu particularmente acho que perdi muito. Porque a entrevista olho no olho você sente o que a pessoa está dizendo, você conduz de um jeito mais um humano, sabe? A gente perdeu muito em emoção.”
“As entrevistas do ‘O Que Tem Na Minha Sacola?’ é a minha volta ao presencial. Então, assim, eu estou completamente apaixonada porque voltou a ter aquela emoção.”
Fabiane ainda conta que já tem planos para uma segunda temporada do quadro. Com seis episódios, foi patrocinada por ela mesma, o maior investimento que ela já fez no canal até então. Talvez, quem sabe, a segunda ou até terceira aconteça em São Paulo.
“Mas eu não quero que o Papo de Música tenha só esse quadro. A minha intenção, em um futuro bem próximo, é permanecer com as entrevistas com os cantores e cantoras no formato que eu já faço, só que presencial, e o OQTNMS com personalidades que não são necessariamente ligadas à música, mas falando sobre música. O meu sonho de princesa é que seja seis meses de um, seis meses de outro, ou alternando uma semana um, uma semana outro”, confessa.
Sobre a curadoria para os entrevistados, Pereira explica que foi muito rápido. “Eu não queria que fosse todo mundo ator, não queria que tivesse, nesse momento, ninguém ligado a política. E aí fui fazendo um recorte, de gente que mora no Rio de Janeiro também”, detalha.
“Quem no Rio de Janeiro hoje é uma voz importante no esporte? Carol Solberg, então chamei a Carol. Quem é, da literatura, importante e que converse também com esse público? Isso também é uma coisa importante de falar: o Papo de Música é um canal que sempre tentou equilibrar quem tem mais engajamento e quem é importantíssimo que a mensagem que ele tem para falar seja divulgada. Na literatura, por exemplo, a Thalita Rebouças é minha amiga pessoal e é a maior vendedora de livros infanto-juvenil, fala muito com esse público da internet.”
“O Pedro Neschling eu chamei porque ele tem uma história muito interessante. Ele é surdo, então a música para o Pedro (ele usa aparelho auditivo desde os dezoito anos), mas desde muito criança ele tem a música muito intrínseca. Ele é filho de um dos maiores maestros que a gente tem no Brasil, que é o John Neschling. Então, eu queria muito que ele contasse essa história, de como que a música o ajuda, que é uma pessoa que tem problema de audição.”
“A curadoria foi fácil, eu bati os nomes e falei: ‘é essa a galera que eu quero’. Porque eu já sabia muito o que eu queria falar. Eu fiquei um ano e meio matutando esse projeto. Quando eu falei que tinha a verba para produzir, eu já sabia quem eu queria no canal, sabe? Tanto que o Paulo Vieira ele não ficaria no lugar de ninguém, a primeira temporada teria sete episódios.”
Para a segunda temporada, Fabiane Pereira já tem também os nomes que ela quer que participem. Sem dar nenhum spoiler, ela afirma apenas o nome de Paulo Vieira que está confirmado para a continuação de OQTNMS.
Abrindo para o canal em um geral, perguntada sobre quais artistas ela sonha em entrevistar, Fabiane citou quatro nomes do mundo da música. Um deles ela já realizou, que é a Marisa Monte. Os outros três ela conta que são Mano Brown, Chico Buarque e Luan Santana. Fora do campo musical, outras personalidades que ela cita são Lula, Luiza Trajano, Fernanda Montenegro e Fernanda Torres.
“Eu acho que no Brasil a gente pode reclamar de tudo, menos de representantes artísticos.”
“Nós temos gênios artísticos de todos os segmentos. A gente tem uma música de excelência, mas a gente também tem literatura de excelência, artistas visuais de excelência, atores de excelência… Então eu acho que, nossa, tem muita gente que eu tenho vontade de entrevistar.”
Por fim, Fabiane convida a todos para que conheçam seu canal. “O que é interessante o público começar a perceber é que a gente não pode ser escravo do algoritmo. E nós somos. Por mais que a gente ache que estamos fazendo nossa própria busca, nós não estamos. O algoritmo está nos incentivando e influenciando o tempo inteiro. Então, a minha dica é: procure por conteúdos fora da sua bolha. Você pode se surpreender e gostar!”, chama.
Por meio de um comentário de um seguidor, Fabiane outra visão de seu canal. “Hoje eu recebi uma mensagem que eu achei muito legal, que dizia assim: ‘não é um canal de música, é um canal de autoconhecimento’. É isso que eu quero mesmo que o público entenda”
“Eu uso a música como um fio-condutor, mas é um canal de conhecimento, de humanização.”
“O formato de entrevista é visto por muitos como mais ‘chato’, mas é só através de um bate-papo aberto que você conhece o outro. Saia dessa bolha que o algoritmo te impõe, tente buscar novos conteúdos, novos formatos”, finaliza Fabiane.