Umas semanas atrás, pedi para meus amigos me indicarem filmes e séries com trilhas sonoras boas para que pudesse analisar nesta coluna que se inicia hoje. O primeiro da lista foi o filme “Maria Antonieta”, de 2006.
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Sobre o que é o filme?
“Maria Antonieta” é estrelado por Kirsten Dunst e de direção de Sofia Coppola. A história retrata a adolescente austríaca que dá nome ao filme e que se casa com o príncipe Dauphin da França, lá por 1700 e pouco. E vamos de pré revolução francesa!
Minha função aqui é relacionar a música da trilha com o filme. Quando procurei sobre ela, fiquei bem curiosa sobre como encaixariam The Cure, The Strokes e New Order num filme temático do império frances do século XVIII, com todo o seu classicismo – que também aparece na obra através de música clássica.
Assim que Maria Antonietta vai para França, sua recepção pelo futuro marido é meio apática e desconfortável, e, a trilha acaba acompanhando bem esses momentos. A primeira cena que me deixou “puts, isso é lindo” com a conexão da música com o que rola no filme foi logo quando os cavalos estão chegando no palácio. Depois disso, Giovana esperava rock, mas apenas recebeu música clássica.
Música clássica demais?
Fui reclamar com um amigo que estava achando música clássica demais e a resposta que recebi era que “não fazia sentido. A trilha desse filme é quase um personagem”. Passei a observar com mais carinho para ver se gostava.
E não é que comecei a adorar? Há uma cena que é espetacular: a mãe de Maria manda uma carta pra ela colocando toda uma pressão falando que tudo no casamento a responsável é a mulher e pra ela apressar com os filhos. Uma música instrumental é tocada e de fato, é como se a música ali desse muito a enfatização naqueles sentimentos de pressão colocados em cima dela.
Até mais ou menos aí, é basicamente tudo música clássica. E, observando melhor, faz sentido. Uma música “atual” triste ali não combinaria tanto, já que ela é uma mulher responsável e rainha da França.
Músicas mudam a visão que temos sobre a personagem
Logo após essa cena da carta, há um momento de escolhas de roupas, junto de suas amigas e bebidas. Nesse momento, o cenário muda: Maria está confortável e feliz, e, aí sim, entra as músicas que estava esperando. É como se a figura de autoridade e responsabilidade mudasse para a jovem que quer aproveitar sua juventude. A partir daí, a trilha sonora faz seu trabalho.
Conforme o tempo vai passando e Maria Antonieta vai se adaptando e tendo momentos felizes, o rock mais atual continua rolando. Nesses momentos, a figura de futura/rainha da França, figura importante e responsável da monarquia desaparece e ali se faz presente somente a figura jovem que quer viver sua juventude.
A questão de mudança do mood do seu personagem foi algo que realmente me deixou fascinada. Possivelmente a parte em que isso mais fica claro é a festa de aniversário de 18 anos da jovem. Você fica, “mas ué, ela não tinha 18 anos ainda e tinha todas essas responsabilidades, pressões e coisas adultas?”. Pois é. Rola uma grande festa com direito a tudo que festas de jovens tem (só que com todo o requinte e riqueza). Enquanto isso, o rei sai mais cedo para dormir e a deixa apenas com seus amigos.
A noite termina com Maria e seus companheiros de mais ou menos sua idade bêbados vendo o nascer do sol, ao som de nada mais nada menos que “Cerimony”, do New Order.
Rola até um The Strokes, que faz perceber claramente o querer a fuga do personagem responsável pro só jovem, que quer aproveitar o momento com a pessoa que gosta e do jeito que gosta.
Além disso, rola também muito The Cure e músicas ali dos anos 80.
Conclusões
Maria Antonieta é um bom filme com uma boa trilha sonora quando se para pra refletir e se pega essa coisa da transição de “personalidades”. E, pra isso, é necessário paciência: isso só começa a acontecer na metade do filme. Mas, a partir daí, (quase) tudo são flores.
“Se não tiver pão, que comam brioches”.