Um álbum não é simplesmente o ato de juntar um punhado de músicas com potenciais de hits e lançar em formato físico. Um disco é arte. Não expressa de forma individual, em que apenas uma única canção representa o todo, mas de forma coesa, em que o compilado de musicas faça sentido, transmitindo a mensagem de todo aquele empenho na criação de um álbum.
Dito isso, existe o que conhecemos como “maldição do segundo disco”, que é como carinhosamente definimos o momento em que qualquer artista lançará o sucessor de seu álbum de estreia, o qual é um momento de extrema valia. Ou você reafirma tudo o que conquistou com o primeiro disco, ou você se perde no mercado e dificilmente tem a chance de se reerguer na indústria fonográfica.
“Melodrama”, sucessor do extremamente aclamado “Pure Heroine”, é o segundo álbum da neozelandesa Lorde. Não podemos apenas aclamar o novo disco da cantora sem antes pontuar os algumas coisas: o seu primeiro disco foi extremamente elogiado pela crítica e conquistou fãs pelo mundo todo. Foi lançado em 2013, ou seja, há 4 anos. O quanto de pressão existia em Lorde para que o sucessor fosse tão bom quanto? Afinal, são 4 anos produzindo um disco. A exigência do publico e dos críticos era alta.
O sucessor veio, e veio com glória! “Melodrama” não só reafirma a posição de Lorde na indústria, como se propõe a ser o álbum que você não sabia que precisava. Não bastou apenas suprir e superar todas as expectativas relacionadas ao “Pure Heroine”, a arte aqui veio de forma coesa, bela e uniforme. Se você estiver esperando uma Lorde pop radiofônica como vimos em “Green Light”, eu fico feliz em lhe informar que você não irá encontrar. O que temos aqui é o retrato vivo de que é possível se reinventar sem perder a identidade.
A sequência inicial composta por “Green Light”, “Sober” e “Homemade Dynamite” já demonstra de cara o potencial do disco. Poderoso, honesto e belo. Citando rapidamente, podemos destacar “Sober”, que tem uma mensagem sobre a inconsequência, o ato de se fazer tudo sem pensar nas consequências que aquilo pode causar. “But what will We do when we’re sober?” – Em “Homemade Dynamite”, Lorde expressa o sentimento de estar tão alto a ponto de jogar todas as verdades na mesa, e achar tudo isso o máximo. Literalmente jogando a merda no ventilador.
Além de retratar as fases de seu antigo relacionamento, Lorde revelou em entrevistas que toda a história do Melodrama se passa em uma única noite em uma festa. “Green Light”, “The Louvre”, “Sober” e “Homemade Dynamite” expressam o ápice do relacionamento, que estava tudo uma maravilha, mas até que ponto era tudo real, tudo visceral?
Após o ápice vem o declínio, com todas as fichas caindo e a decepção se apropriando como sentimento dominante, como é expressado em “Liability” e “Hard Feelings”, com uma pontinha de superação em Loveless. “Sober II (Melodrama)” é o ponto alto do álbum, tanto como a mensagem de que tudo faz sentido agora que estão sóbrios, como na produção que não deixa a desejar em nada. Crescendo no momento certo sem ultrapassar nem faltar.
Com apenas 11 canções, “Melodrama” é um disco surpreendente, por sua capacidade de se comunicar com o ouvinte de forma honesta e justa, sem contar mais do que deve, sem faltar informações. Toda a sensação que fica é de prazer e satisfação. Que se tivesse mais alguma canção poderia ser mais do que o apropriado.
Coeso, belo, imponente, melodrama afirma a posição de Lorde na industria e se torna o álbum que você não sabia que precisava!