Janeiro é um mês representativo quando falamos de David Bowie: no dia 8 ele faria 70 anos, dia em que lançou seu derradeiro álbum em 2016: Blackstar. Ele morreu no dia 10, no mesmo ano. O décimo primeiro álbum de estúdio do artista, Low, completa 40 anos no sábado, 24.
Falar dele e de seu legado tanto para a música e para a arte é complicado: renderia, com certeza, uma dissertação de mestrado um texto gigante que ninguém vai ler -. As várias personas de Bowie e sua total entrega, seu visual andrógino, seu carisma, foram ingredientes para seu sucesso. A ideia de quebrar as regras de gênero – não foi algo absolutamente novo, é verdade: também foi implantada – quase no mesmo período – por Grace Jones e Prince ( 7 de junho de 1958 – 21 de abril de 2016).
Vamos falar das personas mais famosas de Bowie?
O primeiro alter ego mais celebrado de Bowie foi tirado de Ziggy Stardust, álbum que o levou ao mainstream. Ziggy era um extraterrestre bissexual e rockstar que veio à Terra para salvá-la. O visual tem um caráter totalmente futurista e foi bastante imitado. Em Aladdin Sane ( um trocadilho para ” A Lad Insane” – um rapaz insano), Ziggy é mais desenvolvido e nos vemos diante de um personagem mais hippie (paz & amor, “apaixonado por coisas jovens e brilhantes”).
Em “Space Oddity”, conhecemos o personagem Major Tom – o astronauta que deixou a Terra para viver no espaço. Nos deparamos com ele novamente em “Ashes to Ashes”, mas aqui ele assume a característica de viciado, o que torna a faixa basicamente autobiográfica.
Com o álbum “Station to Station”, conhecemos Thin White Duke – o alter ego mais obscuro dele. Inspirado por Thomas Jerome Newton no filme The Man Who Fell to Earth, o personagem também mostra o ápice do vício de Bowie.
E é claro que existiram muitas outras personas: Bowie sempre foi muito versátil e um artista completo. Ele não ficou restrito à música; também foi pro cinema. Mas, aqui fazemos esse recorte dos principais para conseguirmos finalizar o texto, resumir, simplificar pra não cansar .
40 anos do disco “Low”
Conforme já adiantei, amanhã (24) o disco “Low” de David Bowie completa 40 anos de existência. Antes de mais nada, vou fazer um parênteses pra situar na questão histórica: O mundo estava dividido em capitalismo e socialismo; Bowie se mudou pra Berlim Ocidental em 76 e fez parte do álbum na França e outra parte lá. Observamos uma influência do que se produzia na Alemanha – lógico – além do soul e da música eletrônica.
É um álbum bem instrumental, feito para ser sentido: as novas perspectivas com a mudança da carreira para uma nova cidade podem ser visualizadas em A New Career In A New Town (uma faixa que mostra uma empolgação com um novo estilo de vida e o abandono dos vícios ), em ” Art Decade” – no entanto – sentimos uma angústia profunda que reflete a atmosfera da Alemanha em tempos de divisão geográfica e ideológica além do próprio sentimento de abandono do eu-lírico; “Subterrans” é outra canção que vai mais adentro da divisão e trata da vida do outro lado do muro: É uma instrumental triste, cantada em partes em uma linguagem totalmente inventada e com um lindo solo de sax. A mais pop do disco e mais lembrada é – sem dúvida – “Be My Wife”: trata do sentimento de abandono apesar da experiência de ter vivido pelo mundo todo, sentimento o qual ele quer deixar para traz para dividir a vida com alguém.
“Low” é acima de tudo: belo e despretensioso, que marca o início da Trilogia de Berlim que se segue por “Heroes” (1977, a faixa-título é sempre muito lembrada e celebrada, fazendo parte de trilhas sonoras de muitos filmes) e tem fim em “Lodger” ( 1979, mais leve e pop ).
Bowie sempre vai ser uma figura emblemática, que a gente sempre tenta decifrar e ainda não decifrou tudo – com certeza. Sua morte, no ano passado, deu um novo significado ao seu último trabalho e fez com que muitos críticos reescrevessem suas resenhas – porque o conhecimento que o artista tinha do seu próprio fim abria novas possibilidades, e portanto, era necessário reabrir o disco e ter novas impressões. E acredito que nada é definitivo: sempre devemos experimentar novas possibilidades em se tratando de um artista desse calibre. Mesmo com o fim do corpo físico, David Bowie se faz presente como o extraterrestre que pisou na Terra, dando saltos e sempre se reinventando, testando gêneros e personas, porque sua vida pulsava arte do começo ao fim.