No dia 30 de setembro, São Paulo terá uma noite especial comandada por Rashid para a final nacional do Red Bull FrancaMente, uma das maiores batalhas de rima do país. No ano em que se celebra os 50 anos da história do hip hop, a quarta edição do evento passará pela Audio e será totalmente aberta ao público (ingressos aqui: https://redbull.com/francamente).
Em entrevista ao Tracklist, Kamau, curador do Red Bull FrancaMente, e Clara Lima, que foi jurada de uma das seletivas, falam sobre a importância do evento e artistas que já passaram por ele, como está atualmente o cenário do rap no Brasil e trazem dicas para quem quer começar nesse ramo.
Entrevista: Kamau e Clara lima falam sobre Red Bull FrancaMente
Tracklist: Como as batalhas de rima ajudam a propulsionar as carreiras dos artistas que estão começando no ramo?
Kamau: A batalha de rima acaba sendo uma vitrine um pouco mais imediata, porque é mais democrático: todo mundo pode se inscrever e aparecer na batalha. Dependendo da batalha ainda tem uma relevância e visibilidade melhor, mas isso depende muito também de como os MCs se comportam na batalha e o que eles fazem depois dela, porque chega um momento que todo mundo é muito visado, todo mundo sabe muito sobre você. Depois que você chega nesse patamar de MC, as batalhas já não são mais tão interessantes. A visibilidade é ótima e o que se faz com a visibilidade que se ganhou é o mais importante.
Clara: Na minha época, meados de 2014, era como uma vitrine, saca? Eu comecei nas batalhas, então foi a partir dali que as pessoas começaram a me conhecer. Saber quem era Clara Lima. Então, acredito que hoje além dessa vitrine, com muito mais números e visibilidade (que é uma forma de por si só de se impulsionar), o dinheiro tem chegado mais pros MCs de batalha, e eu acredito que essa é uma forma obviamente de se sustentar, mas de conseguir também colocar a carreira para frente.
Tracklist: Qual o papel do Red Bull FrancaMente nesse aspecto? Como é essa oportunidade dada aos participantes?
Kamau: O Red Bull FrancaMente, por ter o âmbito nacional, traz mais oportunidades para as pessoas serem vistas, independentemente do lugar em que elas estão, porque a pessoa pode se inscrever da sua casa, e às vezes ela está em um lugar que não tem batalha semanal ou com batalhas com grande relevância e visibilidade. Então, estar nesse contexto com essa possibilidade de fazer o vídeo de inscrição em casa e mostrar o seu talento para o público nacional é uma ótima oportunidade, é uma ponte um pouco mais ampla e acessível para quem está mais afastado das grandes telas, digamos.
Clara: Acho que o Red Bull FrancaMente está chegando para inovar os formatos das batalhas, sabe? E o que eu pude presenciar de perto, é que é uma oportunidade única para muitos dos e das MCs presentes ali. Primeira vez de avião, primeira vez em um hotel, e de fato fazer um show com a batalha de rima com um som dahora, uma estrutura sempre muito incrível.
Tracklist: Podem trazer um pouco mais sobre os artistas que já passaram pelo evento? Como eles estão hoje?
Kamau: Do primeiro Red Bull FrancaMente, em 2018, temos mais pessoas que foram além das batalhas, principalmente o Cesar e Dudu, e o Winnit, que continua no circuito de batalhas mas sempre é o adversário a ser batido, isso desde o primeiro evento, e todo lugar que vai, todo mundo quer ou aprender, ou perder, ou ganhar do Winnit e falar que ganhou dele para colocar isso no currículo. Os destaques são esses, mas tem muita gente que está ainda se firmando no circuito de batalhas com tudo o que ganhou durante as participações no evento.
Clara: Acho que o maior exemplo é meu mano Winnit, que foi o vencedor da primeira edição do Red Bull FrancaMente e hoje é reconhecido como um dos principais nomes da cena de rap freestyle nacional, e que também vem trabalhando em uma carreira musical maneira pra caramba.
Tracklist: Como vocês definiriam o cenário atual do rap no Brasil?
Kamau: É muito difícil e perigoso definir um cenário, porque mesmo tendo tudo sob a mesma tutela, do mesmo rótulo do rap, a gente tem cenários diferentes para públicos diferentes. Temos pessoas que só acompanham o YouTube, que só acompanham os grandes nomes (igual quando está lendo o jornal e só vê as imagens, mas não necessariamente leem o conteúdo). Tem pessoas que querem o mais desconhecido possível para ter uma certa exclusividade ou para realmente pesquisar e conhecer coisas novas.
Temos tudo isso acontecendo, algumas coisas estão mais fortes e outras estão procurando caminhos, principalmente depois da pandemia. Acho que está bem diverso, mas gostaria que tivesse mais visibilidade para outras coisas. Não que o que está mais visível seja bom ou ruim, mas que não seja uma coisa só, que não tem uma uniformidade. Acho importante que a gente tenha opções nesse cardápio do rap.
Clara: O rap tem vivido um momento muito f*da mercadologicamente falando, mas acredito que ainda falta espaço e oportunidade para quem não é homem hétero cis.
Tracklist: Quais as dicas para quem gostaria de chegar mais longe nessa carreira?
Kamau: Respeita a sua verdade pra você ter um bom motivo para acordar no dia seguinte.
Clara: Acredito que não tem fórmula exata, mas é preciso acreditar acima de tudo e estudar, galera! Saber o que assina, saber de fato o que se faz e trabalhar arduamente!
Serviço
- Data: 30 de setembro de 2023 (sábado)
- Local: Audio – Av. Francisco Matarazzo, 694 – Água Branca, São Paulo – SP, 05001-100
- Horário de abertura: 19h
- Horário de início: 21h
- Apresentador: Rashid
- Pocket show especial: Teto
- Entrada: Gratuita, com retirada de ingressos por meio do link: redbull.com/francamente
- Transmissão ao vivo (apenas das batalhas do Red Bull FrancaMente): YouTube.com/RedBullFrancamente