Na noite de quarta-feira (8), rolou a listening party do novo álbum do Paramore, “This is Why“. Realizada em São Paulo, a festa aconteceu no FFFront, um bar super descolado e que ficou lotado de fãs, influenciadores e jornalistas ansiosos para ouvir o tão aguardado quinto álbum da banda. O disco foi lançado oficialmente nesta sexta-feira (10), quase seis anos após o último trabalho, “After Laughter”, de 2017.
Pela primeira vez em quase 20 anos de banda, foi entregue um álbum com a mesma formação do álbum anterior e isso é notável sonoramente. Hayley Williams, Taylor York e Zac Farro entregam extrema sincronia neste novo trabalho, o que prova a sintonia que antes podia ser vista em entrevistas e no palco.
O Paramore tem promovido o novo álbum e explicado seu conceito e referências em entrevistas. No ano passado, para a BBC, Hayley Williams revelou que se inspirou na banda britânica Bloc Party para compor a sonoridade do álbum. Recentemente, para a Entertainment Weekly, a vocalista afirmou que o disco é o mais “político” da carreira da banda e pontuou o conceito do trabalho.
“O álbum reflete algo do que todos nós estamos experimentando atualmente e a ansiedade disso. Mas também há a esperança de que nosso álbum e, claro, nossos shows possam ser uma libertação maravilhosa para as pessoas, uma fuga ou um abrigo do que está acontecendo”, disse Hayley para a EW.
Falando em shows, o Paramore vem para o Brasil em março para três apresentações: duas em São Paulo e uma no Rio. Conhecer o novo disco vai nos ajudar a entender o que esperar das novas (e aguardadas) vindas ao país. Vamos lá?
“This is Why”, do Paramore, começa agitado e com letras marcantes
O álbum começa com a faixa-título do álbum, “This is Why“, que já está na boca do povo e conta com, atualmente, quase 10 milhões de visualizações no clipe lançado em setembro. É uma ótima introdução pro álbum, apesar de essa escolha ser um pouco óbvia. Mas quem liga? Como Hayley diz na música: “se você tem uma opinião, talvez você deva guardá-la”.
“The News” é mais um single que também já emplacou. Ela vem forte, carregada de vocais poderosos e um instrumental agitado. Nessa o Zac brilha! E a letra faz uma crítica pesada aos meios de comunicação – o que não seria exatamente uma novidade, já que Hayley é fã número um de sair e voltar para o Twitter.
Se com as duas primeiras faixas você não tinha entendido que esse álbum está carregado de crítica social, agora você vai entender. “Running Out of Time” começa calma, um leve respiro na ‘barulheira’ inicial, mas que não dura tanto tempo assim – Zac e Taylor chegam e te jogam pra dançar. Se na primeira faixa a crítica é em cima das opiniões desnecessárias e a segunda faixa condena os meios de comunicação, na terceira a crítica é em cima da correria da vida. Um álbum feito pra jovens adultos, que cresceram ouvindo a banda e agora encontram as dificuldades da rotina.
Com “Cest Comme Ça“, a banda segue a mesma linha musical da anterior. A faixa já tinha sido lançada e gerou polêmica por ser sonoramente diferente dos trabalhos anteriores da banda. Não agradou o Twitter, mas na vida real botou todo mundo pra dançar. Esse detalhe só deixa a canção ainda mais irônica, que se traduz para “é assim que as coisas são”, e traz uma letra carregada de críticas ao dia-a-dia mundano: “Em um só ano, eu envelheci uns cem. Minha vida social? Uma consulta na quiroprata”.
Aos poucos, a consistência – e com ela, a melancolia e a serenidade
A quinta e sexta música, “Big Man, Little Dignity” e “You First“, são mais moderadas. Uma pausa merecida para os fãs que á essa altura já suavam de tanto dançar. Nessas fica muito clara a sintonia da banda e a destreza dos produtores, que mesmo com o inicio “descompassado” de Taylor e Zac em “You First” entregam conceito. Essas duas músicas são mais calmas, porém com vocais ótimos para se esguelar de chorar enquanto canta.
Nessa altura aqui é quando definimos se o álbum é enjoativo ou não. A resposta é: não. Mas…
Não é um álbum enjoativo porque ele não é entediante. Apesar das sonoridades das músicas serem bem parecidas, há elementos que trazem frescor às batidas e ao conjunto da obra. Porém, a dúvida se manifesta porque uma pessoa que não é fã do estilo talvez encontre dificuldades para seguir ouvindo o disco.
“Figure 8“, que ironicamente não é a oitava faixa do álbum, sobe um pouco a temperatura da pista novamente e segue o padrão do álbum: instrumental mais pesado contrastando com a voz de Hayley mais aguda, pausas entre versos e bateria dançante. Não é copia e cola, mas é parecido. Seria esta a consistência que os críticos pedem? Para nós, Paramore transitou na linha tênue: álbum consistente, mas que pode ser enjoativo para quem não curte a sonoridade.
Se encaminhando para o fim, a banda entrega três canções mais calmas. Em “Liar“, Hayley finalmente aposta na cantoria mais grave e baixa e assim conseguimos dar o veredito: ela está cantando mais do que nunca, cujo amadurecimento vem por meio do controle da voz. Lembra muito o seu álbum solo, assim como a próxima faixa “Crave“, que é ótima para ouvir encostado na janela do metrô fingindo que está em um videoclipe triste. Possivelmente, “Crave” vai agradar aqueles que sentem falta da pegada mais melancólica e “emo” nos vocais do Paramore, mas que ainda assim não dispensam um instrumental marcado.
O encerramento é com “Thick Skull“, que é quase uma canção de ninar ou uma “balada emo”. Aqui, Hayley embala a gente pra um instrumental gostoso, meio arrastado e que até dá para dançar agarradinho.
Conclusão
“This is Why”, do Paramore, é um álbum que começa agitado, com batidas rápidas e vocais agudos. Porém, conforme o desenrolar as faixas, a vibe fica mais calma. Da dança, a banda embala o público com canções mais serenas e até melancólicas.
Vai agradar todo mundo? Definitivamente não – mas aparentemente essa é a graça para o Paramore. Não é de hoje que a banda carrega ironia em sua essência, algo bem nítido nas letras do disco: se a sua opinião é negativa, você deveria guardá-la.
Para os fãs que amadureceram junto com a banda, o álbum traz assuntos pertinentes na vida desses jovens adultos, além de ter uma sonoridade nostálgica, mas sem ser uma cópia do passado. Ou seja: não é para quem espera ouvir algo como o “Riot!”, segundo álbum do grupo, de novo.
Sem espaço para o marasmo, a inovação e a sintonia dos três membros trouxeram frescor e aconchego ao novo trabalho. Sem dúvidas, Paramore cresceu e nos trouxe um álbum coeso.
Nota: 9/10