Por Karen Costa e Fernando Marques
Ah, o K-pop… Você provavelmente ouviu falar bastante sobre o assunto este ano. Se havia uma tag no Twitter aparentemente sem sentido, provavelmente era este o tema. Se alguém anunciava um show na internet, logo vinham comentários como “ok, mas e o K-pop?” (José Norberto Flesch que o diga!). E quando o BTS chegou ao American Music Awards, não se falou em outra coisa!
Mas vamos a um fato: para os fãs, os kpoppers, esse fenômeno é compreensível. Para os demais “meros mortais”, fica a simples dúvida: “mas o que diabos é esse K-pop?!”.
Se você se perguntou isso durante os últimos meses, é a hora de sanar a dúvida. Afinal, 2017 foi o ano em que o gênero explodiu, e precisamos agora mesmo falar sobre isso!
Para ajudar nessa missão, recrutamos alguns kpoppers, que esclareceram porque, no fim das contas, a música coreana ganhou tanto destaque.
O termo K-pop é uma abreviação de korean pop (pop coreano, em português). Para o Institut national de l’audiovisuel da França, o K-pop pode ser definido como “uma fusão de música sintetizada, rotinas de dança afiadas e roupas coloridas e modernas”.
O gênero incorpora elementos do rock, jazz, hip hop, R&B, pop e outros gêneros ocidentais, além de traços da música tradicional coreana. E principalmente: investe nas coreografias sincronizadas entre seus integrantes. O que não quer dizer, porém, que não existam artistas solo – os grupos são apenas mais populares, pois facilitam a identificação do público.
“O K-pop é um produto fabricado para dar certo”. A frase pode parecer forte, mas é uma ótima base de explicação para parte do fenômeno da “Onda Coreana”. A razão é simples: os idols, como são chamados os artistas do gênero, passam por treinamento por anos a fio, para se tornarem os melhores!
Tudo bem, nada de tão novo aqui. Hollywood faz o mesmo com seus atores e cantores (a Disney e seus sucessos mirins não nos deixam mentir!). Só que a formação dos idols coreanos pode ser comparado quase a um regime militar.
Primeiro, os aspirantes ao sucesso são recrutados, por meio de agências ou audições. Selecionados, eles se tornam trainees, e então recebem aulas diversas. Aprendem a cantar, dançar, a se portarem, a atuar, falar em público, línguas estrangeiras e outras habilidades. Tudo comandado e supervisionado por uma empresa especializada, que ainda oferece acomodação e educação básica aos seus pupilos.
O método foi popularizado por Lee Soo-man, fundador de S.M. Entertainment, umas das principais empresas do tipo na Coreia do Sul. Junto à YG Entertainment e JYP Entertainment, a instituição forma a elite de formação de idols, conhecida como as Big 3. As agências de Entertainment* são as maiores responsáveis pelos sucessos do K-pop atual.
Ao longo dos anos, há apenas preparação destes artistas. Depois, quando são considerados prontos, os indivíduos são reunidos em grupos e fazem sua estreia. Estreia essa minuciosamente preparada: um vídeo de lançamento é produzido, um single potencial sucesso divulgado, e a primeira apresentação num programa de TV sul coreano é pensada exatamente para essas ocasiões.
Há ainda reality shows disponíveis na televisão, em que trainees competem entre si para a formação de um grupo. As atrações são bastante populares no território coreano.
*Você deve estar se perguntando, o que são as Agências de Entertainment. Basicamente, as empresas são semelhantes às gravadoras que lançam artistas no Brasil. Só que na Coreia, isso é feito por agências. Algo semelhante também à formação de boybands e girlbands. Quem não se lembra quando Simon Cowell juntou o Grupo Fifth Harmony no The X Factor? Antes, todas se apresentavam individualmente, e ele as transformou em um grupo de sucesso mundial! O que essas agências fazem pode se comparar ao The X Factor. Eles analisam as pessoas interessadas, fazem audições, treinamentos, e formam grupos.
“Sempre fui fã da cultura japonesa em geral, e as rádios e animes que eu acompanhava costumavam tocar músicas coreanas. Depois, uma amiga me mostrou algumas bandas, e eu comecei a gostar” – Bruna Leles, 22 anos
“Conheci o K-pop quando PSY estourou no ocidente, em meados de 2012. A música dele tocava em todos os lugares, acabei ficando curiosa sobre o estilo e procurando mais” – Stéphanie Pavam, 21 anos
“Tive minha primeira experiência vendo os MV’s no YouTube, mas foi após ver um reality show do grupo GOT7, na Netflix, que tive interesse em saber mais” – Rebeca Pinho, 21 anos
Se você é um fã de K-pop, provavelmente se identifica com as situações narradas anteriormente. Habitualmente, os fãs do gênero conheceram os artistas coreanos em quatro situações:
1. Por já acompanharem a cultura oriental;
2. Pela indicação de um amigo;
3. Pelo fenômeno “PSY”;
4. E graças à internet!
As razões são plausíveis. O K-pop faz parte da cultura de um país conhecido no mundo basicamente por seu embate com a vizinha norte-coreana. É de se pensar que, talvez, caso não houvessem conflitos constantes e uma Guerra já ocorrida, Coreia do Sul pouco seria lembrada no ocidente. É algo comum: na visão ocidental, somos os mais “evoluídos”; Europa e América tem os principais polos econômicos; e fora China e Japão, a Ásia é só mais um pedaço do mapa.
Imagine toda esta visão, então, quando o assunto é música! Os Estados Unidos são o principal exportador da música mundial, e é muito mais prático ouvirmos algo em inglês do que, às vezes, em nossa própria língua. Por tudo isso, dificilmente uma canção numa língua “estranha”, mesmo que pop, se popularizaria facilmente, sem algo ou alguém para indicar o caminho.
Outro ponto crucial à “Onda Coreana” é a internet. Uma rede mundial que transmite informações e cultura pelo simples uso de um computador, ou principalmente, pelo uso de um smartphone. E então podemos dizer que o K-pop não só soube se aproveitar dessa ferramenta, como se fundou nela. Como? Pelos MV’s!
Os MV’s são os Music Videos (ou seja, videoclipes) criados por artistas sul-coreanos. Videoclipes extremamente produzidos, com efeitos especiais e coreografias. As coreografias, aliás, são ponto chave! Elas conseguem captar a atenção do público, são bem elaboradas e, especialmente, sempre contam com um “passo base”, simples e que pode ser repetido à exaustão pelos fãs.
Além disso, há dois fatores apontados pelos fãs:
“O sucesso acontece porque o gênero é algo novo por aqui, com um bom ritmo que fica na cabeça” – Rebeca Pinho, 21 anos
“Pelos fãs é claro. Somos dedicados quando o assunto é ‘panfletar’ nossos grupos e solos favoritos” – Letícia Silva, 13 anos
“EXO é um dos maiores e mais conhecidos grupos na Coreia, BTS é o que tem o maior público internacional. BIGBANG e Girls Generation são os grupos que estão na ativa há muito tempo, são como os idealizadores do K-pop” – Rebeca Pinha, 21 anos
“BTS, EXO, Blackpink e Twice são os grandes nomes dessa nova geração do K-pop, que estão fazendo sucesso não só na Coreia, como também pelo mundo” – Leticia Silva, 13 anos
“A rotatividade no K-pop é gigantesca. Um grupo que está desde o início na ativa é o BIGBANG. Só que atualmente, quem realmente está entrando para a história é o BTS, Blackpink, EXO e Twice, pois estão levando a cultura do K-pop para o mainstream americano” – Bruna Leles, 22 anos
O fato é que o K-pop tem seus precursores, assim como em todo gênero. BIGBANG e Girls Generation são os grandes artistas, que abriram portas para os novos nomes na cena. O primeiro se trata de um boygroup que teve seu inicio em 2006, mais de uma década atrás. O grupo foi formado pela YG Entertainment, teve seu primeiro lançamento feito em agosto daquele ano, e seu grande hit é a música BANG BANG BANG, considerada por muitos como o ponto de virada do K-pop.
As grandes influências do grupo vêm do hip hop, e suas coreografias contém muitos passos da dança de rua. O fã clube é um dos mais dedicados. Por serem os idealizadores do gênero na Coreia, BIGBANG recebe muito apoio não só da nação Coreana, pelo orgulho proporcionado, como dos fãs, que se empenham em divulgar cada vez mais suas músicas e clipes.
Já as garotas que formam o Girls Generation foram as primeiras a fazerem música pop com um grupo só de mulheres na Coreia do Sul. Também conhecidas como SNSD, foram formadas em 2007 pela SM Entertainment, com nove membros. “Gee”, “I Got a Boy” e “The Boys” foram os grandes hits da carreira das meninas. Em pouco mais de 10 anos de grupo, foram mais de 10 reality shows e 2 filmes com o tema Girls Generation. As visualizações em seus clipes somam mais de 1 bilhão de views.
- Bruna Leles, 22 anos
Sugestão: BTS – DNA
Sem sombra de dúvidas, a música que catapultou o grupo para o mercado americano. São 3 meses de vídeo no ar e quase 200 milhões de visualizações. Em todos os clipes do gênero, a sensação é que nada foi poupado para a produção. Além da performance no American Music Awards de 2017, o grupo também apresentou esta música no programa americano da apresentadora Ellen Degeneres.
- Rebeca Pinho, 21 anos
Sugestão: BANG BANG BANG – BIGBANG
Um clássico. Já citado anteriormente, foi um dos hits que fez com o K-pop se expandisse exponencialmente. Não só na Coreia, como também no mundo, abrindo muitas portas a quem estava e está, ainda hoje, começando. O grupo com mais de 10 anos de experiência utilizou os melhores elementos do hip hop e da música eletrônica na faixa.
- Matheus Lopes, 21 anos
Sugestão: Crazy – 4Minute
O já finalizado grupo foi formado em 2009 e alcançou altíssimos patamares – como ter trabalhado com Skrillex na faixa “Hate”. Após o fim, em junho de 2016, a única a renovar o contrato com a Clube Entertainment, criadora do conjunto, foi a cantora Hyuna, que seguiu com carreira solo dentro da companhia.
- Suelen Augusta de O. Lima, 17 anos
Sugestão: EXO – Monster
Também formado pela SM Entertainment, o grupo composto por 12 rapazes surgiu em 2011, mas teve sua estreia apenas em 2012. Inicialmente, o EXO foi dividido em duas bandas: o EXO-K, que cantava as músicas somente em Coreano, e o EXO-M, que cantava as músicas somente em Mandarim. Os hits “Monster”, “Call me Baby” e “Ko Ko Bop” somam mais de 400 milhões de visualizações apenas no YouTube.
- Peterson, 15 anos
Sugestão: Peek-a-Boo – Red Velvet
Sim, mais um girlgroup formado pela SM Entertainment. Lançado em 2014, o grupo composto por 5 garotas ainda não está no mesmo patamar comercial de EXO e BTS, mas já apresenta bons números. Seus clipes já somam mais de 200 milhões de visualizações. As meninas ganharam importantes prêmios na Coreia, como o Seoul Music Awards, e fizeram grandes turnês pelo país.
- Letícia Silva, 13 anos
Sugestão: Dope – BTS
De 2015, a música foi um dos sucessos do terceiro mini-álbum do grupo, The Most Beautiful Moment In Life Pt.1. A faixa dançante rendeu um vídeo que cativa a atenção, e em pouco mais de 2 anos seu MV alcançou 200 milhões de visualizações. A marca colocou o BTS no restrito time de artistas coreanos que haviam atingido o feito, como PSY, Twice e Blackpink.
- Isabela, 20 anos
Sugestão: Gee – Girls’ Generation
O Girls’ Generation hoje tem apenas cinco integrantes, mas quando ainda contava com nove delas colheu os frutos do sucesso dessa canção. O clipe, considerado “fofo” pelos fãs, tem um refrão chiclete, e os passos de dança mais simples acabaram conquistando quase 200 milhões de views no Youtube.
- Stephanie, 20 anos
Sugestão: “Not Today” – do BTS
Mais uma do BTS – sem dúvida, o grupo é um dos que promete perpetuar o K-pop pelo mundo. No MV da faixa, chamam a atenção os cenários diferentes e uma infinidade de ninjas que sincroniza suas coreografias com os integrantes do grupo.
“Por que você escuta se não entende? Como você diferencia os integrantes, se esses japoneses [sic] são todos iguais?”. Quando um kpopper, inclusive nossos entrevistados, dizem gostar da música coreana, essas são as reações que mais ouvem. E isso faz pensar.
De cara, é inegável que os idols coreanos são bem parecidos fisicamente. Também não é fácil entender tudo o que é dito. Mas sejamos sinceros: quem entendia inglês desde a primeira vez que ouviu uma música de um astro pop americano? Além disso, se esse era realmente um problema, os artistas já apresentaram uma solução: muitas das músicas têm trechos em inglês!
A realidade é que o diferente assusta. Sair da zona de conforto, assusta. Quando se está acostumado a algo, é muito mais fácil questionar ou julgar, do que tentar entender e dar uma chance a algo.
O grande ponto de virada do K-pop no Brasil são os fãs. Poderiam ser pessoas que apenas escutam K-pop, mas eles, todos eles, se esforçam sempre, não só para ajudar seus artistas favoritos, mas também para divulgar ao maior número possível de pessoas. E isso é extremamente respeitável.
O melhor é ver que, em 2017, a dedicação de todos estes fãs foi recompensada, e o Brasil recebeu inúmeros shows do gênero. Como do BTS, que arrastou multidões.
Finalmente….
De acordo com o Google Trends, ferramenta de análise de pesquisa, as buscas pelo termo “aulas de coreano” cresceram 25% desde novembro. Coincidência ou não, o período é o mesmo em que ocorreu o anúncio da performance do BTS no American Music Awards. Portanto, é claro que toda a “Onda Coreana” está gerando um interesse não só pelas músicas, mas pela cultura em geral do pequeno país asiático.
E você, não kpopper: dê uma chance ao K-pop! Descubra o quão divertido é assistir as coreografias dos idols e o pop chiclete, mesmo numa língua que você não entende. Talvez você perceba que o gênero não deve em nada aos grandes ídolos teens atuais.