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Conheça os principais nomes do grime brasileiro na atualidade

No início dos anos 2000, o grime surgiu nas rádios piratas de Londres como uma nova forma de expressão dos artistas underground, sob o forte impacto que o dance desempenhou por décadas no Reino Unido. O estilo, porém, assumiu vida própria no canto de diversos rappers ao longo das gerações seguintes, tornando-se um dos gêneros mais influentes produzidos na região.

O lançamento de “Boy In Da Corner”, álbum de estreia de Dizzee Rascal, marcou o começo de um novo momento no hip-hop britânico em 2003, levando o grime de maneira definitiva ao cenário mainstream ao conquistarenorme visibilidade por parte do público e da crítica. Caracterizado por um BPM (batidas por minuto) acelerado e agressivo, sem maiores regras ou padrões entre as canções, até hoje MCs como Skepta, Stormzy, Slowthai, The Streets, Ghetts e tantos outros têm ajudado a disseminar o ritmo pelo mundo — inclusive no Brasil.

Nos últimos anos, o rap nacional tem passado por diferentes transformações sonoras como parte do intercâmbio cultural com vários outros países. Assim, o grime conquistou um espaço próprio dentro do hip-hop nacional e, para muitos, representou uma oportunidade de artistas mais novos crescerem no cenário e desenvolverem um estilo autêntico, renovado por tantos outros elementos da música brasileira, principalmente do funk.


O grime brasileiro

O grime se instalou em muitas capitais brasileiras pelos anos 2010, tornando-se febre de São Paulo a Salvador. O gênero se popularizou ao longo da última década, quando uma nova geração de rappers conquistou o mainstream no Reino Unido e se fez ouvida ao redor de todo o mundo, representada por nomes como Skepta e Stormzy.

No Brasil, porém, o estilo teve seu primeiro respiro na voz de Vandal, artista nordestino que passou a incorporar o grime em seus projetos e logo o espalhou pelos festivais de Salvador. Em entrevista a Rolling Stone, o rapper considerou a identificação da cena alternativa da cidade com vertentes da música jamaicana, à exemplo do dancehall e do soundsystem, como crucial para o sucesso do gênero na Bahia.

O gênero tem se destacado cada vez mais no hip-hop nacional com vários sucessos pontuais, incluindo várias faixas dos paulistanos Fleezus e Febem, juntos ou individualmente. De pouco em pouco, a dupla destrinchou cada batida do grime para explorá-lo ainda mais a fundo em suas canções, tornando-se marca registrada de seus trabalhos futuros — como “BRIME!”, EP de 2020 produzido e assinado por CESRV que simboliza a consolidação definitiva do estilo à moda brasileira, ou o “brime”.


Não por acaso, a capa do álbum traduz perfeitamente a relação do grime brasileiro com suas origens londrinas. A bola que o zagueiro corintiano Chicão rouba de Eden Hazard, estrela da equipe também londrina do Chelsea, na final do Mundial de Clubes de 2012, carrega um forte simbolismo sobre como o Brasil se apossou das raízes britânicas do gênero (e do futebol) e as transformou de sua própria maneira, com reconhecimento inclusive dos próprios ingleses.

Outro marco decisivo para o sucesso do estilo pelo país foi a criação do “Brasil Grime Show”, programa que recebe artistas de todas as regiões desde 2018 para rimarem sobre as batidas de grime dos produtores cariocas Diniboy e ANTCONSTANTINO. Hoje com 78 mil inscritos no YouTube, o canal se tornou um espaço para muitos divulgarem seu trabalho e vários outros se identificarem com a música, derrubando as fronteiras que dividia o público.

O sucesso do grime no Brasil passa por diferentes mãos, e para se aprofundar na expansão do gênero pelo rap nacional, o Tracklist listou alguns dos principais de seus representantes no país na atualidade.

Foto: Jesse Bernard


Conheça os principais nomes do grime brasileiro atual

Vandal

Considerado por muitos como um dos principais pioneiros do grime brasileiro, Vandal é um de seus maiores representantes no país até hoje. O MC baiano foi um dos primeiros a experimentar misturar o peso do gênero com a estética da música brasileira, o que inspirou muitos a seguirem o mesmo caminho nos anos seguintes.

O rapper tem uma forte relação com a cena musical de sua cidade natal, tendo colaborado com vários outros artistas de renome que viriam a se destacar na capital baiana. Entre eles, destacam-se nomes como Lord Breu, produtor com quem já assinou várias parcerias, e o BaianaSystem, cujos shows têm a cerimônia de abertura conduzida pelo próprio Vandal.


Há muitos anos, o MC é conhecido pelas experimentações trazidas em seu som, mesclando diversas influências do drill e do UK garage muito antes de se tornarem febres do hip-hop nacional, como hoje são. O grime surgiu como mais uma de suas invenções pelos eventos musicais de Salvador, espalhando-se rapidamente pelas festas da cidade — uma tendência que se repetiria anos depois pelo Brasil.

No momento, Vandal trabalha na criação de seu aguardado primeiro álbum de estúdio, que ainda não tem nenhuma previsão de lançamento. No meio tempo, o rapper tem liberado vários singles avulsos que têm ajudado a espalhar seu grito artístico pelas regiões do Brasil.

Fleezus

“Respirei fundo, olhei o grime e foi fato, me joguei”, rima Fleezus em “UEFA”, um dos primeiros sucessos de sua carreira que representa bem sua conexão com o gênero. “Se é pioneiro? Não sei. Só tô fazendo valer minha vez”.


O rapper surgiu como um dos expoentes do grime brasileiro na primeira prateleira da música nacional em 2018, com a chegada do single “BRASILREALGRIME”, embora muitos de seus trabalhos anteriores já carregassem tal influência. Desde então, sua relação com o estilo apenas se fortaleceu, com o lançamento de diversas canções de sucesso como “12 Molas” e “Bonezin de Lado” que atraíram ainda mais fãs e visibilidade para a sua obra.

A popularização do brime na voz de Fleezus levou o MC a patamares inéditos em sua trajetória, atingindo públicos cada vez maiores e se firmando como um dos maiores representantes do grime no Brasil. No auge de sua fama, o paulistano lançou seu primeiro álbum de estúdio em 2020, introduzindo o “Eskibaile” ao cenário com hits como “Track Suit Mafia” e “City Runners”, além de parcerias com Febem, Kyan e Leall e produções de CESRV, Li-O e VHOOR.

Febem

Diretamente da Zona Norte de São Paulo, Febem talvez seja o nome de maior sucesso do grime brasileiro na atualidade. O rapper tem protagonizado uma ascensão meteórica em números e público ao longo dos últimos anos, tornando-se uma das principais figuras da nova geração do rap nacional.


Ex-integrante do coletivo Damassaclan e do grupo Zero Real Marginal, o cantor conquistou notoriedade com o lançamento do EP “Elevador” em 2016, no qual registrou seu primeiro contato em estúdio com o gênero ao lado do produtor CESRV, com quem colaboraria em vários projetos no futuro, como o divisor de águas “Running”. 

Lançado em 2019, o disco marca uma nova fase na carreira de Febem, que logo emergiu como uma das grandes promessas do rap brasileiro. Com parcerias com BK, Nill e Akira Presidente e hits como “Esse é o meu Estilo” e “Bolt”, o artista viu seu sucesso crescer exponencialmente pelos meses seguintes — uma tendência que se reforçaria após a chegada de “BRIME!”, em março de 2020, que consolidaria Febem e Fleezus como dois dos maiores porta-vozes do gênero por aqui.

Em abril desse ano, o rapper lançou um dos grandes álbuns de rap nacional do ano, “Jovem OG”. O disco tem a participação não só de revelações mais recentes do hip-hop, como Kyan, Jean Tassy, Tasha & Tracie e Vulgo FK, mas também traz a assinatura de Djonga na faixa “Me Paga”, representando um encontro de gerações que simboliza bem a importância do som de Febem na música atual.

Leall

Leall fez seu nome ser conhecido pelo Brasil a partir de 2019, quando lançou seu primeiro grande sucesso, “Cachorrada”. O MC carioca, contudo, rapidamente chamou a atenção pelo seu talento em gravar um hit atrás do outro nos anos seguintes, com uma personalidade autêntica em seu som que atraíram alguns dos maiores protagonistas do rap nacional, como Djonga e Sidoka.


Com fortes influências do grime e do drill em suas músicas desde muito cedo, o cantor representa como ninguém a estética brasileira que o gênero incorporou ao longo dos últimos anos, tornando o ritmo britânico conhecido na voz de rappers de camisa de time e boné de lado — uma realidade completamente diferente do Reino Unido: ainda mais expressiva e impactante, mas igualmente contornada pela criminalidade e pela vida urbana.

“Criminal Influencer”, lançada no mesmo ano, fez os números de Leall crescerem ainda mais, tornando-se reconhecido não somente como um exímio hitmaker, mas também pela sua habilidade em criar narrativas em meio aos seus versos, o que também o consolidou como um dos melhores no Brasil nessa arte.

Com o repertório de “Esculpido a Machado”, um dos grandes discos de rap nacional de 2021 até então, Leall deve alçar voos ainda maiores com as histórias de luta e desigualdade social que relata em suas canções. Com faixas ricas e inspiradas, o MC se consolida ainda mais, a cada lançamento, como uma das grandes promessas do país no hip-hop atual.

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