Romero Ferro é um cantor e compositor da cena musical independente brasileira, que traz uma proposta inovadora em seus singles combinando elementos do brega pernambucano, new wave e pop tropical, que criam um som único e envolvente. Em entrevista ao Tracklist, Romero Ferro detalha sobre a produção do seu single mais recente, “Difícil De Esquecer”, parceria com Danny Bond e DJ Zullu, fala um pouco sobre sua trajetória profissional, comenta as expectativas para o lançamento do futuro álbum e mais.
Entrevista: Romero Ferro
Tracklist: Poderia contar mais sobre como foi a produção de “Difícil De Esquecer” e a parceria com Danny Bond e DJ Zullu?
Romero: Já tinha um tempo que eu não estava mais lançando singles. O último que lancei foi com Lucy Alves (“Essa Paixão”, final de 2021). Eu estava organizando a minha vida, minha casa artística, para voltar com os lançamento logo pós-pandemia, voltando com turnês e tal. Eu sentia que precisava trazer material novo.
Acho que faz parte. A gente está sempre, de certa forma, atualizando a nossa arte, nossa frequência com as pessoas que estão conectadas com você. E porque eu realmente queria fazer coisas novas, me aventurar em outros universos diferentes dos que eu já havia experimentado.
Essa música ela veio na vontade de fazer um feat com Danny Bond. A gente já tinha conversado sobre essa ideia, mas isso ficou guardado. Nos conhecemos em 2020, quando ela foi para o meu bloco lá em Recife/PE, que é no Galo da Madrugada, o maior bloco de Carnaval ao ar livre do mundo, que tem entre 30 a 40 trios elétricos. Ele leva, em média, de 3 a 5 milhões de pessoas para a rua no sábado de Carnaval.
Eu tenho um trio nesse Bloco, que faz parte do meu projeto Pop Tropical, e nesse ano de 2020, estava recebendo como convidada especial a Pabllo Vittar, que coincidentemente levou Danny também. A gente não se conhecia pessoalmente, foi um dia extremamente divertido. Desde então, ficamos nos falando para fazer alguma coisa.
Então, no final do ano passado, eu escrevi “Difícil De Esquecer” junto com outro parceiro compositor WR no Beat, e montamos essa música. Mandei para Danny, ela gostou de primeira e disse que ia fazer o verso dela para a canção. Ela fez o verso, achei legal e falei que sentia falta de mais alguém para somar a nossa colaboração.
Foi quando mandei a música para DJ Zullu, e ele amou. Perguntei se ele gostaria de escrever algo e ele disse que não, mas que queria colocar um beat de funk. Com a sugestão, o beat entra ali no refrão e na parte da produção musical também. E aí pronto! Surgiu “Difícil De Esquecer”, que tem um pouco dos três, das nossas raízes.
Eu e Danny somos artistas nordestinos, eu de Pernambuco e ela de Alagoas, temos trajetórias que passam muito por essa referência do forró, piseiro e arrocha, que são ritmos muito fortes lá no nordeste. E o Zullu é do Rio de Janeiro, o funk está na veia dele, ele produz funk, tem muitos hits e tal.
E como está sendo esse retorno do público? Vi que tem gente fazendo a dancinha do single. Foi proposital?
Foi proposital no sentido de, dentro do mercado pop, você já lança uma música que, se fazer sentido com o seu trabalho, é bom já lançar uma coreografia pensada nas redes sociais. A gente já lançou a música junto com uma coreografia feita pelo Dante Olivier, ator e influencer pernambucano, e a Sémada Rodrigues, também pernambucana. Eles fizeram a coreografia, soltamos, e uma galera começou a enviar os vídeos.
Que legal, deve estar sendo bem divertido ver como as pessoas aproveitam a dancinha!
É muito bom! Eu sou um artista independente desde sempre, então é um trabalho de formiga, porque eu não tenho uma gravadora por trás ou um investimento imenso. Você vê esses lançamentos grandes (de artistas que eu admiro), eles já vem com tudo arquitetado de dominação de mercado.
O lance do trabalho independente é dar um passo de cada vez, realmente colocar em volta de você pessoas que estão conectadas contigo e seu trabalho. Todo mundo que fez a dancinha, artistas e atores, foram pessoas que, de certa forma, a gente já tem um certo tipo de relação, e fizeram porque gostaram da música de verdade! Isso para mim vale muito.
Você diria que esse é o maior desafio sendo um artista independente?
Sim. Acho que você precisa sempre pensar o que você quer para a sua carreira. Eu sou de Garanhuns, interior de Pernambuco, saí de lá e fiz toda essa trajetória para ir morar em Recife, e agora estou há três anos no Rio de Janeiro.
Eu saí de Pernambuco porque queria ampliar os meus horizontes, minhas conexões – tanto com a arte como com outros artistas que eu admirava. Me deparei com muitas coisas que foram muito positivas e que também foram muito negativas, coisas que estimularam e que me desestimularam.
Estar no Rio, nessa conexão Rio/São Paulo, me faz ter uma noção exata do meu tamanho, da minha força, valorizar muito isso e entender como esse mecanismo funciona. É uma engenharia em que existem investimentos, todo um plano de marketing por trás. Acho que a diferença de artistas independentes para artistas que já tem esse suporte é justamente isso.
Porém, eu como artista independente e os artistas do mercado independente no geral não devem se sentir intimidados ou menores por conta disso. Eu acho que você precisa entender o que é que você quer fazer, porque eu conheço vários artistas que são muito felizes e bem resolvidos com o tamanho, público e quantidade de shows que eles fazem.
Nesses três anos morando no Rio de Janeiro já sentiu a diferença na sua carreira?
Já, sim. Acaba que, nesse eixo aqui Rio/São Paulo, por você estar aqui, obviamente levantam várias outras questões, como o custo de vida. As cidades funcionam de formas diferentes. Tenho entendido isso e até me questionado sobre talvez o que é que eu quero para a minha vida, continuar morando no Rio ou em São Paulo, ou voltar para Pernambuco.
Eu senti uma diferença muito grande no meu trabalho, na forma como eu encarei meu trabalho principalmente. Acho que eu entrei em um mood de: “eu preciso fazer as coisas acontecerem e quem tem que fazer isso acontecer sou eu”. Eu sou o dono do meu projeto, a mola propulsora que irá incentivar as pessoas a minha volta para acreditarem nesse meu sonho.
Você estar conectado nesses mercados maiores te dá uma dimensão maior porque, de três anos para cá, foram os anos que eu mais cresci em números, vendas de shows, cachê, streaming, e olha que tivemos dois anos de pandemia aí nesse meio. Os acessos são melhores também, pois você acaba encontrando mais coisas no dia a dia que, estando em Pernambuco, eu não encontraria. O networking faz grande diferença nesse processo.
E quais os planos de lançamentos para o futuro, o que tem em mente?
Depois desse single com Danny, vai sair outro single que é um feat, uma música surpresa que ainda não posso anunciar. Ele vai sair logo, acredito que na primeira quinzena de agosto! O que eu posso dizer de antemão é que é um feat em que regravamos uma canção de um artista muito conhecido.
Logo em seguida chega o meu disco novo. Acredito que em setembro começam os lançamentos desse álbum. Esses dois singles, a princípio, não estão dentro do projeto do disco, então este ano vai ser movimentado o segundo semestre. Ano que vem também, porque vem turnê nova, projeto novo no mercado e tal.
Então já está com saudade dos palcos?
Em um ano de trabalho, no dia 11 de julho, fizemos o septuagésimo show. Eu estava meio que fazendo uma turnê de despedida da era passada, achando que ia fazer uns seis a 10 shows, acabei fazendo 70. Foram agendados os shows de despedida e então eu lançaria o disco. A minha ideia, inclusive, era lançar no segundo semestre do ano passado.
Deve estar com bastante expectativa para lançar o álbum!
Sim. Ele não está gravado há tanto tempo assim, mas eu estou com a ideia dele há quase três anos, sabe? Escrevendo, pensando no que vai ser a estética, nas músicas, nos feats e tal, fazendo com muito carinho.
Ia lançar no final do ano passado mas, por conta do sucesso dessa turnê de despedida, eu achei mais prudente segurar um pouco o lançamento do disco e soltar esses singles, que também já estavam para sair em algum momento.