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Entrevista: MC Taya fala sobre seu primeiro EP, “Betty”

O trabalho conta com cinco faixas, incluindo o single “Betty Boop”

mc taya
Foto: Guilherme Sena

MC Taya lançou, nessa segunda-feira (13), o primeiro EP de sua carreira, denominado “Betty”. O trabalho apresenta 5 faixas, incluindo o single “Betty Boop” – que sintetiza bem a mensagem do projeto.

Baseado na famosa personagem dos quadrinhos, o EP da artista aborda temáticas como o embranquecimento e marginalização, e traz ideias de empoderamento e representatividade para mulheres negras. Além disso, a sonoridade do trabalho mistura gêneros que raramente são colocados em conjunto: o funk, rap, trap e rock.

Na última semana, MC Taya deu uma entrevista ao Tracklist para falar sobre o projeto. Confira abaixo!

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Entrevista: MC Taya

Recentemente, você lançou a faixa “Betty Boop”. Qual é a ideia por trás dessa música?

“Eu escrevi ‘Betty Boop’ eu escrevi em um momento em que assimilei que a personagem tem muito a ver com qualquer mina de quebrada. Tipo, a minha mãe é muito apaixonada pela Betty Boop, e eu conheço muitas mulheres de meia-idade apaixonadas por ela. Eu a vejo Betty Boop como um cartoon da cultura pop de várias épocas: ela hypou nos anos 30; depois, de novo nos 60. E eu lembro que quando eu era criança, nos anos 2000, ela também era muito hypada. Eu tive fichários e várias coisas da Betty Boop.

“Para mim, ela simboliza muito as mulheres de periferia que eu via quando criança, que todo mundo julgava de tudo quando é jeito, mas ela estava lá, bebendo a cachaça dela, fumando o cigarro dela, dançando no pagode, nem aí pra ninguém. E essa vibe também é das novinhas que vão para o baile, e que todo mundo xinga, e elas não estão nem aí para nada. E isso me passa muito uma vibe Betty Boop. Simboliza muito isso, a liberdade que a mulher da periferia e mulher preta de favela impõe, sabe?”.

“E eu sinto muito isso na Betty Boop também, que veio de uma mulher negra, que estava ali num espaço-tempo extremamente racista e machista, um patriarcado muito forte. E mesmo assim, ela estava ali no cabaré, dançando, cantando, fazendo tudo que as mulheres não podiam fazer. Veio mais ou menos disso. É uma letra que fala sobre esse posicionamento, essa liberdade sexual; e que reconhece a mulher em primeiro lugar, e a entende como um grupo – eu falo de todas, eu falo que é o ‘bonde das Betty Boop’, então estou falando sobre todas essas mulheres”.

Você está prestes a lançar o primeiro EP de sua carreira, “Betty”. O que o público pode esperar desse trabalho?

“Cara, eu acho que o público pode esperar muita autenticidade, um trabalho muito diferente de tudo que eles já escutaram. Realmente está uma coisa muito autêntica, é uma essência muito minha. Eu sempre quis muito que a sonoridade tivesse a ver comigo, tivesse a ver com minha história de vida. E a minha história de vida foi o rock, minha essência de música foi o rock. Logo depois, eu fui conhecendo ritmos que eu fui amando, que foi o funk, o rap”.

“E eu sempre disse que todos esses ritmos – que digo que são os meus ritmos do coração –  têm uma tangente, um ponto ali em que se encontravam. As pessoas falavam: ‘Não, como assim, você gosta de rock pesado e ao mesmo tempo gosta de funk, não tem sentido’. E eu dizia: ‘Gente, tem sentido’. O grave é o mesmo, a potência é a mesma, a explosão é a mesma. E eu sempre entendi muito a percussão, sentia que estava muito presente nesses três ritmos”.

“E também, o que eu sempre falei que o que está presente nos três ritmos é a contracultura, é a agressividade, a atitude, é ser marginalizado. O rock foi muito marginalizado, o funk foi muito marginalizado, o rap também. E todos são ‘música de preto’. Tem muita coisa a ver, não é pouca coisa. E eu queria mostrar como eu via essa junção, sabe? Como eu sentia isso. E eu consegui fazer um EP realmente explosivo, agressivo, divertido; que você vai conseguir rebolar numa música e na outra vai colocar a mão na consciência e militar um pouquinho [risos]. É um EP que está muito bacana para visitar todos esses meus moods”.

Com isso, você consegue imprimir sua própria identidade, certo?

“Vamos ver aí se a gente consegue formar uma nova cena com um novo estilo! Mas eu acho que isso é um mero detalhe, acho que o Brasil já tem mostrado muita coisa nova e interessante. Eu sinto vários novos artistas que estão fazendo coisas incríveis, e que eu admiro, me inspiro, como BADSISTA, Jup do Bairro, Black Pantera, enfim. No funk também, o novo CD da Deize Tigrona – ela para mim é presente, passado e futuro. Eu vejo muitos artistas que estão vindo numa contramão muito interessante de sonoridade novas, de estética visual, e eu acho que eu também estou vindo nessa leva”.

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Foto: Guilherme Sena

No ano passado, você foi anunciada como uma das primeiras apostas do selo HERvolution, da Kondzilla. Para você, o que significa fazer parte dessa iniciativa?

“Foi muito bacana quando eu recebi esse convite, foi muito legal, porque é um selo de mulheres. E acho que essa é uma necessidade urgente, extrema do mercado de ter isso presente. Mulheres mais presentes na indústria da música, sendo empresárias, produtoras musicais, engenheiras de som, enfim… acho que em todos os âmbitos, a indústria da música precisa de mais mulheres. E, para mim, foi confortável entender que eu estava sendo querida em um espaço de mulheres. Eu sempre frequentei coletivos de mulheres desde nova, então, para mim, me aproximar de mulheres é muito mais proveitoso, produtivo, confortável, seguro. Então foi muito bom, e eu acredito que seja bom ter vários selos desses, não só o HERvolution”.

Você é formada em Artes Cênicas. Como a sua graduação influencia no seu trabalho como artista musical?

“Influencia muito, muito, muito. Em todos os âmbitos. Eu sou formada em Artes Cênicas com habilitação em Indumentária (figurino). Artes Cênicas fala por si só, é o teatro. Eu estudei dramaturgia, história do teatro, história da arte, o teatro experimental do negro. E isso fundamentaliza muito a minha obra, porque sou rapper, gosto de ser bem storytelling – que é aquela técnica de passar uma historinha enquanto escreve, passar um enredo e uma narrativa; e isso eu trago muito para as minhas músicas. O EP conta um pouquinho da minha história. Da primeira até a última música tem um significado, simbologia e cronologia muito interessantes”.

“E isso tudo veio do teatro, essa questão da dramaturgia. E, em paralelo, a questão do figurino me ajuda muito a pensar esteticamente e visualmente no EP. Eu sou uma pessoa que acredita muito em expressão visual para comunicação, acredito fielmente que a gente se comunica com as nossas escolhas pessoais e particulares de cabelo, maquiagem, roupas, etc. Ter estudado isso me faz pensar como eu quero que as pessoas me leiam nesse momento. Como as pessoas entendam o EP nesse momento, com que cara vejam o EP”.

“E nele a gente vai ter algumas fases estéticas. A gente começou mostrando eu bem caracterizada de Betty, toda a comunicação do EP está sendo essa, para as pessoas conhecerem essa Taya-Betty que está vindo. E em breve nós vamos ter uma comunicação um pouco mais agressiva, que é quando as pessoas vão ter o EP em mãos e entender a agressividade dele. Então a gente vai trabalhar um pouquinho a estética também, e eu acho que essa questão da moda e do figurino, de ter estudado isso, me ajuda demais, complementa muito”.

Dessa forma, você consegue contar a história em vários formatos diferentes?

“Tudo vai ser uma forma de contar a história do EP, e a gente vai ficar contando várias vezes de várias formas. Cada pessoa pode entender de uma forma. Tem pessoas que vão entender mais quando verem o show, tem pessoas que vão entender mais quando escutarem em casa, tem pessoas que vão entender mais quando verem um clipe, ou lerem as letras. Então, a gente pensa em trabalhar esse EP de várias formas de arte. E que as pessoas se sintam tocadas, cada uma pela forma que curtir mais”.

Foto: Guilherme Sena

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