Nesta sexta-feira (5), a banda Fresno divulgou a Parte 1 de seu mais novo álbum de estúdio, intitulado “Eu Nunca Fui Embora”! Com 7 faixas no total, o projeto inclui a música que dá nome ao disco; além de “Eu Te Amo / Eu Te Odeio (IÔ-IÔ)”, em colaboração com Pabllo Vittar.
O trabalho marca um momento mais maduro da carreira do grupo, que completa, em 2024, 25 anos de atividade. A segunda parte do álbum deve chegar às plataformas digitais no meio do ano, em conjunto com uma nova turnê.
Em recente entrevista ao Tracklist, o vocalista Lucas Silveira comentou alguns detalhes do álbum. Confira a conversa abaxo!
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Entrevista: Lucas Silveira, da Fresno, dá detalhes do álbum “Eu Nunca Fui Embora – PARTE 1”
Você já comentou anteriormente que esse é o “disco da carreira”. Então, queria saber o porquê desse trabalho ser tão importante para a banda.
“É que as pessoas costumam achar que música é diferente dos outros ofícios, das outras artes. Acham que música é uma coisa mágica. E, óbvio, ela é mágica no sentido de se conectar com as pessoas de uma maneira mais espiritual. Mas, no fundo, isso que eu falo de esse ser o melhor disco que a gente já fez, é porque estamos no nosso melhor como banda. A gente está vivendo um momento que, a partir da nossa experiência no mercado mesmo, tem rolado muito. E, como produtor, essa experiência vai se acumulando. Então é natural que a gente vá pegando uma clareza cada vez maior em tudo que a gente faz, a ponto de fazer e conseguir se agradar cada vez mais.”
“Acho que esse é o primeiro passo para um artista: ele tem que fazer um bagulho e falar assim: ‘Nossa, isso aqui está absurdo. Eu seria muito fã disso aqui’”. Eu vou achar estranho quando a gente fizer um álbum e não achar o melhor de todos os tempos. A gente sempre acha. Mas acho que, com esse, a gente está achando um pouco mais, porque não é uma impressão só nossa. É uma coisa da gente sentir uma espécie de prenúncio; de que esse vai ser um disco que vai marcar um momento muito bom da banda. E as coisas não acontecem sozinhas, é um resultado do que a gente está fazendo agora. E acho que o bicho vai pegar muito. Vai ser muito incrível.”
Uma das faixas desse álbum é “Eu Te Amo / Eu Te Odeio (IÔ-IÔ)” com Pabllo Vittar. Como surgiu essa parceria?
“A gente descobriu que ela é muito fã da banda pela internet. E é muito louco, assim, porque o emo e a nossa banda foram muito longe no Brasil, na música popular. Acho que, no Brasil, foi uma coisa muito mainstream. Então, por causa disso, têm pessoas que a gente nem sonha que eram fãs, ou que são fãs, e descobrir isso anos depois é muito massa. E a Pabllo falou que a trilha sonora da adolescência dela foi a Fresno. Isso já colocou ela numa espécie de órbita, de tipo: ‘Pô, vamos chamar ela para fazer uma música um dia’. E aí surgiu essa música. Acho que, quando a gente faz um feat, o critério que existe nunca é o critério que as pessoas usam, de assim: ‘Ai, os caras têm bastante ouvinte, vamos botar eles que vai ser massa’. A gente faz vários feats com artistas que tem muitos menos ouvinte, que são artistas menores no mercado. Então acho que o critério é algo do tipo: ‘Quem que vai nos ajudar a contar essa história?’ E eu acredito que essa música tem muito a cara da Pabllo, tem a ver com essa faceta mais divertida que a música dela tem. Ao contrário da Fresno, que é mais conhecida por ter uma coisa melancólica nas músicas.”
“Mas com o tempo, com a maturidade, eu tenho percebido que um álbum não precisa ser inteiro melancólico. Acho que as [faixas] melancólicas ficam até melhores quando elas estão no meio de sentimentos um pouco mais leves. E esse disco é muito sobre isso. Percebi isso ouvindo depois, não foi feito dessa maneira, mas eu percebi depois que o disco fala muito sobre relacionamentos em um sentido que a gente não falava tanto. Eram muitas músicas sobre alguém que se foi, ou alguém com quem nunca conseguimos estar; alguma coisa que acabou, ou alguma coisa que a gente quer muito que comece. Agora, a gente fala sobre um relacionamento que está acontecendo, né, e aprendemos a falar disso da nossa maneira – que é sempre trazendo um drama, uma melancolia. A forma que a gente enxerga os relacionamentos e o mundo é essa. E, enfim, tudo isso tudo só para dizer que, para essa música, a Pabllo tem tudo a ver. Não podia ser outra pessoa.”
Uma parte importante desse projeto é, também, a identidade visual, que é baseada no final da década de 70. Quais foram as inspirações por trás dessa estética?
“A gente busca elementos estéticos que tragam uma atemporalidade para o disco. Então, quando a gente pensa numa capa de disco, é diferente de pensar uma arte que a gente vai colocar num post ou em um story. Eu gosto de capas de discos que são atemporais. Você pega uma capa da Rita Lee dos anos 70 ou 80, e o negócio poderia ter sido feito ontem. E, hoje em dia, existe muito uma busca por fazer uma capa de disco que foi só para o Spotify, mas tem cara de disco velho; e aí você vai lá e dá uma desgastada nas cores. E isso ajuda as pessoas a acharem que tudo na vida é um filtro. Eu deixo tudo aberto para a nossa fotógrafa – que está por trás de todas as fotos promocionais da banda desde o ‘Sua Alegria Foi Cancelada’, que é a Camila Cornelsen –, para ela ver o que está afim de investigar fotograficamente, imageticamente, e que tenha a ver com as músicas. Então essa parte criativa vem muito dela. Ela deveria dar uma entrevista! Eu gosto de focar em fazer as músicas e, óbvio, tem muitas conversas sobre o que a gente vê, como a gente vê, como a gente quer aparecer.”
“Então nesse álbum a gente foi chegando em uma coisa diferente: as fotos são digitais, mas elas foram impressas, então elas têm uma textura. E hoje em dia é muito fácil fazer uma foto com a resolução infinita, que traz até coisas que a gente não quer ver. Quando a gente pegava uma capa de disco dos Beatles, não dava para ver detalhes na cara do Paul; era quase uma representação do que ele era. Se pegar as fotos mais antigas, de 30 anos atrás, é quase um desenho. Você não consegue ver muito, e isso tinha uma certa magia. Hoje em dia, quando você vê um filme, ou um clipe de K-pop, é tão detalhado e tem tanta resolução que você fica meio ‘Pô, nem queria ver tudo isso’. E eu acho que isso tem muito a ver com a música, também. Uma música que não seja 100% limpa, transparente e perfeita… o rock tem muito disso. Então acho que a proposta é fazer sempre com que essa parte visual converse com a parte musical, e acredito muito ali que, no final dos anos 70, foram os últimos respiros de uma música feita de forma bastante analógica. Aí já começaram a surgir os primeiros pensadores, que a gente adora, mas nisso começou a se massificar mais a produção musical, os efeitos digitais começaram a surgir. Tinha isso demais nos anos 90; anos 2000, já era pro tools direto. Que, no fim das contas, é o que a gente usa, temos o trabalho bastante facilitado por meios digitais.”
“Mas a gente sempre busca essa atemporalidade. E uma sonoridade que não seja tão pronta. E acho que isso é o que faz as pessoas quererem ouvir o disco mais vezes, para ficar sorvendo pequenas camadas, pequenas coisinhas, pequenos detalhes. Porque é muito tempo que a gente fica fazendo isso, não tem pressa. Não é algo que a gente pega um mês da nossa vida para gravar um disco. Não, a gente está há dois anos fazendo música por música, devagarinho. E acho que isso tem uma diferença lá na frente quando sai.”
Vocês estão fazendo umas ações bem legais para promover o álbum – como o ônibus que deu carona para os fãs no Lollapalooza 2024. Como foi essa experiência?
“Então, a gente tem que guardar metade da nossa energia para fazer um disco para divulgá-lo. E acho que muitos artistas às vezes não têm paciência para isso. Mas, para mim, é um trabalho tão criativo quanto produzir música. E como a gente já tem um fandom, é mais fácil de trabalhar. Aí a questão é: ‘Como vou ativar todos eles, e colocá-los nesse mood do álbum?’ E a gente tem conseguido fazer isso muito bem com os últimos discos, sempre com campanhas digitais, campanhas que não envolvem muita grana. Não existe aquele negócio tipo do sertanejo, de botar anúncio antes de um vídeo no YouTube. Gostaria de ter grana, mas não tem, é um dinheiro descomunal. Não cabe para nós. nosso objetivo é atingir o nosso público. Porque às vezes atingir o teu próprio público, o teu próprio ouvinte, já é muito difícil.”
“E é por isso que a gente vai lá, dá entrevista, aparece em tudo quanto é canto. Pega a semana do disco e faz ser a mais massiva possível. Porque a gente não faz isso muitas vezes na vida – a gente só lançou 10 discos [risos]. Então foram só 10 vezes que a gente teve de pegar, lançar, vender. A gente se obriga a aprender. E a cada ano a receita muda, também. Então eu meio que eu fiz meu lado publicitário, assim. Não sou formado, mas eu estudei publicidade, e eu gosto disso. Me fascina essa ciência que existe de como fazer uma ideia atrair as pessoas. E, nessa parte comercial do álbum, é um negócio que eu gosto de trabalhar. E, claro, podendo ter uma equipe, a gente consegue viabilizar essas coisas.”
Por último, “Eu Nunca Fui Embora – PARTE 1” implica na existência de uma Parte 2. Sei que ainda é cedo para comentar, mas o que você poderia adiantar desse projeto?
“A gente está, nesse momento, finalizando a Parte 2. Ela já parecia pronta no passado. Mas com o tempo a gente fica: ‘Hum, vou mexer um pouquinho nessa aqui, vou mexer um pouquinho ali’. E a gente se apaixonou tanto pela Parte 1 que pensamos: ‘Tá, essa Parte 2 tem que vir forte também’. Mas eu gosto da ideia de lançar o álbum em dois capítulos, gosto da ideia de fazer o lançamento durar mais tempo. Para não ser algo de lançar em abril, e em junho ninguém mais lembrar que saiu um disco novo. Então, lá no meio do ano, a gente vai ter uma nova oportunidade de dizer que existe um disco novo saindo. E pessoas que a gente não conseguiu impactar agora porque, sei lá, estavam estudando para o Enem, vão ser impactadas lá na frente.”
“É muito difícil, é o grande desafio fazer todo mundo saber que saiu, porque você precisa provocar muitas coisas. Tem que fazer essa pessoa pensar [no álbum], fazer ela separar um tempo. Aí ela vai pegar um busão, pegar o carro, e pensar em colocar o disco novo para ouvir. E ela tem que ouvir, tem que compartilhar, mostrar para o amigo dela… É um negócio que exige um trabalho muito, muito forte. E, óbvio, custa muita grana. E fazer sem grana é, assim… aí que é a magia. Porque hoje em dia também não importa quanto dinheiro uma dupla sertaneja vai botar, porque já tem um público que vai chegar neles. Mas o que a gente usa para chegar no nosso público é a criatividade. Mas a Parte 2 também vai vir poderosa”.
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