Neste mês de maio, o CPM 22 lançou o disco “Enfrente”, o primeiro de estúdio desde “Suor E Sacrifício” (2017). É o oitavo trabalho da banda e apresenta 14 faixas inéditas e autorais que refletem a sonoridade e influências que em quase 30 anos de carreira tornaram o grupo uma referência no rock nacional. Em entrevista ao Tracklist, o vocalista Fernando Badaui conta mais sobre a produção, processo criativo, influências e mais sobre o novo disco.
Entrevista: Badaui fala sobre “Enfrente”, novo álbum do CPM 22
Tracklist: A gente gostaria de ouvir mais sobre o novo álbum do CPM 22, que inclusive gostei muito! Li que o trabalho começou ali na pandemia, como foram esses estágios iniciais e processo criativo da produção?
Badaui: Obrigado por ter gostado do disco! Na verdade, a ideia de lançar o disco já partiu antes da pandemia, mais ou menos no final de 2019, já queria lançar em 2020. Aí acabou vindo a pandemia e a gente obviamente deixou de stand by, mesmo já tendo lançado no final da pandemia alguns singles com essa formação nova, mas a ideia era de lançar um disco. A gente já tinha começado a compor as músicas.
Inclusive, essas cinco que lançamos na pandemia possivelmente fariam parte do disco se tivessem sido lançadas antes, mas acabou que, de músicas compostas na pandemia, se bobear tem uma ou duas. O que tem mais é realmente alguns textos que eu já havia escrevendo, isso desde antes da pandemia, na estrada, durante o período da pandemia também, mas coisas que eu nem pensava em música ainda, são coisas que eu escrevo aleatoriamente.
Quando a pandemia acabou, em 2022, a gente voltou fazendo shows com tudo e a vontade de lançar [um álbum] continuou, mas quando desse, sabe? No final das contas, a gente foi postergando por vários motivos, porque quando voltamos da pandemia a banda precisava se recapitalizar, voltar para a estrada… A gente fez muitos shows em 2022 e 2023, e tentamos lançar o disco no final de 2023, mas acabamos lançando agora só em 2024. Mas está bom, tudo no seu tempo! Porém, com certeza carregamos algumas coisas daquela época.
Entendi. Esse álbum é o primeiro da banda desde 2017, certo? Como é estar retornando para um novo trabalho, para uma nova fase do CPM?
Demais. A gente já estava com vontade de lançar um disco faz algum tempo, mas foi muito louco, porque eu e o Luciano Garcia [guitarrista] a gente compôs muitas músicas meio que à distância, mesmo já no pós-pandemia, com a vacina e tudo, voltando a fazer shows. A gente pegou a metodologia da pandemia, eu mandava uns textos para ele, ele musicou alguns, fomos lapidando… O Phil Fargnoli (guitarrista), [tiveram] letras que eu fiz para as músicas dele, ele é meu vizinho, ia lá na casa dele, aí era mais presencial mesmo. As minhas com o Luciano foram um pouco mais à distância, mas com o Phil não.
Foi muito legal lançar agora o disco, fazia um tempão já que a gente não lançava. Acho que a galera estava com vontade, a gente também estava com vontade, e tudo no seu tempo, como eu falei. Porque todos esses adiamentos do lançamento, ou da fase de composições, isso ajudou a gente a sair [com] mais músicas. Tiveram músicas que entraram já próximas à gravação do álbum. O disco tem que sair na hora que tem que sair. A maior prova disso é que nem todas as composições que fizemos antes acabaram entrando, tiveram músicas que a gente acabou fazendo em cima da hora que acabaram entrando, e ficaram mais importantes para o disco pela identidade que ele tem.
Conversaram melhor no projeto como um todo, né?
Isso. E também, quando você fica muito tempo compondo, aí não é uma questão de as músicas serem boas ou não, é mais de ter a ver com aquele trabalho, com aquela identidade daquele disco em si. Muita gente falou isso para mim, por mais que as músicas tenham diferenças entre elas, como álbum, elas se completam, sabe? Então, o disco está bem legal, está refletindo uma fase muito boa da banda e também nesse momento tão louco da sociedade que a gente vive. É um disco bem reflexivo, por assim dizer.
Eu li que vocês, para o primeiro single “Mágoas Passadas”, usaram pela primeira vez sintetizadores. Como foi essa adaptação da banda para uma nova sonoridade? Isso foi um exemplo?
Não, tem bandas que a gente gosta que já usaram. A gente mesmo já usou teclado, sintetizador não, mas era mais o teclado mesmo, não é uma coisa muito espacial, sabe? É mais uma harmonia de teclado ali que o Pedro Pelotas [tecladista] fez, e ela dá um clima a mais na música, dá uma harmonia para ela, a letra surfa mais em cima dessa harmonia, o teclado ajuda a fazer isso.
Tem outras músicas que ele fez também, até mais rápidas. A “Urbano” tem teclado também. Mas se pegar o Rancid, ou The Clash, Social Distortion, várias dessas bandas que a gente gosta, sempre usaram o teclado para fazer uma cama de fundo nos refrões ou algumas partes da música, eu sempre gostei muito disso.
E por que a escolha dessa faixa para ser a estreia da nova fase?
Na verdade, lançamos ela e a “Dono Da Verdade”, ela saiu com clipe antes e o clipe dessa segunda entrou agora, dia 17. Mas, não sei. A gente lançou uma música rápida, uma música que é mais CPM antigo mesmo, mas com uma cara, uma sonoridade diferente, mais atual nossa, mais tiozão, né? Mas é porque a música é muito forte, é um sentimento muito forte. A gente achou que lançar “Dono Da Verdade” e “Mágoas Passadas” no mesmo dia seria uma coisa muito legal, que mostraria mais ou menos o caminho que a gente queria seguir no disco.
Você tem alguma faixa favorita?
Eu tenho. Eu gosto da “Enfrente”!
Foi a minha favorita do álbum também, gostei muito!
Essa música é muito forte. Sonoridade, os arranjos, a letra… tudo. E ela deu nome ao disco, uma coisa que é bem legal. É uma música que, quando eu escrevi, eu falei: “Eu acertei nessa letra. Essa letra ficou f*da”. Fazia tempo que eu queria falar algo assim, e combinou muito com a base. É a minha preferida, mas o disco está incrível, estou adorando ouvir o álbum de cabo a rabo e ver a reação da galera também.
Como tem sido essa reação do público?
Cara, vou te falar que o nosso público é muito exigente, mas também tem muita confiança no que a gente faz. Então, eu sabia que iam gostar, mas uma opinião quase unânime eu não imaginava! Realmente, não vi nenhum comentário falando mal do disco. Para falar a verdade eu vi um só, que disse: “Era tão bom quando o CPM não falava de política”. Isso aí para mim é até um elogio! (risos).
Mas no geral, não só elogios, é ver a galera falar que está f*da! O disco está com um sentimento diferente, porque o “Suor E Sacrifício” (2017) já me trazia um nível de satisfação muito grande, como sonoridade, como letras e tal. Mas esse está com uma energia diferente, não sei. Muita gente remetendo à energia do começo da banda. Essas coisas fogem do nosso controle, né? A gente faz as músicas com a nossa verdade, só que assim, quando você vê a obra tomando forma, você fala: “Car*lho, uma encaixou na outra mesmo…”. A sonoridade do disco, o mix, a massa estão muito boas. A galera está pirando e estou muito contente com esse feedback.
Você comentou das antigas do CPM 22. Tem alguma música em específico que tenha um pouco mais de pegada desse novo trabalho?
Quando você remete ao sentimento do começo da banda, não está relacionado à forma de escrever. A sonoridade faz parte daquela linha do nosso DNA de punk rock, hardcore, melódico e tal. Mas eu falo de um sentimento. Se você ouve esse disco, não tem nada a ver com o “A Alguns Quilômetros de Lugar Nenhum” (1999) por exemplo, ou “Chegou A Hora De Recomeçar” (2002), mas todos eles têm um algo a mais como obra. A impressão que eu estou tendo pelo o que a galera tem me falado é mais ou menos isso. Como esse disco tem alma, assim como os outros também.
Essa seria uma das primeiras impressões que você esperaria que as pessoas tivessem ao ouvir o disco pela primeira vez?
Para te falar a verdade, a gente espera o melhor sempre, mas quando você está fazendo um disco, não tem nem tempo para pensar nisso! Você quer terminar logo, tem um monte de coisa para pensar sobre a estética do show, a capa do disco, a sessão de fotos… Você fica tão envolvido com isso, que a hora que lança que você fala: “Caraca, lançou!”. Aí você pode saber o que está vindo de opinião.
Primeiro tenho que agradar a banda, porque se agradar a banda vai agradar quem gosta do grupo, sabe? Tipo, você fala: “Cara, esse disco está fiel ao que a gente ouve. Isso aqui é DNA do CPM mesmo”. Esse é o primeiro passo, a gente tem que atingir isso. Depois, como eu te falei, não está no nosso controle. A gente solta o disco e a galera assimila melhor ou não, mas pelo que eu estou vendo a galera está pirando no disco, muito mais que no “Suor E Sacrifício”, que eu já achava um baita álbum! Sei lá, é diferente, não dá para ter controle nisso.
Você pode ser um p*ta compositor, mas essa aura diferente, esse sentimento que envolve um trabalho quando ele termina não tem como controlar isso. São circunstâncias do momento, da verdade que você está colocando naquilo. E todas as letras que eu escrevi nesse disco são coisas que eu sinto real, sabe? Então, talvez por isso, você colocando isso em uma melodia bem encaixada e com bons arranjos, a tendência é você ir minimizando possibilidades de a galera não se identificar – para quem gosta desse tipo de música, obviamente. Tem gente que escuta e acha pesado, sei lá. Mas quem é o nosso público está gostando bastante, acho que por conta de toda a verdade que a gente conseguiu colocar, tanto em forma de melodias e de letras.
Você comentou sobre os shows e tal, vi que estão com bastante shows marcados para ainda este ano. O que o público pode esperar dessas novas apresentações?
A gente já vem tocando seis músicas do disco, [já] ensaiando mais duas. Nós vamos ensaiando aos poucos porque são muitos backing vocals, muitos arranjos, tem que ir lembrando tudo de novo, tem que ensaiar bem isso para executar na hora certa. Acredito que, nos shows mesmo de lançamento, nas capitais, provavelmente a gente vai tocar, se não o disco inteiro, quase inteiro, entre todas as outras que a gente coloca nos shows.
Está até difícil de fazer o setlist agora. Mas, o que podem esperar é que, a princípio, já estamos fazendo a transição da turnê, já com um cenário novo com a capa do disco, com elementos do disco, com músicas novas no show e que, depois dos shows de lançamentos oficiais, como na Audio [São Paulo] dia 13 de julho, também Curitiba, Porto Alegre (que será adiado, obviamente), a partir do segundo semestre a gente vem com a turnê oficial.
Mas podem esperar a mesma pegada! No final de semana [passado] a gente já fez show com a capa do disco. Porém, para os festivais, por exemplo, estou pensando em algumas projeções, estou nessa fase transição do que eu quero como cenário, fazer um pano de fundo, pode ser com a capa do disco, ou com elementos da capa… Às vezes só o logo grande, dependendo do tamanho do palco. Ainda estamos planejando o que vai ser, mas já estamos tocando músicas novas.
Legal! Por fim, poderia citar bandas que influenciaram diretamente na sonoridade do “Enfrente”?
Tem muito de Dropkick Murphys, tem muito de Bad Religion, um pouco de Social Distortion… essas bandas que a gente sempre gostou. Tem bandas mais pesadas como Pennywise, Sick Of It All, tem umas coisas assim como na “Feriado Punk”, a “Covarde Digital”. Cara, tem de tudo. Tem Ramones. Tem um monte de coisa que cabe do que a gente ouve. Mas está bem hardcore ‘90, por assim dizer. Acho que prefiro falar assim, está bem aquele post-punk ‘90 californiano com músicas bem rápidas e melódicas.
Ah, sim. Está muito bom!
Obrigado!
Quer deixar algum recado para as pessoas ouvirem o “Enfrente”, e talvez convidar para os próximos shows?
Acho legal. A gente já está tocando várias músicas no show, são músicas que combinam com o show, então é legal ouvir [antes] para você ouvir ao vivo também. Queria também que a galera ouvisse não de forma aleatória, que coloque na música 1 e deixasse ir até o final, tentasse digerir o disco, o que ele quer dizer, fazer todas as reflexões que eu sugiro ali. É para a galera colar nos shows, ouvir o disco com sentimento, ouvir sem muita preocupação.
A banda CPM 22 estará fazendo, conforme o vocalista comentou na entrevista acima para o Tracklist, o seu show de lançamento do álbum “Enfrente” em São Paulo, dia 13 de julho. Mais datas da turnê podem ser conferidas aqui.
Serviço – CPM 22 em São Paulo
- Data: 13 de julho (sábado)
- Abertura da casa: 21h
- Previsão de início do show: 23h30
- Classificação: 18 anos
- Local: Audio
- Endereço: Av. Francisco Matarazzo, 694 – Água Branca – SP
- Preço: Entre R$ 70 (meia-entrada para Pista) e R$ 100 (entrada inteira para Mezanino)
- Ingressos online: Ticket390
- Bilheteria Audio: segunda a sábado (exceto feriados) das 10h às 17h | Fechada das 13h às 14h