“You’ve been in the dark for way too long. It’s time to walk into the light” é como Jim Carrey abre o quinto álbum de estúdio de The Weeknd, “Dawn FM”, lançado nessa sexta-feira (07). E nada melhor para começar a falar sobre esse disco do que com essa citação, afinal é a melhor forma de definir o que “Dawn FM” representa: um conjunto de músicas pop que vão segurar a sua mão e te puxar para a pista de dança, para curar e seguir em frente depois de um período de tantas turbulências. É o momento de encontrar a luz no fim do túnel.
Após as crônicas soturnas de “After Hours”, que não à toa casava com o momento que todos nós estávamos vivendo em 2020, dois anos depois e no começo de um novo ano, o “Dawn FM” vem com uma proposta oposta. O recomeço e a luz no fim do túnel, que esperamos que 2022 seja.
As 16 faixas do projeto, mais pop e otimistas do que nunca, giram em torno desse momento de cura e tentar seguir em frente, ainda que seja uma caminho longo, mas que parece um pouco mais próximo que antes. Mas antes de falar mais sobre esse álbum, vamos voltar um pouquinho na carreira do The Weeknd!
A construção do legado pop de The Weeknd
Não é segredo para ninguém a grandiosidade e a memorável carreira que The Weeknd vem criando nos últimos anos. Enxergar hoje Abel como um dos maiores popstars da música é muito interessante e gratificante. Principalmente quando você olha um pouco pra trás e lembra dos seus trabalhos mais antigos, como o Kiss Land (2013), um álbum excelente de r&b alternativo e experimental, recheada de composições introspectivas, sombrias e quase se apresentando como uma figura de anti-herói.
Aos poucos The Weeknd foi estourando a bolha e se tornando cada vez mais grandioso. Mas não se engane, o pop já estava ali presente desde o começo. É quase como se ele já tivesse preparando o terreno para o que iria acontecer agora. Desde o “Beauty Behind The Madness” (2015) é possível escutar o pop se incorporando cada vez mais no seu som.
Foi em “Starboy” (2016) que a mudança para o pop estava de fato se tornando mais concreta, em todos os sentidos: estética, videoclipes, sonoridade e até a visão que tinha sobre si mesmo em sua composições. Mais confiante, foi nesse álbum que o pop deixou de ser apenas um flerte para começar a ser o verdadeiro relacionamento sério de Abel. O álbum afinal tem aquela pegada eletrônica “chique”, principalmente nas parcerias com Daft Punk. “False Alarm”, por exemplo, já é uma prévia do que ele traria posteriormente: uma música pop cheia de sintetizadores dos anos 80 e um super batidão.
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Quatro anos depois, o grandioso “After Hours” consolidou The Weeknd como o novo príncipe do pop e que também serviu para calar a boca de todos que queriam rotular a sua música e enquadrar para sempre em uma caixinha. Foi aquele tipo de álbum que ditou o cenário musical de 2020 e que todo amante de pop ama: uma era bem trabalhada, videoclipes cinematográficos, personagens, perfomances de alto nível, Super Bowl e uma linha estética que prossegue até mesmo fora da música em si. Ah, e é claro: um hit que morou em #1 e quebrou diversos recordes até hoje – que foi o caso de “Blinding Lights”, um synthpop com a cara dos anos 80.
A imersão criada por The Weeknd em “Dawn FM”
Muito mais do que uma sequencia de faixas, The Weeknd faz de seus álbuns uma verdadeira experiência ao ouvinte. O que nos faz chegar ao agora, com o “Dawn FM”. Com o conceito de uma rádio, o álbum simula uma estação e tem como seu locutor ninguém mais, ninguém menos que Jim Carrey.
Com 16 faixas o álbum segue a estética e a sonoridade pop dos anos 80, similar ao de “After Hours”, só que dessa vez mais otimista e para as pistas. É quase como se essa era fosse um “mundo invertido” do álbum anterior. Além da participação de Jim Carrey, o disco conta com Tyler, The Creator, Quincy Jones, Lil Wayne e Swedish House Mafia.
Dessa vez as produções incorporam mais a música eletrônica como o EDM, house, até uma pitada do melódico Miami bass, além de referências artísticas como Prince, Sade e Michael Jackson, sendo esse último o mais evidente do projeto.
Além dos habituais sintetizadores, esse é um disco que dá maior destaque aos elementos eletrônicos e combinado do groove, comprovando o excelente equilíbrio dos anos 80 e 90.
Os destaques de “Dawn FM”
Take My Breath
Em um dos primeiro gostinhos que tivemos desse álbum, “Take My Breath” é a mistura certeira da nostalgia dos anos 80 mas com uma produção moderna que puxa ao cenário eletrônico dos anos 90. Produzida por Max Martin, que deixa sua assinatura marcante na música, é uma faixa que combinada com os vocais únicos de Abel, se transforma naquelas grandiosas músicas pop pra gritar e cantar junto na pista de dança. Confesso que de início o single não tinha me pegado tanto, mas aos poucos ela foi crescendo e fez ainda mais sentido dentro do contexto do álbum.
Sacrifice
Sabe aquela produção que dá gosto de escutar?! “Sacrifice” é o single atual do álbum e tem aquele tipo de produção bem incorporada, que só de ouvir você já pensa “nossa, deve ter sido caro produzir isso aqui!”. Os sintetizadores frenéticos junto à bateria e uns acordes de guitarra criam aquele groove oitentista de discoteca, bem com a cara de Michael Jackson, sabe? O que me fez até questionar se a música tinha sample do clássico Thriller. Porém, segundo as informações até agora, o sample da música em si é de “I Want to Thank You”, de Alicia Myers.
Out of Time
Uma das slow jams do disco à lá Sade, tem tudo que uma baladinha sexy dos anos 80 tem: o teclado ao fundo, palminhas, batidas marcadas e um groovezinho de guitarra e baixo, que juntamente com os vocais suaves de Abel só enriquecem a sensualidade da música. Ainda que seja uma canção sobre um amor que se foi, essa ausência da pessoa fez com que Abel olhasse para si mesmo e identificar os seus erros e traumas do passado, tentando compreender o presente. “The last few months, I’ve been workin’ on me, baby/ There’s so much trauma in my life/ I’ve been so cold to the ones who loved me, baby/ I look back now and I realize”. Essa é com certeza uma das composições mais interessantes do disco, com toda a eloquência e maturidade que o artista apresenta no atual momento que sua carreira está.
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Sendo mais transparente e pé no chão com seus sentimentos, as músicas desse álbum apresentam um Abel mais consciente dos seus pensamentos, das sua inseguranças e as jornadas da vida. Toda essa maturidade e evolução prova mais uma vez que o artista está disposto a se arriscar em novas direções e como ele se tornou um dos maiores popstars do momento. Muito longe de ser um fenômeno apenas do momento e sim um momento na história da música. Se em 2020 o “After Hours” nos envolveu do caos e a loucura de tempos tão sombrios, agora no início de um novo ano o “Dawn FM” nos embarca em uma dançante narrativa em direção de tempos melhores.
NOTA: 8/10