A sequência de um filme aclamado pode ser comparado ao segundo disco de um artista que teve grande sucesso com seu primeiro. A pressão, a expectativa e as chances de não estar no mesmo nível que seu antecessor, que ditou uma nova tendência, são gigantes. Com filmes não é diferente, especialmente quando se dita uma tendência tão grande quanto foi com Homem-Aranha no Aranhaverso, filme de 2018 que abriu portas para inovações no ramo da animação.
Na primeira ocasião, o filme foi o responsável por reforçar que animações podem ser lançadas para um público além do infantil. Podem também usar e abusar de diferentes tipos de animações que destoam do clássico 3D realista ou 2D caricato. Então fica o questionamento, como superar, ou igualar, seu antecessor que foi pioneiro em tantas frentes com extremo sucesso?
Não se preocupe com quaisquer expectativas que você possa ter com Homem-Aranha: Através do Aranhaverso, elas serão superadas. Confira a seguir nossa crítica sem spoilers.
Homem-Aranha: Através do Aranhaverso revela quase nada da trama em seus trailers
O que poderia ser algo usado para fomentar a curiosidade e contar mais sobre a trama, foi feito de maneira completamente diferente. Sim, é possível ver a beleza de parte do filme através do trailer, mas as camadas que o mesmo apresentam vão muito, muito além do que qualquer trailer chegou a mostrar.
E isso vai desde tramas básicas até toda a linha do tempo e diversos universos do filme. Sempre será uma tarefa difícil abordar o tema dos multiversos sem correr o risco de cair em contradições ou deixar buracos no roteiro. O que vemos aqui é uma obra pensada do começo até a última cena. A cadência do filme não deixa transparecer as quase duas horas e meia de duração, o final tem um gostinho de quero mais.
O peso emocional atua como um personagem em Homem-Aranha: Através do Aranhaverso
Cada decisão terá sua reação por aqui. E não se preocupe com o clichê da frase: “Grandes poderes, grandes responsabilidades”, em Através do Aranhaverso é possível sentir, mesmo que sem palavras, o peso de cada decisão e como isso gera um conflito interno em cada personagem. O peso emocional atua como um personagem, quase que principal, nesta trama.
Isso é válido também para os novos personagens apresentados na trama. É desafiador apresentar um personagem e fazer com que o público crie uma conexão em pouco tempo de tela, esse também não é o caso aqui, o que é impressionante quando somos bombardeados com centenas de versões do teioso de diversos universos.
Além do impacto das decisões, a animação acompanha as emoções dos personagens, em determinados diálogos as cores de toda a ambientação vão se modificando de acordo com o desenrolar da conversa. Em momentos mais acalorados, cores quentes, em momentos de trégua e reconciliação, cores frias e aconchegantes.
Vilões, antagonistas e novos personagens em Homem-Aranha: Através do Aranhaverso
Durante todo o desenrolar da trama podemos acompanhar o desenvolvimento não só de Miles, Gwen e derivados, mas também do vilão principal e outros antagonistas. Construir não só as motivações, mas também um bom vilão, não é uma tarefa fácil. Fazer isso enquanto outros antagonistas são apresentados e viagens por universos são feitas fica ainda mais impressionante.
Os novos personagens encaixam muito bem em toda a dinâmica. O filme se preocupa a levar seu tempo inicial para nos trazer de volta para o universo, não apenas jogando informações importantes nos primeiros segundos de filme. Tudo é construído de maneira consciente, porém intensa.
Intensidade é outro fator determinante para que tudo funcione por aqui. As decisões fazem sentido, são coerentes com os fatos apresentados e a dinâmica do filme faz com que a quase todo momento você se sinta preso na cadeira em completo estado de atenção com o que está acompanhando.
Animação consegue evoluir ainda mais e trilha sonora é um show a parte
Particularmente, sou adepto da velha guarda que desliga o celular ao iniciar do filme. Foi um tanto quanto difícil manter o auto-controle para não ligar o aparelho e abrir o Shazam em ao menos três partes do longa. A trilha sonora, dirigida por Metro Boomin, é impecável, são diversas canções de alta qualidade que casam muito bem com as cenas.
A animação consegue evoluir ainda mais ao incluir diferentes modelos e estilos na trama de forma muito peculiar e sucinta. Desde desenhos feitos a mão até animações com certos elementos bem famosos no mundo real – que fará sentido ao assistir o longa.
Homem-Aranha: Através do Aranhaverso é uma aula de cinema, de contar histórias e de como um raio pode, sim, cair duas vezes no mesmo lugar.
Nota: 10
Este texto contou com a colaboração de João Pedro Schmidt