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Entrevista: Oliver Tree fala do novo álbum, Brasil, fãs e mais

A parte final da produção do disco “Alone In A Crowd” foi realizada no Rio de Janeiro

Foto: Branko Starčević

Considerado um artista singular, que continua no topo das paradas e lotando anfiteatros em todo o mundo, Oliver Tree agrada o público e continua a explorar e dissecar a cultura moderna e a obsessão pelas redes sociais. “Alone In A Crowd”, seu novo álbum lançado nesta sexta-feira (29), serve para refletir tanto a luz quanto a escuridão da natureza humana dentro da cultura popular. 

Explorando temas como solidão, desconexão e a experiência humana, o álbum teve sua produção finalizada no Brasil, um país muito amado pelo artista. Em entrevista ao Tracklist, Oliver Tree conta sua experiência em terras brasileiras, manda mensagem para os fãs daqui, comenta sobre sua carreira, videoclipes, o novo álbum e muito mais!

Entrevista: Oliver Tree fala do novo álbum, Brasil e mais

Tracklist: Olá, como vai? É um prazer te conhecer!
Oliver Tree: Olá, é um prazer te conhecer também. Como está o seu dia?

Tudo ótimo, obrigada! Estava escutando o seu novo álbum mais cedo, “Alone In A Crowd”, e é muito bom, parabéns. O que você pode dizer sobre as inspirações e a produção desse trabalho?
Eu trabalhei no álbum por três anos. Começou na [pandemia] da Covid-19, durante o meio do meu último álbum, “Cowboy Tears” (2022), que eu estava fazendo e fiquei entediado. Comecei a fazer outras músicas e algumas das faixas são desse período, e que acabaram indo para o álbum, então esse foi meio que o começo.

E aí tiveram várias interações que eu fiz, talvez seis a sete álbuns, que acabaram finalmente se tornando o “Alone In A Crowd”. Então, ele tem várias versões, várias evoluções. A versão final dele eu fiz no Brasil. Passei três meses no Rio de Janeiro gravando e eu aluguei uma casa de vidro no topo de uma montanha no meio da floresta. Todo dia íamos nadar no mar, foi uma experiência incrível. Tivemos uns amigos que iam até lá. Muito desse tempo eu passei em São Paulo também. 

E é isso. Essa é a versão final [do álbum]. Algumas das músicas mais antigas ainda estão lá, obviamente, mas eu terminei aí. Terminei a produção, refiz as músicas, fiz o melhor que um ser humano poderia fazer. Na verdade, ainda estou trabalhando, e depois dessa entrevista, vou para o estúdio fazer alguns ajustes finais para tentar deixá-lo perfeito, mas eu nunca ficarei satisfeito. 

Existe o prazo final e, sabe, continuar trabalhando até eles dizerem que acabou. Estou ainda trabalhando nele, revisando, mesmo depois que for lançado. Mas, se você ouvir a versão do vinil, essa é a versão que foi finalizada no Brasil. E, desde então, continuei a ajustá-lo, a trabalhar, a mudar as coisas e a desenvolvê-lo. Há muitas versões, muitas interações. Fiz cerca de 137 músicas para esse álbum, acredito. Eu só deixei 14 nele – na verdade, são 13, porque uma é bônus de outro lugar. Foi uma longa jornada, há muitas interações e estilos.

Foi difícil decidir quais músicas iam para a versão final do álbum?
Em última análise, sim. Porém, acho que funcionou para mim depois de passar o tempo de três anos com o material. Você analisa quais músicas você não está mais tão animado e quais músicas você superou. E isso é um grande fator, eu acredito, porque você pensa sobre isso e fica: “Bem, eu sei como essa música vai envelhecer melhor que outras pessoas”.

E também, você tem essas outras segundas vitórias em que você fica animado, [tipo]: “Oh, eu quero colocar isso aqui e isso ali”, mas você nem sabe o quão bom vai ser porque está muito animado sobre isso. Então é meio complicado, mas em geral você tem uma noção de como as coisas envelhecem, e o público pode pensar: “Não sei se gosto disso”. Mas eles não sabem como envelhece. Com o tempo, eles podem aprender a amar mais [as músicas]. Ou, acho que essas são as músicas que resistiram bem depois de três anos.

E por que você escolheu o Brasil para produzir o álbum?
Sempre foi um sonho meu. Realmente era um lugar que eu queria ir, e é muito difícil para um artista fazer uma turnê por aí sem ser em Lollapaloozas. Eu estava morrendo de vontade de ir e fazer uma turnê, mas as coisas não deram certo, infelizmente. E ainda estou morrendo de vontade de voltar e fazer shows, tenho muita afinidade com o Brasil, eu sempre quis ir. Sempre foi um país que está em primeiro lugar na minha lista de viagens. 

E eu tive a desculpa de terminar o álbum. Eles disseram que eu precisava terminar de produzir, e eu falei: “Bom, só vou terminar em um lugar, que é o Rio de Janeiro”. Eu tenho algumas coisas na minha vida em que tenho que fazer certas coisas, mas elas não dizem onde. E eu disse: “Ok, não vou fazer isso em Los Angeles. Eu não quero estar aqui. A parte mais difícil é terminar um álbum. É a pior parte. Então me deixe fazer isso em algum lugar que tenho sonhado em ir”. 

Foi além da minha expectativa. Foi tão incrível. Eu continuei mudando meu voo, fiquei adiando. Basicamente, eu deveria ter ficado três semanas, e então isso se transformou em quatro semanas, e quatro semanas se transformaram em seis semanas, e seis semanas se transformaram em nove semanas, e nove semanas se transformaram em doze. Ou seja, eu estive aí por três meses inteiros.

Que legal! Espero que tenha aproveitado sua estadia por aqui.
Aproveitei, sim. Foi maravilhoso.

Você tem uma memória favorita do tempo que passou no Brasil?
É uma boa pergunta. Eu tive várias memórias incríveis. Acho que há um que se destaca e é realmente especial, quando eu tentei entrar no metrô e meus cartões não funcionavam, e eu estava tentando descobrir uma maneira de fazer funcionar, mas tinha acabado de chegar, foi no primeiro dia e não sabíamos como usá-lo e não havia ninguém. Era como se fossem umas máquinas, os cartões não eram compatíveis e não tínhamos dinheiro em mãos.

E alguém veio até nós: “Vocês precisam de ajuda? Eu falo inglês, deixe-me ajudá-los”. Nós falamos que sim, porque não estava funcionando, e essa pessoa falou para não nos preocupar. Ela comprou nossas passagens e nos guiou até o trem. Nós caminhamos por São Paulo e, no primeiro dia, andamos cerca de 32 milhas [51,4 quilômetros], então foi uma caminhada super longa. 

Por fim, nós pegamos o trem de volta para ver um lado diferente das coisas. E aí estávamos no trem, um cara começa a falar conosco perguntando o que fazíamos. Ele não sabia quem a gente era ou algo assim, e então os fãs começaram a aparecer pedindo por fotos. Foi uma experiência bem engraçada porque, tipo, encontrar comigo em um metrô em São Paulo é uma experiência legal para um fã. E houve muito disso!

Eu não tenho seguranças, não tenho uma limousine. Estou apenas de boas, andando pelas ruas. Alguns fãs podem ficar tipo: “Eu não sei se você deveria estar andando por aí”. E eu respondo: “Acho que vou ficar bem”. Apenas acho que me senti muito confortável, bem seguro. Eu conheci tantos fãs, tive tantas interações malucas e toda aquela animação… foi muito bonito.

Que legal. E você vai sair em turnê em breve, certo? Planeja trazer para o Brasil também?
Sim, estou trabalhando nisso! É muito complicado ir sem participar dos Lollapaloozas, e estou tentando o meu melhor para conseguir entrar no festival. Porém, se isso não funcionar, estou me planejando para encontrar uma maneira de tentar de ir no ano que vem. A parte mais legal disso tudo é que estou ajustando o show, tornando-o cada vez melhor. 

E assim, cada show que faço em cada uma dessas turnês, continuo melhorando. Todo show eu literalmente adiciono mais, eu ajusto, melhoro, porque é como se fosse uma experiência de filme ao vivo, seja um programa de TV, um filme, um concerto, uma peça musical… são todos esses elementos combinados, então estou constantemente ajustando isso.

Quando eu finalmente tiver a chance de me apresentar no Brasil, vou deixar o melhor para o final. Então, essa será a parada final. Eu espero que seja a parada final. Estou trabalhando muito com meus agentes, tentando tornar isso possível.

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Que bom, espero que dê tudo certo! Sobre o álbum, você tem alguma música favorita até agora?
É como escolher um filho favorito. Eu não tenho condições de dizer que alguma é a minha favorita. Eu também penso sobre isso, quando as pessoas me fazem essa pergunta. Eu penso: “Ah, cara, essas são as que fizeram mais sucesso. Mudaram a minha vida”. Então é como se seu filho favorito fosse o melhor, seja aquele que te trata melhor ou aquele que tem sucesso?

Mas não é realmente assim como eu penso. Posso olhar para esse cenário e não ser afetado por isso. Entretanto, há uma música da qual estou muito orgulhoso, que provavelmente será a menos popular do álbum, que se chama “Ugly Side”. Eu realmente amo essa canção. A forma como os estilos de canto são, para mim, um som muito clássico, mas passam por esse estilo rap, e a maneira como eles se entrelaçam, é muito emocionante para mim.

A razão pela qual eu sou tão orgulhoso dela não é apenas porque o canto e o rap andam juntos, porque eu acho isso único, e não acho que ninguém que tenha sido cantor e rapper na mesma música flui nessa função. Mas eu mesmo produzi cada parte, fiz as batidas, fiz todos os instrumentos. Acho que para esse novo álbum, uma das coisas de que mais me orgulho é que toquei provavelmente 80% de todos os instrumentos nele. Então eu realmente ressaltei meu jeito de tocar piano, meu jeito de tocar guitarra, meu jeito de tocar baixo.

Estou muito orgulhoso do que fiz como produtor e também como instrumentista, tenho muito orgulho disso. Eu escrevi cada letra e cada melodia, e mixei a música também com meu amigo. Portanto, estou muito orgulhoso do material. É um trabalho feito com amor.

É bastante trabalho. E quanto aos clipes? Sei que são um grande destaque do seu trabalho. Tem algum favorito?
O meu favorito é um que não foi lançado ainda. Eu tenho dois que ainda não saíram, e outro que saiu esta semana. Mas o meu favorito é que vai ser lançado junto com o álbum. É o terceiro ato, é o terceiro capítulo estruturado da primeira parte dos lançamentos que filmei na Sérvia. Fiquei lá por três meses também. E esse é o meu favorito da série porque é muito louco. Grande escala, grande orçamento.

Mas é isso. Os videoclipes é um dos motivos pelos quais eu faço isso, sabe? Eu consigo os orçamentos, e eu tenho escrito e dirigido todos os meus vídeos desde o começo. Agora, estou totalmente dedicado a produzi-los com minha própria produtora, a Alien Boy Films, Estou bem orgulhoso disso, orgulhoso de ser capaz de tornar a arte muito mais barata e acessível e colocar todo o dinheiro na arte, em vez de colocá-la no bolso de outras pessoas que ficam ricas e compram casas e carros. Enquanto isso, estou devolvendo todo o dinheiro e os vídeos não estão como deveriam. Então tem sido bom.

Quando você compõe uma música, já sabe como o vídeo vai sair ou é parte de um processo natural?
Às vezes eu tenho ideias, mas a verdade é que nunca posso realmente me dar ao luxo de realizar a ideia completa que eu quero. Sempre tenho que cortar. Então o que acontece, tipo, para esse vídeo, é que no Brasil eu escrevi os três primeiros clipes. Na verdade, eu escrevi praticamente o que se tornaria os próximos vídeos também. Mas os principais, os de grande orçamento, foram todos escritos no Brasil. 

Enquanto mixava o álbum aí, eu estava escrevendo os roteiros dos vídeos e escrevi 15 versões desses três primeiros vídeos. Tantas ideias diferentes, tantas coisas diferentes. É um grande empreendimento em que eu escrevo [o roteiro] para uma música e, então, a gravadora me faz mudar a música ou algo assim, ou eu penso no último minuto: “Oh, eu deveria mudar a música”. E aí o vídeo não tem nada a ver com a música. 

Na maioria das vezes, é como se fossem dois monstros completamente independentes, obras de arte totalmente diferentes. Mas é mais sobre quais músicas podem ter maior potencial para serem acessíveis e mainstream. E então quais músicas eu gosto, de qual música a gravadora gosta… é como uma mistura desse jogo.

Com tantas canções virais, qual você diria que é o seu segredo para se destacar de outros artistas?
Para mim, é sobre ser você mesmo, de fazer as coisas por conta própria, de se apresentar de forma diferente, encontrar formas criativas de se separar, porque tem muita gente fazendo muitas coisas iguais. E não importa o que você faça, você não vai ter sido o primeiro, não vai reinventar a roda. Mas, quando você mistura elementos que não deveriam combinar – e para mim isso é uma grande parte do meu estilo -, é a justaposição.

Então, eu acho que não posso inventar uma música nova, mas posso misturar gêneros musicais de uma maneira nova, ou posso juntar esses gêneros ao visual de uma maneira nova. Ou seja, para mim, muito disso é encontrar maneiras criativas de ser capaz de se destacar e não precisar necessariamente fazer o que todo mundo está fazendo, e encontrar maneiras de abraçar o que o torna único, o que o torna totalmente você mesmo, o que te separa dos outros e te leva a fazer com que você não tente se misturar com o resto.

Embora eu pudesse ter mais sucesso se pudesse potencialmente jogar o jogo e vender sexo e essas coisas diferentes, mas eu não acredito nisso. Como artista, quero permanecer fiel a fazer arte e coisas que sejam mais identificáveis para as pessoas. Um personagem que talvez não seja tão photoshopado e falso, fazer algo em que talvez as pessoas possam se ver, de certa forma.

Mas, para mim, é como se eu seguisse o caminho mais longo, o caminho mais difícil, porém é o meu caminho e me sinto orgulhoso. Acho que a arte ficará bem quando eu morrer. Ela viverá mais porque é única e fresca – e pode não ser tão popular agora, mas muitas das grandes artes que aconteceram [tornaram-se populares com o tempo]. 

Vejam a pintura por exemplo, como Basquiat (1960-1988), Andy Warhol (1928-1987), Keith Haring (1958-1990), aí você olha para essas pessoas, suas mortes aconteceram e suas artes se tornaram muito mais influentes muitos anos depois. A arte deles é muito influente hoje.

Isso seria uma das mensagens que você gostaria de passar com o seu novo álbum?
Sim. A história do álbum é o título, “Alone In A Crowd” (“sozinho na multidão”). Então, a ideia é que todos nós nos sentimos solitários. Eu acho que a realidade é que, não importa quem você seja, se tem um(a) parceiro(a) ou não, você ainda vai dormir com seus próprios pensamentos na cabeça. Portanto, todos nós lidamos com o fato de estarmos muito solitários.

Acredito que a verdadeira mensagem central desse álbum é que, mesmo que você se sinta sozinho, você não está. Todos nos sentimos sozinhos juntos. Eu acho que é um conceito muito importante para você se lembrar quando você está se sentindo sozinho: você pode se sentir assim, mas se você olhar em volta, estamos todos sozinhos juntos.

É, tem razão. Para a minha última pergunta, quer deixar um recado para seus fãs brasileiros?
Sim. Para meus fãs no Brasil, vocês significam mais que tudo, mais que a própria vida. Fiz esse álbum no Rio de Janeiro. Fiquei três meses lá, aperfeiçoando o som, aproveitando minha experiência para pegar toda a inspiração brasileira. E eu tenho um lugar que sonho em tocar mais do que qualquer outro lugar no mundo inteiro, que é o Brasil. E eu vou voltar e fazer o maior show que vocês já viram. Não vou parar de aperfeiçoar o meu show porque estou guardando o melhor para o final, que será no Brasil. Vejo vocês em breve. Eu amo todos vocês.

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