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Entrevista: KING Saints fala sobre o álbum “SE EU FOSSE UMA GAROTA BRANCA”

O álbum de estreia da artista apresenta 11 faixas

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Foto: Divulgação

No mês de setembro, KING Saints divulgou seu primeiro álbum de estúdio, intitulado “SE EU FOSSE UMA GAROTA BRANCA”! O trabalho explora temas sociais e faz críticas utilizando uma abordagem única.

Com 11 músicas, o trabalho inclui títulos como a faixa-foco, “KANHOTA”, em colaboração com Karol Conká; “CADELA”, em parceria com Levinsk, Boombeat e Afrodite Bxd; e “CALOTEIRO”, com Mc Danny.

Em entrevista recente ao Tracklist, a artista deu mais detalhes de seu novo projeto e a atual fase de sua carreira. Confira abaixo!

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Entrevista: KING Saints

Você lançou, nesta semana, seu primeiro álbum de estúdio. Como você definiria o projeto “SE EU FOSSE UMA GAROTA BRANCA”?

“‘SE EU FOSSE UMA GAROTA BRANCA’ é um álbum não somente sobre a minha vivência e a minha perspectiva das coisas, mas também sobre o que está ao meu redor, sobre as outras pessoas com quem eu fui criada. [É sobre] salientar o privilégio branco; e reforçar a unidade das mulheres negras, porque nós somos singulares. A gente tem a nossa vivência, nossos direitos; a gente se diverte, a gente ama, odeia, a gente cobra o nosso dinheiro e os nossos direitos, a gente vive, flerta, sabe? Somos unidades”.

“O álbum tem um grupo de mulheres negras completamente diferentes nas colaborações. E isso é proposital, para mostrar de fato a nossa unidade. Não que isso já não estivesse no trabalho de outras pessoas, mas eu gostaria de trazer para o meu, também. Isso mostra que, mesmo que a gente defenda o mesmo gênero musical, ainda assim somos unidades, mas também funcionamos como coletivo. Esse movimento é muito mais. E é isso, esse é um álbum pop, um álbum de humor ácido e divertido”.

O disco traz reflexões sobre temáticas sociais – que estão atreladas, também, a experiências pessoais. Nesse sentido, como foi o processo de produção deste trabalho?

“Foi uma viagem muito interna, uma busca por autoconhecimento. É meio clichê falar isso, mas foi. São 12 anos de carreira, então a gente teve que entrar em um processo de reflexão sobre tudo isso, sobre ter mais de uma década de experiências na música. Então tem muita coisa que é sobre mim, mas também tem muita coisa sobre o que eu observei dentro desse processo, sabe? A ascensão e a queda de artistas; e processos internos, também. É um pouco sobre tudo isso. Tem um pouco de mim, mas também tem um pouco sobre outras pessoas – mas na minha perspectiva sobre tudo aquilo”.

O álbum traz colaborações com Karol Conká, MC Soffia, Leoni, MC Danny, DaLua e Levinsk, Afrodite Bxd e Boombeat. Como foi a experiência de trabalhar com esses artistas, e qual foi a parte mais desafiadora de todo esse processo?

“Foi muito especial trabalhar com cada um desses artistas, porque são pessoas que são referência para mim nas mais diversas maneiras. Tem Levinsk, que é uma artista de batalha de rap, uma das maiores vencedoras da Batalha da Aldeia, que é a maior batalha do Brasil. A Afrodite Bxd, que é uma das principais representantes da Baixada Fluminense do Rio de Janeiro – que é de onde eu sou cria, de Duque de Caxias. A Boombeat, que veio da quebrada queer; que lançou seu álbum e que está aí fazendo um trabalho incrível enquanto artista independente”.

“Temos a Mc Danny, que trouxe toda a sua abrangência e popularidade para o álbum. E Karol Conká, meu Deus… ela é uma das maiores referências para mim enquanto rapper e artista pop, sabe? Ela é uma figura muito emblemática do pop enquanto é rapper. A primeira vez que ouvi ‘Batuk Freak’, minha cabeça explodiu, sabe? É surreal ter ela no meu álbum. Tem Mc Soffia, que é revolucionária desde o Dia 1. O futuro da nação, graças a Deus. E tem o DaLua, que é um percursor do trap, e está lançando sua nova era. A gente combinava muito nas nossas ideias nesse momento, então criar isso juntos foi incrível. Leoni… para mim, já foi surreal ele ter topado. A gente tem uma história, já – fiz um workshop que ele fez sobre composição. A partir daí, a gente criou uma relação nas redes sociais, um acompanhando o outro. Então, quando o convidei, ele já topou de cara entrar no projeto. Foram experiências únicas com cada artista, porque cada um representa algo especial para mim. Então eu estou muito feliz com todas essas colaborações”.

Em seus 12 anos de carreira, você construiu uma base sólida compondo para outros artistas; e, agora, lança um projeto completo e autoral. O que muda no seu processo criativo quando está compondo para outras pessoas e quando está criando para si mesma?

“Quando eu estou escrevendo para outras pessoas, existe a responsabilidade de fazer algo que a pessoa que vai interpretar se sinta feliz. Na maioria das composições que eu fiz, os intérpretes também eram compositores, então a gente trabalhava juntos – agregando às ideias daquele artista. Então temos um norte sempre. E ele pode vir desde a criatividade do artista a alguma ideia que a gente trocou antes de começar a sessão de composição; ou algum trabalho que já vem brifado, de marketing, porque já houve toda essa conversa com o artista sobre o que ele quer fazer naquele projeto”.

“Então é algo direcionado, e a gente quer que a pessoa saia dali feliz. Pode ser uma música maravilhosa, mas se a pessoa não se vê naquela música, nós já não acertamos ali. Então tem toda essa preocupação. Já quando eu faço as músicas para mim, é mais despreocupado, porque as ideias já partem de mim. E a partir disso que a gente vai desmembrar para um trabalho de marketing, para um trabalho de comunicação, de audiovisual; mas a matéria-prima vem de mim. E aí é muito mais tranquilo para eu criar. Eu vou com o que está na minha cabeça, com o que eu quero dizer ou desenvolver, ou que eu queira incitar, então acaba sendo mais tranquilo”.

Qual faixa – ou faixas – você destacaria para definir o álbum, e por quê?

“A faixa-foco, ‘SE EU FOSSE UMA GAROTA BRANCA’, com certeza. Não é à toa que ela é o título do álbum. Por si só ela é uma boa carta de apresentação do que vai vir no restante do álbum, então ela tem todo o seu protagonismo. ‘CADELA’ também, com certeza. Por enquanto, ela é a minha favorita. Daqui a pouco muda, mas por enquanto é essa! A gente ficou um ano criando esse álbum, e como ela foi uma das últimas, acaba tendo um favoritismo, porque ela está mais fresca. Ela é um papo reto, é rap sem curva, direto, sem muita ladainha. Eu acho que esse é um traço muito forte da minha personalidade, sabe? Não costumo dar muitas voltas, quando se trata de música eu sou muito direto ao ponto. E ‘KANHOTA’ tem um lugar muito especial, porque ela mostra muito o lado de fritação – é um álbum para você curtir e se divertir, dançar até o chão, flertar… essa música representa muito essa singularidade e essa maturidade da mulher. enquanto são essas, depois muda”!

Por fim, como você deseja que o público receba esse disco?

“Eu espero que ele cause emoções. Independente de qual, qualquer tipo de emoção. Quando a gente pensou nesse álbum e na construção dele, a gente queria realmente que ele gerasse qualquer sentimento nas pessoas. Pode ser de ira, de tristeza, de felicidade, de legitimação, de representatividade, mas que gere algum movimento. Que não passe batido, que faça com que a pessoa pare para ouvir. Mesmo que seja para não gostar! Mas que chame a atenção. E que se divirtam, porque ele é um álbum bem divertido. Para quem gosta de humor ácido, é uma delícia”.