“Rivais“, novo filme do diretor Luca Guadagnino, retrata a ambição de quem quer ter tudo sem ter que abrir mão de nada. Estrelado brilhantemente pelo trio Zendaya, Mike Faist e Josh O’Connor, o longa conta a história de Tashi, Art e Patrick durante suas carreiras dentro do tênis e como elas estão conectadas intrinsecamente.
Atletas profissionais comumente citam seus esportes como mais do que apenas o esporte que vemos nas transmissões. Para eles, é como uma forma de se comunicar e uma maneira única de enxergar aquele momento como algo além. “Rivais” levanta a questão do que pode ser dito além das palavras, não só pelos gestos, como também no jogo.
O filme conta com um desenvolvimento intenso e que brinca com as linhas do tempo; elementos são revelados apenas quando necessários para o entendimento do contexto geral. Alguns detalhes – os melhores deles – são retomados em momentos chaves do longa e mostram como é possível se comunicar além do óbvio. Em determinada partida, tudo que está acontecendo não diz respeito ao placar, a premiação financeira, e sim a uma longa e complexa conversa entre Tashi, Art e Patrick.
Complexidade dos personagens eleva a trama
Zendaya, Mike Faist e Josh O’Connor estão em suas melhores versões. “Rivais” é o filme que esperávamos que “Malcolm & Marie” (2021) fosse para consolidar a transição da carreira de Zendaya para um novo público. O impacto do elenco é tão forte que mesmo após assistir ao longa, é difícil citar outros personagens do filme. Em todos os momentos, o trio rouba a cena.
A complexidade que os personagens se desenvolvem, crescem, amam e traem é fascinante. E não se prenda ao significado direto de cada um desses termos: o amor pode vir de diversas formas, assim como a traição, que não são necessariamente retratados de maneira tradicional a qual estamos acostumados. Os desejos, não só carnais, como também de carreira e vida, fazem com que os caminhos do trio se entrelacem cada vez mais, acarretando um nó que fica cada vez mais difícil desatar.
“Rivais” é provocativo como poucos filmes conseguem ser sem frustrar a audiência
O famoso “quase lá” pode ser frustrante para boa parte do público e muitas vezes é o que pode estragar um filme. Não saber a hora de parar ou provocar demais sem entregar um desfecho é frustrante em diversos níveis. Em “Rivais”, a provocação gera a curiosidade do que estar por vir, não apenas pela complexidade dos desejos dos personagens, mas também pela resolução de certos conflitos. Criar o sentimento de ansiedade pelo desfecho é algo feito muito bem por Luca e sua equipe.
O longa brinca com as sensações de que sabemos o que está acontecendo e que temos certeza de quem é o mocinho e quem é o vilão, e a forma com que as informações nos são reveladas faz com que essa opinião mude diversas vezes. Talvez nem exista mocinho e vilão – o próprio nome do longa chega a ser a descrição perfeita para as situações enfrentadas por “Rivais”.
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Trilha sonora, maquiagem e edição complementam a experiência
Produzida por Atticus Ross e Trent Reznor (Nine Inch Nails), a trilha sonora casa perfeitamente com o filme. As cores, as jogadas, a tensão e a curiosidade fazem parte das músicas apresentadas, fazendo com que a trilha brinque principalmente com a ironia que certos diálogos trazem consigo e deixa a percepção de que tudo faz parte de um grande jogo. E faz.
Ao trazer a provocação que rivais carregam entre si, principalmente em um ambiente esportivo, a trilha não deixa espaços para que outras canções encaixem como deveriam, como é o caso de uma música – “Pecado” de Caetano Veloso – que gerou certa estranheza durante a cena, por estar bem desconexa de todo o resto da trilha.
O trabalho da equipe de maquiagem é espetacular, principalmente por se tratar de um filme que transita muito por linhas do tempo bem específicas, desde o começo da carreira até os dias atuais. Ter a capacidade de fazer com que os atores parecessem de fato jovens e incutir a maturidade em seus traços nos anos seguintes é admirável e quase que imperceptível.
A edição complementa e encaixa bem a trama que se desenvolve em diversas linhas do tempo. Conforme novas informações são reveladas, o filme retorna a pontos cruciais no tempo que explicam tais resoluções. Tantas idas e vindas poderiam deixar o filme confuso e desconexo, o que não ocorre nem de perto graças a qualidade da edição e maquiagem, que deixam claro em que momento estamos na trama.
“Rivais” brinca com os sentimentos, provoca, muda sua percepção e faz com que você se sinta parte desse triângulo de disputa, ironia e poder.