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Entrevista: Johnny Hooker fala de single “Me Leve”, carreira e mais

Música comemorativa aos 20 anos de carreira já está disponível nas plataformas digitais

Foto: Reprodução Instagram/@carlossales

Como parte da comemoração dos seus 20 anos de carreira, Johnny Hooker lançou seu o single “Me Leve”, uma faixa que os fãs mais antigos (e mais fiéis) já podem até reconhecer. Para o cantor, também é uma maneira de homenagear o amigo André Soares, que foi seu baixista entre 2003 e 2016 e veio a falecer de COVID-19 em 2021. Em entrevista ao Tracklist, Johnny Hooker conta mais sobre a música, sua trajetória até aqui, perspectivas para o futuro e próximos lançamentos.

Entrevista: Johnny Hooker fala de “Me Leve”

De acordo com Johnny Hooker, Me Leve” é uma composição mais antiga, próximo da época de “Amor Marginal” (2015), do começo de sua carreira. Para ele, foi o momento perfeito para lançá-la como um single comemorativo aos seus 20 anos de carreira. Com um tom nostálgico e esperançoso, a balada pop se distancia bastante em atmosfera de seu último trabalho de estúdio e propõe um sucesso radiofônico.

“A gente viveu essa pandemia, com o governo genocida e tal, e em 2021, infelizmente por conta da demora das vacinas, eu acabei perdendo um dos melhores amigos, que tocou comigo desde 2003 até 2016, para a COVID-19. Ele acabou falecendo muito rápido, com apenas 35 anos. A perda de André e todas as perdas, todo o terror que vivemos durante a pandemia e o governo anterior, me colocaram muito em um estado mental nostálgico, sabe? De lembrar de tudo o que eu já havia feito, de realmente agradecer por todas as oportunidades que já tive, ao carinho dos fãs…”, refletiu Hooker.

Então, o artista percebeu que teve a ideia de fazer “Me Leve” por conta dessa onda de nostalgia que o invadiu, coincidentemente no ano em que completaria 20 anos de carreira, do seu primeiro show que foi em 2003, em Recife/PE. 

“Pareceu que tudo se encaixou: a nostalgia, a necessidade de comemorar esses 20 anos de carreira. De agradecer à vida, aos fãs que chegaram agora, aos fãs que já estão há muito tempo me acompanhando, que lotam shows, que me seguem para onde quer que eu vá no Brasil. E foi isso. A gente sentou, eu e João Inácio, que produziu também umas faixas do meu disco anterior, ‘ØRGIA’ (2019), e finalmente trouxe à vida essa música”, detalhou.

A canção já havia sido tocada em alguns shows, então fãs mais antigos de Johnny Hooker e que seguem com atenção a sua carreira já a conheciam, e às vezes a pediam nos shows, mesmo sem ter sido lançada oficialmente.

“Eu acho que a letra da música, de certa maneira, contém todos esses elementos dos quais eu queria falar. O poder da amizade através do tempo, do amor… Acho que amizade e amor são muito intimamente ligadas, apesar de a gente sempre ligar o amor a uma coisa romântica, na nossa cultura, acredito que deveríamos prestar mais atenção na amizade. Amizade é amor também”, comentou Johnny.

“Depois de tudo o que a gente passou, depois de ter lançado o ‘ØRGIA’ – que é um álbum muito denso, fala de questões muito profundas, de protestos por conta de tudo o que estávamos vivendo ainda… Quando esse álbum saiu ano passado não sabíamos se a gente conseguiria sair daquele governo, daquele momento sem perspectiva”, continuou. “É um disco que carrega muita angústia desse momento. Então, a gente pensou nesse lançamento como uma maneira de respirar, olhar para trás, agradecer por tudo e depois seguir em frente, outras encarnações”.

Artista cita influências e “Clube da Sofrência”

Porém, apesar de ser um novo lançamento, não significa que ele irá definir sua próxima fase. Para Hooker, “Me Leve” apresenta um caminho, mas não é exatamente o que ele pensa para sua próxima fase. Sua resposta o levou a trazer talvez um retorno às origens mais do rock, das influências de sua adolescência, como as coisas que ouvíamos nos anos 2000. Johnny cita artistas como Cássia Eller, Frejat, e o rock oitentista como The Smiths, Echo & the Bunnymen.

Contudo há também o show especial “Clube da Sofrência” que, segundo ele, está fazendo o maior sucesso. “Vamos fazer agora aqui em São Paulo duas datas, em que uma delas já esgotou e a outra já vai esgotar também. Está com uma demanda muito legal, muito boa. A música romântica é a mais popular do Brasil, as pessoas são apaixonadas por música de sofrência, de dor de cotovelo, é a intensidade do brasileiro e latino-americano”, falou.

Além do “Clube da Sofrência”, seu momento atual mistura diversos gêneros musicais. “Estou fazendo um show dos meus sucessos, com dançarinos e coreografia, que é o que meio que virou o show do ‘ØRGIA’, estamos fazendo o ‘Clube da Sofrência’, que começa como uma homenagem a Marília Mendonça (1995-2021), mas passamos por vários artistas importantes da música romântica como Reginaldo Rossi, Alcione, Chitãozinho & Xororó, enfim. Passamos por clássicos românticos brasileiros, além de tocar os meus maiores sucessos”, relatou o artista.

“Estamos fazendo um show de tributo a David Bowie também. Então, está uma loucura. Você muda de David Bowie, para sofrência, para o meu repertório que é mais brega, tropical e pop. A cada hora você tem que mudar o mindset. A gente chega na noite do show e tem que ficar relembrando como é para não se perder!”, compartilhou Johnny.

Nova fase e futuro

Porém, Hooker não reclama da correria. Pelo contrário, está mais otimista com o atual cenário do país. “Pelo menos, olhando para o futuro, a gente sabe que está tudo errado, mas tem gente tentando construir. A gente faz o nosso papel com a arte, os políticos lá do governo fazem o papel deles com a política. E eu estou achando, pelo menos de tudo o que eu vejo, que eu acompanho de Ministério da Cultura e Ministério de Direitos Humanos, de ações que eles estão fazendo, são ações que estão muito legais, bem focadas em um projeto de construção, não de destruição como estava”, refletiu.

“Porque a gente sofreu muitos ataques, os artistas sofreram muito ataque. Todas as minorias sofreram muito ataque. Todo mundo saiu desse momento de governo traumatizado mesmo. A gente sofreu uma pandemia junto com esse governo anterior, então acho que são muitos traumas para a gente processar. Então, por isso que eu falo que eu estou trabalhando muito, mas também estou respirando, porque se formos de uma vez só, temos que lembrar que acabamos de passar por uma guerra. Temos que ir respirando e entendendo o momento”, continuou Johnny.

Nesse contexto, o artista ainda explica como entende como “a gente que vive na nossa pele o quanto somos colonizados pela cultura americana, por Hollywood, pela sua indústria musical, porque eles investiram”. “Esse foi um projeto de décadas e décadas de investimento para se tornar o que eles chamam de soft power, um projeto de potência cultural. Então, eu acho que as pessoas precisam acordar mais para o fato de que essa coisa da glamourização do artista não é bem assim, na realidade do Brasil. Tem a galera da indústria, do agro, multimilionária, empresários que patrocinam esses artistas, mas artistas como eu e como vários outros da minha geração, é trabalho muito duro. Acho que é importante as pessoas saberem isso, principalmente em um país que tem uma cultura muito forte de [achar] que artista é vagabundo, que não faz nada, não trabalha porque arte não é trabalho. Todo mundo no Brasil cresce ouvindo isso”, detalhou. 

Já para o futuro, Johnny Hooker revela que, para ainda este ano, devem sair mais alguns feats que já estão gravados, os quais o cantor está bastante empolgado para os lançamentos. A previsão é de que um novo single saia ainda em outubro, enquanto continua a testar coisas novas, característica que ele acredita ter feito sempre durante sua carreira.

“Vem muito dos artistas que eu mais gosto, tipo David Bowie, Madonna, Caetano Veloso, enfim, os que mais me influenciaram, eles sempre foram meio camaleônicos, né? Cada nova fase e disco é um conceito e um tema diferente. Tanto que, eu considero esses meus três discos uma trilogia. Eles falam, para mim, sobre os três pilares do amor, que são: o amor romântico no “Eu Vou Fazer Uma Macumba Pra Te Amarrar, Maldito!” (2015), o amor político no “Coração” (2017) e o amor carnal em “ØRGIA”. Cada disco desse trouxe um personagem diferente. A cada disco que eu penso, cada nova era, a própria música já me sugere um novo personagem. Então, vamos ver qual vai ser a nova encarnação que vai surgir”.

Para encerrar, Johnny convida o público para que conheçam “Me Leve”, já disponível nas plataformas digitais. “Por favor, ouçam o single, ele está muito lindo e emocionante. Fala sobre questões bonitas da vida, acho que são questões fortes. O clipe também está bem bonito. É um grande “obrigado” por terem ficado comigo e terem me carregado no braço quando eu não podia andar, por terem aplaudido o esforço e trabalho. Espero que seja um brinde aos próximos 20 anos!”.

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