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Troye Sivan: “In A Dream” é o desabrochar do cantor ao mundo adulto

Troye Sivan em ensaio fotográfio para "In A Dream". É um close do rosto do cantor.

Os anos 2010s foram marcados por uma onda de artistas no pop, que apresentaram um jeito de representar a figura jovem amadurecida. Nesse caso, Troye Sivan se encaixa nesse panorama, junto do recente EP “In A Dream”.

Lançado no último dia 21 de agosto, o trabalho apresenta seis faixas inéditas do artista, sendo três delas singles promocionais. Com isso, o lançamento de Troye poderia ser mais um comeback em seu estilo usual, com algumas poucas faixas divulgadas na quarentena.

Contudo, o projeto traz um belo projeto visual nos limites do lockdown, e letras ousadas que se misturam ao aesthetic mais frequente. “In A Dream” pode ser considerado a conclusão de uma “trilogia” de Troye Sivan, que transitou entre primeiros amores & o desabrochar da juventude; e o fim de um relacionamento.

Desde “Blue Neighbourhood”, o cantor traz ao seu repertório temas acerca da descoberta do romance e da sexualidade, de relacionamentos e cenários enclausurados na memória. Portanto, é interessante fazer uma análise do trabalho em comparação ao que Sivan fez até então.

Troye Sivan e as ideias presentes em “In A Dream”

As composições de “In A Dream” transitam entre a euforia, o medo de estar sozinho e o desejo por alguém. Em “Take Yourself Home”, que é a faixa que abre o extended play, Troye dialoga com alguém sobre estar “cansado” da rotina, e querer ir para outro lugar.

Nesse sentido, há uma busca por um tipo de porto seguro, e a tentativa de retomar aquilo que deixou para trás. Mas a segurança que o artista procura não pode ser encontrada em outra pessoa; ele perdeu tudo por si só, e o eu lírico se direciona a si mesmo, na segunda pessoa do discurso:

“E a felicidade está bem onde você a perdeu/Quando você aceitou a aposta/Contando todas as perdas que não pode coletar/Tenho tudo e nada na minha vida”.

Há nostalgia nos versos das músicas, bem diferente daquela que apareceu em “Bloom”, por exemplo. No segundo álbum de Sivan, músicas como “Seventeen” e “Postcard” fazem menção à memórias compartilhadas com outra pessoa — a pessoa amada, talvez. Em “In A Dream”, as letras melancólicas são partilhadas com a própria mente de Troye.

Isso se repete na canção “In A Dream”, no fim do disco; Sivan fecha as portas da consciência e não deixa ninguém adentrá-la. Caso não seja uma mensagem para o fim de uma relação tóxica (como uma mensagem de despedida), é uma representação para o isolamento:

“Mas não vou deixar você entrar de novo/Vou trancar as portas e esconder minhas coisas/Não vou deixá-lo entrar de novo/Essa é a coisa mais difícil que eu já disse, sabe”

O “bom e velho” Troye Sivan está no disco, mas em quantidade menor

Entretanto, Troye Sivan não abandonará tão cedo aquilo que faz de melhor. Mesmo que cante sobre a solidão e a saudade soturna, há músicas como “Rager Teenager!” e “STUD” no EP; formas que o cantor encontrou de expressar sua já conhecida vontade de “fugir no meio da noite com alguém”, e o desejo sexual que até então estava implícito na discografia.

Nos trabalhos anteriores, tínhamos “Bloom”, “Animal” e “Bite” (do primeiro EP, “WILD”), mas eram metáforas. Dessa forma, foram poucas vezes em que Troye compôs explicitamente sobre o desejo carnal por outro homem.

Até esse momento, tudo era ilusório, como a mente de um garoto que hesita em segurar a mão do namorado pela primeira vez. Agora, é totalmente ao contrário: Troye canta sobre o corpo do outro, sobre tocá-lo, e depois ir embora.

Além disso, a faixa é, de acordo com o artista para a revista “Vulture”, uma crítica aos esterótipos corporais dentro da comunidade:

“Isso nunca me afetou até que enfim aconteceu. Estava me sentindo bem inseguro comigo mesmo e com meu corpo. Eu constantemente estava vendo os mesmos tipos de corpos (ao admitir consumir conteúdo adulto no passado), que não eram como eu”.

“Stud” ainda é completa pela batida electro, um tanto quanto underground, que permeia casa noturnas. Desde que Sivan passou a colaborar com sua contemporânea, e grande amiga Charli XCX, parece que o cantor está ousando mais no som; e isso é um bônus em “In A Dream”.

Uma nova abordagem de Troye Sivan para o futuro

Essa nova abordagem pode, aos poucos, colocar o artista ao lado de outros cantores gays atuais como Todrick Hall e Adam Lambert. É como se Troye estivesse se libertando as poucos da imagem ingênua que permeara seu debut.

Já que o artista gravou a maior parte das coisas durante o lockdown, a estética caseira está em quase todos os clipes. Porém, cada um é singular ao seu modo, como os tons amarelados em “Rager Teenager!” e as luzes estroboscópicas na própria “STUD”.

“In A Dream” é uma dica do “melhor Troye” que vem por aí

De todo modo, o projeto mais recente de Troye Sivan é uma pista de todo o amadurecimento que o cantor enfrentou nos últimos anos. Apesar de ter sido afetado pela pandemia do Covid-19, “In A Dream” não deixou nenhuma ponta solta em sua formação — breve, pesado em instrumental e composição, e cativante.

É o melhor que Troye poderia ter feito no meio de tanta quarentena na indústria musical. O release mescla o artista antigo com o novo, e suas reflexões acerca da própria imagem, do que deseja, e do que passa pela sua cabeça.

Talvez um dos únicos defeitos do release seja sua duração. Com seis canções e uma delas sendo um interlude, fica difícil consumir devidamente todo o “novo Troye”. Entretanto, é de se esperar que mais venha por aí.

Nas palavras do cantor, já há certa expectativa para o próximo álbum:

“Estou animado para descobrir como será. Espero, pelo amor de Deus, que seja um álbum sobre se apaixonar ou talvez um ‘estou solteiro e feliz, e em paz’. Mas essa parte da história é um capítulo diferente”.

Troye Sivan para a Vulture

“In A Dream” é Troye Sivan para além da faixa etária adolescente; mais para um “coming of age”. Após quase dois anos desde “Bloom”, o artista enfim se abre para o universo adulto, e isso pode agradar ou não os fãs.

Ouça “In A Dream” logo abaixo:

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