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Por trás da longa narrativa dos clipes do último álbum de Halsey

O último álbum de estúdio da cantora estadunidense Halsey não veio apenas para o prazer da audição. Intitulado e estilizado de “hopeless fountain kingdom”, o segundo LP da multifacetada Ashley Frangipane chegou na indústria com grandes expectativas do público e da bancada crítica, já trazendo consigo um grande conceito visual e artístico. A jovem de apenas 23 anos mostrou que conseguia se manter na parada e superar seu álbum de estreia, o “Badlands”.

O apelidado “HFK” veio com a promissa de que seguiria a linha de conceitos, visuais estonteantes e apresentações incríveis de Halsey, além dos videoclipes, que desta vez seriam fonte de uma longa narrativa. A cantora escolheu como inspiração para os vídeos o longa-metragem “Romeu + Julieta” de Baz Luhrmann, assim como a obra original de William Shakespeare para o álbum.

Acha que consegue pegar tudo de primeira?

O primeiro videoclipe a ser lançado, antes da estreia do álbum, foi “Now Or Never”.

O vídeo dá início aos visuais e conceitos do álbum mostrando as divisões de Romeu e Julieta e seu amor proibido, seguindo o prólogo original de Shakespeare. Apresentam-se as personagens Luna e Solis, com os gêneros trocados: Romeu agora é a personagem de Halsey e Julieta o de Don Lee, modelo e ator.

Duas casas, iguais em dignidade – na formosa Verona vos dirão – reativaram antiga inimizade, manchando mãos fraternas sangue irmão. Do fatal seio desses dois rivais um par nasceu de amantes desditosos, que em sua sepultura o ódio dos pais depuseram, na morte venturosos. Os lances desse amor fadado à morte e a obstinação dos pais sempre exaltados que teve fim naquela triste sorte em duas horas vereis representados. Se emprestardes a tudo ouvido atento, supriremos as faltas a contento.

“Romeu e Julieta” (Roméo et Juliette, de la Haine à l’Amour) – Shakespeare, William (1597)

Angelus Aureum são as duas Casas destes curtas. “Now Or Never” se mostra como o vídeo mais otimista de todos, no qual os amantes desafortunados, com todo seu amor jovem, clamam um implícito “Eu te desejo. Quero que isso dê certo mas não será o fim do mundo caso isso não aconteça”. De Casas separadas, Luna e Solis não podem se conectar e nem deixar à mostra sua paixão um pelo outro. Luna, em puro desespero, visita uma casa de tarô, onde recebe a seguinte mensagem: “Vejo um amor tão puro que move os céus. É verdade que o amor nunca falha, mas também vejo uma interferência. Temo de que essas almas nunca possam ser alinhadas. Mas há outra maneira.”

O primeiro visual mostra uma traição. Um amigo de Solis e membro da Casa Angelus, em toda sua glória e falsa inocência, é visto alertando alguma autoridade sobre o amor proibido, criando nisso, uma maior guerra das Casas, mostrada no primeiro vídeo da sequência. Os tiros são disparados ao que são mostradas imagens das relações de Luna com Solis, duas estrelas em eclipse.

Luna escapa intacta de todo o rebuceteio e, apesar de tentar, Solis não consegue acompanhar a moça, que sai em disparada em cima de uma motocicleta. Pós-crédito, Luna corta todo o seu cabelo azul para que não seja reconhecida onde quer que vá.

Continuamos a história no segundo videoclipe da saga, lançado 5 meses após do primeiro: “Bad At Love”.

A música conta o quão difícil foi para Halsey aceitar o fato de que ela estava quebrada. Para Luna também.

Neste vídeo vemos Luna, orgulhosa e trajando as roupas de sua Casa Aureum, com a moto na qual fez sua saída de “Now Or Never”. A personagem mostra-se mais despojada e confiante, como que uma faceta. Luna é foragida agora e seu anúncio de procura está em muitos jornais nas redondezas; há até recompensa: 20 mil dólares! A personagem pensa ter escutado algo do outro lado de uma porta e podemos ver a revelação de alguém mascarado – esse mesmo ser que mostrou suas cartas para Luna – com uma delas em suas mãos. Podemos ver ao fundo também a incrível conexão dos mundos criados por Halsey: na parede, do lado direito, há um pequeno pôster escrito “Visite Badlands [Terra de ninguém]”, o que dá a entender que Badlands e o Reino Sem Esperanças estão no mesmo plano de tempo e espaço.

Luna, continuamente fugindo, tenta se retirar do local (uma loja de conveniência de um posto de gasolina) mas é confrontada por três mulheres que logo depois de alguns segundos mostram estar apenas brincando com Luna. Rindo, as meninas, vestidas com muitas cores, apertam a mão da protagonista de nossa estória. A queridinha de Solis então vê carros de polícia chegando pelas persianas da loja. Vendo o desespero aparente da mesma, as meninas se juntam com um plano incrível para despistar os policiais. Luna deixa mais este local, dessa vez se acertando de que sua jaqueta de couro com o símbolo de Aureum esteja perdida por aí.

A narrativa só pode ser compreendida por total quando assistido o Corte do Diretor, ou Corte dos Angelus, que mostra a visão de Solis e sua Casa. Neste, o visual começa com o “chefe” da Casa mostrando um jornal para Solis, ou “Julieta” e dando uma bronca no mesmo, afirmando que o menino precisa esquecer de Luna. “Pelo bem das duas Casas”, começa. “Não coloque-nos em mais perigo!”.

Vemos, então, uma carta sendo escrita e o ditador de ordens afirma que o amigo de Solis, o qual citamos mais cedo, deve entregá-la para Luna. O clipe permanece o mesmo até o início dos três minutos, e aí a trama se vira quando um homem, com as vestes da Angelus, chega e entrega o papel para a menina, que fica devastada ao ler o mesmo. Aí está a coisa: o amigo de Solis é retratado trocando cartas com o entregador no fim. O recado que Luna recebeu não era de Solis nem do chefe, e sim do amigo, que diz querer o bem para as Casas.

Inicia-se a terceira parte da mídia: “Sorry”, com direção de Sing J. Lee, editado por Ryan Beck e com produção de design por Fernanda Guerrero.

O clipe é minimalista e mostra apenas Luna ensanguentada e sofrendo assistindo seus arredores: o lugar onde vimos a troca de tiros acontecer em “Now Or Never”. No chão encontram-se motos de Angelus reverberando a luz do sol, carros de Aureum, pessoas vestidas com as cores das Casas, mortas e/ou inconscientes. Um verdadeiro mar de luto no qual Luna se encontra.

Partimos então para “Alone”, agora uma colaboração com Big Sean e Stefflon Don.

O cabelo grande de Luna mostra uma passagem de tempo após os primeiros acontecimentos da trama. Entrando em um local de eventos, Luna mostra ter sido convidada e, ao chegar, a mesma se produz com batom e uma bela faixa de brilhantes. Vestida pra impressionar, Luna anda confiantemente pelo salão com o que parece ser um olhar de procura.

“Alone” fala sobre uma borboleta social, um paralelo com o baile de máscaras que acontece em “Romeu + Julieta”, referenciado nas faixas do álbum “Heaven In Hiding” e “Strangers”. No Twitter, Halsey afirmou que a canção é “Jay-Z com vibes de “O Grande Gatsby””.

Ao achar o que procura, claramente Solis, Luna mostra o olhar esperançoso enquanto lembra de seus momentos juntos. Então Solis mostra que já superou a paixão, com uma nova garota de cabelo azul (como Luna quando namorava o mesmo). Desapontada e tonta, a menina procura então um lugar para vomitar o que se parece com uma pétala preta. Há na literatura uma doença fictícia, chamada de Hanahaki. Essa doença atinge as pessoas que não possuem seu amor por alguém correspondido, fazendo com que elas tenham uma tosse, onde são expelidas pétalas de flores e, gradativamente, flores inteiras até que um buquê seja formado e a pessoa possa ser sufocada até a morte. Nos momentos finais do vídeo vemos Luna furtando as asas de Solis e deixando um pedaço de papel com sua inicial “L” escrita e o colar da Casa Angelus de Solis junto. Isso é explicado no próximo vídeo: “Strangers”, com Lauren Jauregui.

Este clipe, Halsey explicou nas redes sociais, mostra o passado de Luna e Solis, com uma nova personagem no jogo: Rosa, interpretada por Lauren Jauregui. A canção, tanto quanto o vídeo, fala sobre relacionamentos abusivos. Enquanto a música é direta em seu jogo de palavras, o vídeo mostra uma metáfora ao mesmo que nos dá o início de tudo, como disse Luna em uma de suas cartas que podemos ver no site de Halsey, decorado para o “hopeless fountain kingdom”.

“Para que você entenda verdadeiramente o fim, preciso levá-lo de volta ao início”.

“Este vídeo é uma metáfora para um relacionamento tóxico. Você bate um no outro e ao que fica mais fraco e mais desesperado, seus golpes ficam mais sujos. Você não se lembra nem para quê está lutando. Quando alguém finalmente vence, o que essa pessoa ganhou, na realidade? Ganhou uma luta. Perdeu quem você ama.”

Halsey afirmou a bissexualidade de Luna, afinal o álbum e os vídeos são contos de sua vida real.

Solis é o sol, como dito no clássico: “[…] e Julieta é o sol”. Luna é Romeu e, logo, a lua. A lua é muitas vezes retratada como uma mulher sáfica. Rosalina (Rosa) é a mulher da qual Romeu (neste caso, Luna) desejava antes de conhecer Julieta (Solis).

Como dito antes, o vídeo mostra Luna e Rosa lutando em um ringue até atingirem cansaço total. É aí que entram os golpes baixos. Luna vence a luta, querendo a glória de ter Solis assistindo sua vitória. Na última cena do clipe, vemos as duas personagens protagonista trocando os seus colares das Casas. Luna fica com Angelus e Solis com Aureum. Eles vêm a ser trocados no fim do vídeo de “Alone”, como mostrado acima.

Até agora, a estória tem seu fim aí, mas Halsey afirmou que este não será o último clipe ou mídia visual do “hopeless fountain kingdom”.

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