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Garbage faz show enérgico com repertório equilibrado em São Paulo

Por volta das 17h, cheguei ao Tropical Butantã no sábado, 10, pouco antes do início da chuva. A fila confundia: era uma só pra Pista Comum, Premium e Camarote; porém plaquinhas de nada ajudavam, indicando divisão. Ouvi várias reclamações, principalmente de quem dizia estar desde às 5h para ver sua banda favorita tocar e não queria uma aglomeração de pessoas que acabaram de chegar próximas de onde estavam. Cheguei a ouvir de um homem de estatura alta que “daria socos” em quem entrasse na sua frente. Não fiquei perto para ver se a promessa se cumpriria.

Entrei às 18h, logo que liberaram. Às 18h45, o Far From Alaska subiu ao palco, conforme estava programado. O som da banda brasileira lembra bastante “The White Stripes” e o vocal quase pode ser confundido com Taylor Momsen (“The Pretty Reckless”). Excelente escolha de abertura, com direito a elogio da própria Shirley que contou (durante sua apresentação) como conheceu os brasileiros. “Nós encontramos esses caras na última vez que estivemos aqui em São Paulo, nós tocamos em um grande festival (Planeta Terra) e estávamos saindo do hotel, quando eles chegaram gritando, ‘Garbage, Garbage, essa é nossa demo, ouça por favor’, nós ouvimos e mantivemos contato ao longo dos anos via Facebook e é incrível ver a carreira deles estourar e crescer”.

Garbage entrega show enérgico em São Paulo
Foto: Luana Mestre

Às 19h45, com ausência de Butch Vig (que foi substituído por Eric Gardner), o Garbage chegou sob aplausos da plateia eufórica e apresentou a canção “Supervixen”, do álbum autointitulado (1995). Uma boa música, mas não tanto pra abertura. Em seguida, tivemos “I Think I’m Paranoid”, um verdadeiro clássico que agitou bastante o público. Shirley mostrou total domínio do palco, em todos os momentos: dialogou em várias oportunidades (agradecendo todos e pedindo desculpas por não ser uma rockstar cool que sabe falar português), mas não perdeu o foco da música e QUE VOZ! Fiquei impressionada com o seu alcance vocal e com a sua energia no auge dos 50 anos.  “Why do you love me”, canção do disco “Bleed Like Me” (2005), ganhou uma das melhores performances: com Shirley cantando deitada no chão, depois agachada e de pé (e isso se repete!); o que confere uma atmosfera ainda mais emotiva à canção e transmite ênfase à frase “I get back up and I do it again” ( “eu me recupero e faço tudo de novo”).

Quanto ao repertório, é possível dizer que houve um bom equilíbrio: uma divisão certeira das canções mais famosas de cada álbum, desde o disco de debute autointitulado – o que surpreendeu, porque pensei que as músicas do novo disco, “Strange Little Birds”, teria mais peso. Mas, foi uma forma da banda respeitar os fãs antigos, que eram maioria entre o público – gente que acompanha a banda desde o primeiro álbum e que também reconhece que o novo material parece uma repetição dos clássicos. Canções como “Empty”, “Magnetized”, “Blackout”, “Ever Though Our Love Is Doomed” (mais calma, que ganhou uma performance bem introspectiva) e “Night Drive Loneliness” poderiam fazer parte facilmente do primeiro da carreira, por conta – principalmente – da atmosfera obscura que transmitem ao ouvinte.

Garbage entrega show enérgico em São Paulo
Foto: Luana Mestre

Por conta da divisão acertada do setlist, é difícil escolher um momento chave – de maior euforia dos fãs, que cantavam todas as canções. Mas, em “Only Happy When It Rains” (a mais clássica de todas) foi possível ver uma energia maior: Shirley começou sentada, cantando um pouco diferente da versão de estúdio, enquanto o público jogava balões coloridos. Em alguns momentos, a artista deixava que a plateia cantasse sozinha e um coro se instaurava. Não foi a faixa de encerramento, mas podia ter sido! “Queer” foi uma das canções bis do show e uma das melhores escolhas da noite: uma canção política, que foi dedicada ao público LGBT. “Eu amo vocês. Sempre discursei pelos direitos humanos. Que se fo**** todos, o que quer que eles digam. Vocês podem amar livremente”. “Cherry Lips (Go Baby Go)” foi a música escolhida para fechar a noite, também com temática LGBT.

Foram, no total, quase duas horas de show! Com mais de duas décadas de estrada, Garbage conserva toda a energia e animação do início da carreira e também a humildade (característica em falta hoje em dia nos grandes astros do rock). Mas, Garbage nunca foi apenas uma banda de rock, mas também um manifesto em defesa dos direitos das minorias (tanto nas músicas, quanto nos discursos políticos).

Setlist: 

  • Supervixen
  • I Think I’m Paranoid
  • Stupid Girl
  • Automatic Systematic Habit
  • Blood For Poppies
  • The trick is to keep breathing
  • Sex Is Not The Enemy
  • Blackout
  • Magnetized
  • Special
  • #1 Crush
  • Even Though Our Love Is Doomed
  • Why Do You Love Me
  • Night Drive Loneliness
  • Bleed Like Me
  • Shut Your Mouth
  • Vow
  • Only Happy When It Rains
  • Push It
  • Queer
  • Empty
  • Cheer Lips (Go Baby Go)

 

 

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