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Entrevista: Tegan, do Tegan And Sara, fala da expectativa para o Lolla, futuro e até de política

Na última semana, tive o prazer de entrevistar Tegan Quin, do duo Tegan and Sara. A artista e sua irmã gêmea fazem parte do line-up do Lollapalooza e devem se apresentar no dia 25 de março no festival.

Por terem experimentado diversos gêneros musicais ao longo da carreira, é difícil enquadrar as artistas em um estilo musical específico e fazer relações. Elas começaram com o indie rock, na gravadora de Neil Young (Vapor Records), e hoje produzem um material mais pop, que lembra bastante o trabalho de HAIM. Talvez, por isso, elas poderiam facilmente tocar em um show da lenda do rock e também com Katy Perry (com a qual já excursionaram, inclusive) sem soar estranho.

Com sua espontaneidade, riso fácil,  simpatia e senso de humor, Tegan respondeu cada uma das perguntas que fiz (claro, com exceção de uma, que ela não podia revelar no momento).

 

Confira a entrevista:

Olá, Tegan! Tudo bem?

Bem. E você?
Estou bem também, obrigada. Então, podemos começar?
Com certeza.

Então, você vai vir aqui no Brasil em março pra tocar no Lollapalooza. Eu gostaria de saber… Por que vocês demoraram tanto?  

(Risos) A verdade é que, basicamente, na última década a gente fez essa pergunta umas 5/12 vezes pro nosso empresário e nossa agência. E eles nos respondiam a mesma coisa, sempre que perguntávamos: “não tem ninguém que conheça a música de vocês lá e é muito difícil conseguir um show”. Quando tivemos um novo empresário, falamos pra ele que o demitiríamos se não nos levasse ao Lollapalooza na América do Sul. Então, aqui estamos. Nós finalmente estamos chegando!”

 E isso é ótimo!

O que vocês esperam dos seus fãs no Brazil?

Tudo o que ouvimos sobre eles. Que são loucos, que gritam e são muito divertidos e entusiasmados, além de cantar junto cada palavra. Então, mal podemos esperar pra chegar aí e ver se é verdade.

E é verdade.

Eu escutei o novo álbum de vocês e ele soa mais pop que os outros, e também me lembra os anos 80. Essa era a direção que vocês queriam tomar? 

Sim, eu acho. Nós fazemos música há 20 anos e a música não soa mais como nos anos 80; o pop soa super cool: há um monte de recursos, um monte de coisas legais que acontece na música pop que nós sentimos que o pop tem sido bastante progressivo. Sara também tem sido mais inclusiva quando se trata do povo LGBTQ e mulheres, então sentimos que deveríamos seguir essa tendência. Então, tem sido assim por 5 anos e tudo está indo bem. Nós amamos.

 

Vocês sentiram algum tipo de medo ao mudar o estilo? Quero dizer, vocês pensaram no que os fãs antigos iriam pensar?

A verdade é que fiquei com mais medo de fazer um disco que nós não amássemos de verdade, que soasse com o que já tínhamos feito antes. E eu estava com mais medo do resultado do que de arriscar.

Então, próxima pergunta. Você e a Sara sempre têm as mesmas ideias do que querem na música de vocês, ou não? O que vocês fazem quando uma prefere um estilo e a outra quer algo diferente?

(Risos)

A verdade é que, eu acho, somos ótimas colaboradoras – uma com a outra. Eu acho que sobrevivemos todo esse tempo porque trabalhamos muito bem juntas, e eu acho que existe um respeito uma pela outra como compositoras. Quando Sara quer se mover pra uma direção e muda a produção, eu normalmente tento ir junto, mesmo quando não é minha direção preferida porque eu amo muito a música e amo ser desafiada, acho que Sara sente o mesmo. Então, acho que conseguimos certo equilíbrio entre as similaridades e diferenças nas nossas preferências musicais ao longo da nossa história.

Eu assisti uma entrevista com Tegan e Sara do ano 2000. Vocês eram bem diferentes na época e você chegou a dizer que não é legal ser gêmea nessa indústria. Eu fico pensando… por que você fez essa declaração?

Eu acho que a gente se sentiu bem uncool por um longo tempo, provavelmente porque estávamos no indie rock e, você sabe, cheio de hipsters.  Eu acho que nos sentimos fora de lugar, não nos sentimos legais, sabe? As pessoas eram céticas e faziam perguntas como: ‘Vocês escrevem suas próprias músicas, sério? Vocês produzem de verdade seus discos?’ Parte desse ceticismo era porque nós éramos gêmeas, engraçadas e etc, então, nós não nos sentimos muito cool e nos sentimos outsiders. E é engraçado, porque então começamos a trabalhar com David Guetta e fizemos um disco pop e claro, você sabe, músicos do mundo pop vieram e disseram “nós amamos vocês” e nós: “Ok então, é aí onde nós pertencemos”.

 

Então, isso mudou com o tempo?

Eu acho que sim, eu acho que nós definitivamente nos sentimos mais… Eu acho que soamos uh, como um sub grupo do pop. Nós não somos como Katy Perry, mas estamos fazendo música pop e nós não somos super stars fofas ou algo assim, mas nós estamos em um lugar onde podemos influenciar. E nós gostamos do pop, nós gostamos de todas as coisas progressivas, e acho que pertencemos a esse mundo.

Quais shows vocês querem ver no Lolla e por quê? Claro, se a programação permitir…

Eu mal posso esperar pra ver o maior número de shows possível. Eu ouvi que o the XX vai estar lá, Metallica e The Chainsmokers. Mas, a verdade é que o que eu mais gosto nesses festivais é tentar ver bandas que eu não conheço. Então, espero que possamos ver coisas novas e também algumas bandas brasileiras..

Falando de música brasileira, vocês conhecem alguma que gostam? 

Bem, é engraçado, eu não sei se você conhece essa banda, mas ela chama CSS*

Ah, ok? (eu realmente não conhecia)

E eu acho que são incríveis, e eles se mudaram pra L.A alguns anos atrás, mas são de São Paulo. Elas tocam punk, eletrônica com baixo e elas são fantásticas. Eu amo elas. Eu não conheço mais bandas brasileiras, mas eu mal posso esperar pra ir e ver algo que eu goste.

Isso é ótimo. Voltando pro álbum “Love You To Death”… nele existe uma conversa mais aberta sobre sexualidade, como na música Boyfriend. Nessa música, em particular, parece que você está falando de um relacionamento que teve e a pessoa quis ser discreta, ou melhor, no armário. É sobre isso?

Sim, eu acho que é algo, talvez universal, quando você encontra alguém e parece que essa pessoa está na sua, mas às vezes eles não pensam que é um relacionamento sério mas fazem você pensar que é algo assim porque te ligam e falam com você por horas em um momento ou dia, às vezes até se aconselhando com você. E depois, eles encontram alguém também. Então, eu acho que muitos já passaram por isso… já estiveram num tipo de relacionamento que ficaram tontos sem entender, tipo “você é meu namorado, então por que não estamos juntos?”. Então, sim.

Você teve um relacionamento assim no passado?

Sim. Eu não escrevi a música, foi a Sara. Mas, sim. Eu acho que tive. Eu acho que gostei de algumas pessoas antes, sabe, e apesar de eu falar com elas bastante não existia relacionamento. E não ficou claro o porquê. Mas, essa música em particular foi feita sob a perspectiva da Sara.


Ok. Em uma entrevista, você falou sobre a reação das pessoas quando vocês usam elementos como ‘sexo’ e ‘sentimento’ nas canções e também questionou o porquê de Drake e Kanye poderem fazer isso sem as pessoas questionarem e dizerem que é “Femotional” (junção de “feminino” e “emocional”, de modo pejorativo). O que vocês costumam dizer pra essas pessoas quando ouvem isso?

Oh, eu acho que se eu entendi sua pergunta… Eu acho que pra nós a música sempre foi uma coisa natural, o que sai de dentro de mim quando eu escrevo, sempre uma esquema consciente. Eu não me sento simplesmente e espero que saia da cabeça. Eu deixo sair do coração. E eu acho que a música que tipicamente escrevemos é linda, feliz e emocional; também devo dizer que tentar escrever canções felizes como Closer têm sido algo bem sucedido. Mas, eu gosto de ter essa intensidade na música e também, você sabe, sou uma contadora de histórias e eu adoro contar piadas e eu e Sara temos um relacionamento maravilhoso como irmãs. Acho que tentamos aparar  as nossas diferenças, juntando os nossos cérebros.

Oh, sim. Te incomoda quando as pessoas te tratam diferente? Na indústria, quando você é mulher, o tratamento não é o mesmo dado a um homem… 

Sim, acho que ainda existe essa ideia na música: quando um homem fala de um relacionamento ele é corajoso e honesto, mas quando uma mulher fala é triste, paradoxo, sabe, adolescente. Os homens recebem um tratamento de alto nível e a etiqueta de “gênios”, “transcendentes”, essas coisas. E mulheres não costumam receber esse tipo de tratamento.

Eu acho que há um tipo de assombro sobre ser uma mulher na música: ‘Fale sobre ser uma mulher na música’. Mas, ninguém nunca fala: ‘vamos falar sobre ser um homem na música’. E isso significa que há um pressuposto de que se você é homem, você pertence, mas se você é mulher bom… deve ser difícil porque é mulher e há constantes análises sobre isso. Eles perpetuam a ideia de que não pertencemos à música, que não somos importantes e nem nossas histórias, experiências ou palavras são importantes.

Eu penso definitivamente que nós nos movemos contra isso. Nós sentimos que a música que fazemos é tão importante quanto a que os homens fazem. E algumas coisas são melhores, já que há homens que assinam automaticamente alguns valores porque são homens. Mas eu não acho necessariamente que isso os torna grandes compositores.

O que significa pra você representar a comunidade LGBT, e especialmente as lésbicas (desculpa, eu ouvi que vocês não gostam do termo, você prefere queer?) 

Falando por mim, eu uso o termo queer ou gay. Eu acho que o termo lésbicas é algo que nos separa. Tecnicamente, sabe, como cercas, homens e mulheres que gostam do sexo oposto ou heterossexuais: eles são héteros. Não há um termo que te diferencia se você é hétero. Mas, com ‘lésbicas’ e ‘gays’, eles nos separam. E a razão pra eu gostar de queer é que nos une. Então, eu prefiro não separar por gênero, é por isso que prefiro queer. Porque me permite dizer ‘ eu tenho um estilo de vida queer’ e não me vejo com um gênero específico… Eu não acho que sou completamente feminina e eu gosto da ideia de deixar essa opção aberta. E o termo lésbica não é algo que eu não gosto, só não me relaciono. Na minha cabeça, eu nunca coloquei um gênero nisso, sabe?

Ok… E o que significa pra você representar a comunidade LGBT? (as irmãs mantém a Tegan and Sara Foundation, uma ONG em prol dos direitos LGBTQ)  

Bem, eu amo isso. Eu sempre pensei na responsabilidade de discursar e usar a plataforma para o bem, você sabe, de qualquer causa. Mas, eu acho que sempre tivemos um lugar especial nas nossas vidas para os direitos dos LGBTQ e, definitivamente, nos últimos três anos estamos investigando e nos educando sobre os problemas na nossa comunidade. E há uma discrepância real entre o suporte e fundos para pesquisas que são dadas aos homens na comunidade, primeiro que as mulheres. Então, nós definitivamente vamos tomar algumas ações nos próximos anos… E essa ideia de que as pessoas mais marginalizadas são mulheres, especialmente as negras e transexuais… acho que temos que começar a levantar fundos para serviços que vão beneficiar as pessoas mais marginalizadas na nossa comunidade. Então, você sabe, eu me sinto responsável por falar e usar o poder da plataforma que temos para devolver à comunidade: eles nos apoiaram e acho que isso é certo.

Sim. Agora, acredito que está mais difícil em um mundo onde temos Trump. O que você pensa dele?

Sobre Donald Trump?

Sim. 

(risadas)

Eu acho que o que é importante agora é que todos ao redor do mundo foquem menos no Donald Trump e mais no que o partido GOP está fazendo: o que o partido republicano está fazendo? Eles estão usando o Donald Trump como distração enquanto retrocedem em relação aos direitos humanos enquanto eles basicamente tentam empregar o que é diplomacia, uma estratégia em um país que tem mais de 50% de pessoas negras, imigrantes, etc. Pra mim, meu problema é menos com Donald Trump e mais com o Partido Republicano. Eu acho que estão usando Donald Trump como alguém contra a causa LGBT porque ele é um idiota, mas eu acho que o que estão fazendo é nos distrair do que está acontecendo, que é o sistemático enfrentamento contra os direitos humanos. E acho que temos que parar de focar nele e focar no que os republicanos estão fazendo.

E você está certa. Voltando pro seu trabalho, queria saber sobre os projetos para o futuro… O que pretendem fazer após o final da turnê? 

Eu acho que eu e Sara vamos excursionar para todos os lugares que pudermos. Estamos pra anunciar um monte de festivais e shows, e sabe, estamos com a ambição de levar esse disco ao redor do mundo. Então, temos um monte de shows pelo caminho, temos colaborações com outros artistas que vão ser lançadas logo, e sabe, estamos focadas em deixar nossa fundação aberta.

Colaborações com quem?

Não posso anunciar agora. Não foi anunciado oficialmente. Mas, teremos grandes anúncios chegando.

O que você e a Sara têm escutado?

Bem, eu amei o novo disco do the XX que foi lançado. E amei Francis and the Lights; também achei que o novo disco do the Weeknd é ótimo, uhm, nós acabamos de excursionar com ótimos artistas com incríveis discos… Shura, INNA; estamos excursionando com uma canadense agora e o nome dela é Ria Mae. Também vamos sair em turnê com uma artista da Austrália, que está explodindo agora, ótima guitarrista, o nome dela é Alex Lahey.

Nesse momento, eu sabia que aquela tinha sido minha última pergunta. Agradeci o tempo dispensado comigo, e ela muito amável, também agradeceu. Me despedi, dizendo que esperava vê-la no Lollapalooza, se apresentando (porque um show de uma artista como ela: totalmente humana, criativa e audaciosa; eu não iria querer perder). 

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