Falta menos de um mês para o início de um dos maiores festivais de música do mundo! E para entrar no clima do Rock in Rio 2024, o Tracklist conversou com Criolo, um dos maiores nomes do rap brasileiro, que tem apresentação marcada festival.
No dia 21 de setembro — também conhecido como dia Brasil —, o rapper se apresenta no palco Sunsent com o show “Para Sempre Rap” ao lado de outros grandes nomes do gênero: Djonga, Karol Conká, Marcelo D2, Rael, Rincon Sapiência e Xamã.
Mas nem só de Rock in Rio foi feita a entrevista. Além de falar sobre a expectativa para o festival, Criolo, que não lança novos trabalhos desde 2022, quando divulgou o álbum ‘Sobre Viver‘, também deu pistas sobre um próximo projeto. Confira!
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Entrevista: Criolo
Estamos a exatamente um mês do início do Rock in Rio 2024, um festival no qual você já é um veterano. Neste ano, você dividirá o palco com grandes nomes do rap nacional como Djonga, Karol Conká e Marcelo D2. Quais são suas expectativas para essa performance em um dia tão histórico para a comemoração dos 40 anos do festival?
A minha expectativa é gigante porque é um dia histórico, né?! Mais uma vez escrevendo história e em um dia dedicado a música do Brasil. Poder fazer parte desse momento em homenagem ao rap é uma honra gigante para mim. O rap, que é uma força tão intensa, tão necessária, então, é uma felicidade muito grande estar juntando forças e energias com tantos artistas incríveis, que admiro tanto. Então estou feliz, emocionado, ansioso. Estou muito emocionado porque é um dos maiores festivais do mundo. O Rock in Rio é um espaço tão plural, tão diferente. É diferente cantar lá. E ter um dia específico, um palco específico para a arte que me trouxe para o mundo, para a arte que me apresentou a autoestima, que fez eu me perceber no mundo — o que aconteceu quando vi que era capaz de fazer uma poesia aos 11 anos; poder cantar no Rock in Rio em um dia dedicado à música do Brasil e o Brasil reconhecendo o rap como música do Brasil e os maiores festivais do mundo reconhecendo a força do rap no Brasil, é uma honra muito grande.
Como você falou, o show “Pra Sempre Rap” promete ser uma celebração do gênero. Na sua opinião, qual é o papel do rap no Rock in Rio, um evento globalmente conhecido? E o que essa participação representa para a história do festival?
Acho que é emblemático, pois apresenta para a sociedade brasileira a força do rap. O festival homenageia o rap. E a gente veio mostrar que existe uma continuidade. Acredito que, a partir desse ponto, muitas pessoas que ainda não têm um contato de pesquisa ou de audição com o gênero, possam ter uma curiosidade, um carinho, uma tensão diferente com esse segmento musical, que para nós é muito mais do que um segmento, uma cultura, um jeito de viver. E apresentará talvez não nossos nomes, mas os nomes que estão por vir. Você passa a reparar na sua rua, na sua escola, no seu bairro, pessoas que fazem esse tipo de música que até então você não conhecia. Então é mais uma vez uma janela que se abre para o futuro. E pessoas ligadas ao rap, ao ver a grandiosidade dessa homenagem do Rock in Rio ao rap, também podem mirar chegar nesse lugar, mirar, entender que é possível e que essa música que faz tão bem para tanta gente tem muito mais espaço para alcançar, para ocupar e muitas histórias para dividir.
O que o público que estará presente no dia 21 pode esperar dessa apresentação? Há algo que você possa compartilhar conosco?
Estou esperando encontrar com esses meus amigos e amigas e a gente definir junto esse repertório. Talvez passe por algumas fases de cada artista, mas como isso vai se costurar… Eu não sei. Mas pode ter certeza de que será bom demais. Vai ser bem especial e bem forte. Acredito que todos vão passar por seus sucessos. Cada sucesso traz uma indagação, um questionamento, uma celebração. Porque o rap é isso: celebrar a vida, é questionar o todo para construir dias melhores. Então, muitas emoções serão visitadas e revisitadas.
Saindo um pouco do festival, ao longo dos anos, você explorou diferentes gêneros musicais, desde rap até samba e MPB. O que te motiva a transitar entre esses estilos e como você decide qual caminho seguir em cada novo projeto?
É o coração que dita. Vou fazendo música na vida, no tempo. Infelizmente, eu não tenho esse dom de muitos artistas no Brasil, no mundo, muitas pessoas próximas a mim têm esse dom: “olha, agora eu vou parar e vou fazer um álbum”. E fazem cada coisa linda, incrível, espetacular. Eu não tenho esse dom, então, vou fazendo música na vida e às vezes a vida tem o seu caminho próprio. Então, às vezes, nasce esse forró, esse chachado, nasce uma canção, nasce um reggae, nasce um samba, nasce um rap, mas porque a vida pede. É como a emoção se apresenta. E eu sou apenas esse instrumento dessas emoções, minha [emoções], e disso tudo que está acontecendo, que está perto da gente, que se traduz em poesia. Então… é mais ou menos assim. Só depois que vejo o tantão de coisa que está sendo feita e como que a gente organiza isso para dividir com vocês. Mas sempre tem muito rap, sempre tem muito samba, sempre tem muito tudo de tudo.
E é bom demais, porque embora o rap tenha sido essa arte que me abraçou sem preconceitos, me trazendo autoestima, orgulho, o rap também foi a porta de audácia para pesquisar e foi a porta de valorização da regionalidade do meu país. Por isso que o rap do Brasil é tão diferente, é tão especial, é tão gostoso, porque ele propõe uma pesquisa, propõe que você esteja atento a tudo que está acontecendo próximo de você, e aí a gente acaba tendo esse rap tão plural, tão diferente do restante do planeta. Porque esse Brasil-continente traz nas suas regionalidades culturais, algumas que estão morrendo por não terem atenção e outras que aí estão sendo celebradas. Então o rap propõe que cada MC que está escrevendo seja um antropólogo, um pesquisador de si e da arte que circunda a sua família, seu bairro, seu território.
Você falou sobre deixar o coração te levar na hora de criar um projeto. E desde 2022 você está rodando com a turnê ‘Ciclo’, do álbum ‘Sobre Viver’, seu último lançamento. Você tem algum novo projeto em andamento? Pode nos adiantar alguma novidade sobre o que está por vir?”
Olha, tem muitos sambas aí que visitaram o meu coração, tem muito rap, tem muita mistura, tem encontro. Encontro com amigos daqui, de fora, que em algum momento eu pedirei licença para dividir com vocês. Não sei de que jeito vai ser, que formato será, mas tem muita música acontecendo nesse coração. E que eu quero demais dividir com vocês. Eu amo muito a música do Brasil. Amo a música sertaneja do Brasil, eu amo samba do Brasil, eu amo rap do Brasil, eu amo tudo. E aí, eu não sei se vai ter de tudo um pouco, mas terá um pouquinho de cada [risos].
Em setembro, além do Rock in Rio, você tem passagem marcada para Nova York e Lisboa. Inclusive, Lisboa conta com duas datas da turnê ‘Ciclo’ esgotada. Como você está se preparando para essas apresentações internacionais? O que você pode nos contar sobre essas apresentações?
Olha, levar esse show, esse show, cinco shows, para lá e tentar criar algum tipo de ligação com os artistas de lá. Vamos ver se a gente consegue fazer uma mistura, fazer alguma coisa para apresentar nesses dias. São dois dias em Lisboa, em Jacksonville, e um dia na Casa da Música, na cidade do Porto. Então, a gente começa a se movimentar para ver de que jeito a gente pode aprender com a música de lá. Existe uma porta não apenas para a Europa, mas para a África. O universo Palop é um universo encantador, que traz muitos ensinamentos para mim. Eu tenho alguns amigos desse universo que estão me ensinando muitas coisas e eu espero que a gente possa se encontrar nessas datas.