in ,

Entrevista: Aretuza Lovi fala sobre ‘Borogodó 2’, dá spoiler de carreira e mais

EP já está disponível em todas as plataformas digitais

Foto: Reprodução/Instagram

Nesta quinta-feira (17), Aretuza Lovi deu mais um passo importante para a sua carreira: lançou a primeira parte do seu quarto disco, intitulado de “Borogodó 2: Sob a Bênção do Sertão“. O álbum completo, conta com mais de 10 faixas e muitas participações especiais, será apresentado em breve.

Atualmente, por meio das plataformas digitais, os fãs podem conferir o primeiro EP, que homenageia o Nordeste e suas vivências.

Em recente entrevista ao Tracklist, Aretuza, que é pioneira da Drag Music no Brasil, compartilhoudetalhes sobre sua evolução artística, as influências que permeiam suas músicas e os desafios de trabalhar com regravações de clássicos. A cantora também adiantou algumas surpresas que estão por vir, como feats emblemáticos e homenagens a ícones da música popular brasileira. Confira!

Leia também: Entrevista: Fresno fala sobre milésimo show da carreira, novo álbum e mais

Em entrevista, Aretuza Lovi fala sobre ‘Borogodó 2’, dá spoiler de carreira e mais

Aretuza, você á tem mais de uma década de carreira e é uma pioneira no movimento Drag Music no Brasil. Como você enxerga sua evolução artística até o lançamento de “Borogodó 2”?

Nossa, passa sempre um filme na minha cabeça, todas as vezes que eu revisito lá, 2012, 2013, que era um momento onde a gente não ouvia se falar, né, de drags brasileiras cantando músicas brasileiras, regionais, pop, né? Então, quando eu cheguei ali, tudo era um grande mato. E todo mundo ria, falava que era loucura da minha cabeça, num momento onde não existia plataformas digitais, mal, mal o YouTube ali.

A gente já tinha outras drags que faziam drag music, né? Mas eram batidas mais de eletrônico, com vocais e aí surge a Aretuza fazendo isso que foi chamado de muita loucura. Meu primeiro álbum, o “Popstar” (2013), é totalmente voltado para o tecnobrega raiz de algo que é a minha vivência até então. Eu viajo nessa história até chegar aqui e posso falar é que somos muito vencedoras, guerreiras de ter atravessado tantas coisas e ter adentrado e furado uma bolha na vida das pessoas, no mainstream, então fico muito feliz com toda essa evolução e orgulhosa de fazer parte desse movimento.

Tenho certeza que os nossos nomes [das drags], todas que fazem música, todas que galgaram para esse mercado agora, estão escritos na história da música brasileira. Então eu fico muito orgulhosa, e muito feliz de a gente ter se despido de tantos preconceitos ao decorrer dessa jornada.

Falando sobre o lançamento do EP, em janeiro deste ano, você nos contou que o projeto homenagearia diversas regiões do país, seguindo mais a linha de musicalidade norte e nordeste. Como surgiu essa ideia?

Eu sempre fui aquela criança criada na cultura do Norte e Nordeste. Eu saí de casa aos 16 anos porque eu era muito apaixonado pela cultura do Pará. Então eu larguei toda a minha vida, abandonei tudo, tudo, a minha família, tudo, pra vivenciar e viver da cultura do Pará. Vim daquela geração de crianças que ficavam no pé da televisão assistindo o DVD da Calcinha Preta, juntando o dinheirinho pra comprar CD. E tem muitas outras, né, que fizeram isso e que ensinaram esse mundo das bandas onde as cantoras forró eram suas grandes divas.

A música do Norte e Nordeste sempre me causou uma emoção, um frenesi e um empoderamento assim sabe foi uma grande autoajuda tanto que eu trago nesse Borogodó enaltecendo e agradecendo tudo o que o Nordeste me proporcionou, tudo o que o Norte me proporcionou porque eu sai para viver isso em raiz, sabe?

Eu fui morar no Norte, eu fui morar no Nordeste, as pessoas do Norte me abraçaram, o Norte me abraçou, o Nordeste me abraçou, a cultura do Nordeste me abraçou. E eu reconheço e agradeço isso. Então a minha forma de retribuir tudo que o Norte e o Nordeste apresentam pra mim é em forma de música, algo que me despertou a paixão pelo Norte e Nordeste. Então é uma forma de retribuir. Então eu reconheço ‘não nasci, mas agradeço e com apreço abraço a alma do sertão’. Inclusive essa frase está em uma das minhas músicas que vai sair. Então é uma forma de agradecer.

Você ainda menciona que as bandas de forró ajudaram a criar sua identidade artística. Como essas influências se manifestam nas faixas desse novo projeto?

O forró e o tecnobrega, a musicalidade do Norte e Nordeste fazem parte do meu dia a dia, diariamente, como uma oração. Quando a gente lança essa primeira parte do Borogodó, que é o EP sobre a benção do sertão, é porque eu acredito que eu sou uma pessoa muito abençoada de ter vivido, ter absorvido e ter crescido. Tudo o que eu criei na minha vida enquanto pessoa, personalidade, artista, foi por conta do Norte e Nordeste, todas as vivências que eu tive lá. Estou muito, muito feliz com o resultado desse projeto, e é uma forma de agradecer tudo o que essas regiões representam na minha vida.

Aliás, neste novo projeto, você destaca a conexão entre a nova geração e os hits clássicos. Como você vê a importância dessa fusão entre o passado e o presente na música?

A gente está vivendo numa era onde a música é muito instantânea: só o refrão e acaba, né? A gente não conhece a letra, a poesia, a história, porque música pra mim é poesia, música é história, né? Música pra mim é um grande encantamento, né? É o sagrado, tanto que a gente carrega no Borogodó o celestial e o sagrado como a nova era. Então, quando eu pensei em fazer o Borogodó, pensei primeiro em me agradar. e resgatar memórias, lugares, pessoas, paixões, cheiros, sabores, de tudo que eu vivi.

Eu queria que aquela geração que viveu aquilo lá atrás, como eu, revivesse isso agora e não deixasse isso morrer da mesma forma que eu queria que essa nova geração entendesse o que é uma música, quais são as canções que a Calcinha Preta traz, as histórias de amor que a Calcinha Preta traz, as brincadeiras da irreverência, né? Tanto que essa música que eu gravei, “Tutti Frutti“, é uma música de duplo sentido, super irreverente.

Mas assim, as pessoas dessa geração que ainda insistem em viver numa bolha musical e criar suas críticas musicais, que tudo que é do sul é melhor, tudo que é do sudeste é melhor. Eu gostaria que essa nova geração fure essa bolha, abra a cabeça para descobrir o novo – que não é novo. Queria que as pessoas que viveram essa época revisitassem isso com nova roupagem e que essa nova geração conhecessem novos artistas, sabe? Explorassem mais e valorizassem mais esses artistas.

“Borogodó 2” tem uma forte ligação com as suas memórias e vivências culturais. Há alguma música ou momento específico no álbum que você considera especialmente pessoal?

Olha, Borogodó, desde o Borogodó 1, surgiu em uma fase muito difícil da minha vida. E eu tenho uma história na minha vida que é muito legal, que todas as vezes que eu penso em jogar tudo para o alto Deus, o espiritual vem e joga algo no meu colo assim como foi com “Catuaba“, assim como foi com outros projetos e em Borogodó já estava de saco cheio de muita coisa.

A gente estava em um momento pandêmico, horroroso, muitas coisas acontecendo na minha vida pessoal também. E falei ‘cara, vou desistir de tudo’ e fui agraciada pela bênção do universo com o Borogodó. Eu nunca esqueço um papo que eu tive com a Glória [Groove], que sempre fala, ‘a gente tem que fazer a verdade da gente. Arê, você precisa fazer a sua verdade’. porque a gente fica sempre muito à mercê do que as pessoas querem que a gente faça.

Então eu fiz o Borogodó 1 testando. Vamos fazer um Borogodó de músicas aqui que eu gosto. Então no álbum a gente tem pagode, algumas musicalidades, algumas gravações. Só que eu escutei e falei:’cara, é isso, mas ainda não é isso’.

E aí eu fui revisitar o meu passado, assim. Foi um processo extremamente terapêutico, sabe? Um processo lento pra mim, respeitando os meus momentos, estudando e me aprofundando e revisitando o que eu falei na outra resposta. Lugares, pessoas, situações, o que aquela música representa pra mim. Por exemplo, “É Chamego ou Xaveco“, eu lembro do dia em que eu comprei um CD e fui escutar. Me lembro das minhas tardes de sábado assistindo a Band e a Magníficos passando. Calcinha Preta, eu lembro do primeiro CD da Calcinha Preta, onde eu morava. Então eu fui revisitando e foi um processo muito gostoso.

No final a gente tinha muitas músicas. Mais de 16, 17 músicas. Eu falei: ‘meu Deus, o que vai acontecer?’. Então a gente precisa dividir esses lugares. Mas assim, todas as músicas têm um peso muito especial pra mim.

Esse primeiro EP é tudo muito especial para mim. Ter gravadado com a Calcinha Preta é como ter ganhado na loteria porque se fosse alguns anos atrás a gente sabe que seria muito mais diífil. E a banda sempre apoiou muito a diversidade. A Paulinha, eterna Paulinha, antes de falecer, tinha essa conversa de gravar música comigo. Antes de acontecer todo esse incidente, eles tinham gravado e ela entrou em contato comigo dizendo ‘eu preciso ter você no DVD’, então tenho muito carinho por “Tutti Frutti” por tudo o que ela representa pra mim. Além disso, eu tenho uma música no EP que descreve a minha história no Nordeste, da forma a qual eu cheguei.

A gente pode saber quando sai o projeto completo?

O projeto é muito grande, né? Então, a gente agora lança o EP “Sob a Bênção do Sertão”, que é um EP voltado para o Nordeste. Daqui a um mês, mais ou menos, a gente lança um outro EP falando sobre o Norte, contando a minha história no Norte e, se tudo der certo, porque eu não gosto de prometer muitas datas, mas se tudo der certo em janeiro a gente tem o álbum completo com muitas participações imagináveis

Nesta segunda parte, você traz releituras de clássicos como “Tutti Frutti”, “Chamego ou Xaveco” e “Vou Pro Bar”. No início do ano, você comentou que regravar “Acelerou”, da banda Calypso, te deu ‘um frio na barriga’. Agora, olhando para essas versões e adaptações, como você avalia o desafio de inserir esses grandes hits no seu universo musical e dar a eles uma nova identidade?

Olha, é muito difícil trabalhar com regravações, né? Porque sempre vai vir a comparação, principalmente da comparação da música original, da voz original que gravou aquela canção. Ou a pessoa tá falando que eu quero aparecer mais, ou porque tá copiando outra pessoa que tá fazendo. E não é sobre nada disso. É sobre enaltecer músicas que fizeram parte da minha história. E tá sendo um processo muito legal, todas as regravações. Porque por mais que a gente traga uma roupagem com a minha cara, eu busquei ao máximo deixar o álbum raiz. Hoje posso dizer que esse frio na barriga passou.

Para fechar, o que podemos esperar dos próximos lançamentos e da continuidade dessa homenagem às culturas do Norte e Nordeste?

Tem mais regravações de bandas muito grandes a nível Calcinha Preta. Tem uma regravação de uma música que é um dos maiores clássicos da música popular brasileira, saindo da bolha do forró, mas a gente traz essa regravação no álbum. E no próximo EP tem feats icônicos também. E ó, vou dar um spoiler: tem feat com uma banda que mistura uma fruta cítrica com um doce. Fica aí no ar.